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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
27/04/2001 22/12/2000 4 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
109 minuto(s)

Miss Simpatia
Miss Congeniality

Dirigido por Donald Petrie. Com: Sandra Bullock, Michael Caine, Benjamin Bratt, Ernie Hudson, Heather Burns, Steve Monroe, Candice Bergen e William Shatner.

Sandra Bullock é uma gracinha. Pronto, falei. Sei que isso não deveria servir de critério ao analisar um filme, mas é impossível ignorar o fato de que esta atriz é capaz de despertar imediatamente a simpatia do espectador, tornando até mesmo filmes medíocres como A Rede e 28 Dias fáceis de se assistir. Aliás, ela prova ter consciência deste seu `dom` ao decidir produzir Miss Simpatia, um filme talhado para aproveitar ao máximo sua persona cinematográfica.

Aqui, Bullock interpreta Gracie Hart, uma agente do FBI tão `viril` quanto seus colegas de trabalho. Sempre despenteada e deselegante, a garota parece não ter a mínima preocupação com sua aparência - a ponto de ser considerada como `um dos caras` por seus companheiros, que parecem ignorar sua condição de mulher. Porém, isso tudo muda depois que um terrorista ameaça detonar uma bomba durante o concurso de Miss Estados Unidos, o que obriga Gracie a se infiltrar no evento como uma de suas participantes (na verdade, ela é a última pessoa a ser considerada pelos agentes do FBI, que só pensam em seu nome como uma brincadeira). Para ensiná-la a se comportar `como uma dama`, entra em cena Victor Melling (Michael Caine), um antigo consultor de beleza que caiu no esquecimento depois de pressionar em excesso uma aspirante a Miss.

Como acontece em 99% das comédias policiais, a trama policial que serve de pano de fundo para o roteiro é fraca e extremamente previsível (eu já estaria milionário caso ganhasse um centavo a cada vez em que um detetive de Hollywood fosse obrigado a entregar seu distintivo e sua arma aos seus superiores). Além disso, o `misterioso` vilão do filme é absolutamente patético - e seus motivos, ridículos (pense em Willem Dafoe em Velocidade Máxima 2 e terá uma idéia do que estou falando).

Em contrapartida, a parte cômica do filme funciona maravilhosamente bem, já que o roteiro de Marc Lawrence, Katie Ford e Caryn Lucas não poupa nenhuma das ridículas convenções de concursos como o de `Miss Alguma Coisa`, como a competição de `talentos` e as entrevistas com as candidatas (que sempre dizem querer lutar contra a fome e conquistar a paz mundial). Nestas cenas, Bullock brilha ao encarnar o `peixe-fora-d`água`, já que tenta, a todo custo, substituir seu jeitão desleixado por um comportamento mais apropriado.

Aliás, sua interação com o consultor interpretado por Michael Caine é uma das melhores coisas do filme. Você se lembra da seqüência, no excepcional Os Safados, na qual Caine tentava ensinar boas maneiras ao golpista vivido por Steve Martin? Pois o fato é que boa parte desta hilária química é resgatada em Miss Simpatia, apesar da relação entre os personagens de Bullock e Caine jamais ser totalmente desenvolvida, o que é uma pena. Enquanto isso, William Shatner também protagoniza momentos divertidos com seu afetado personagem - o mesmo valendo para Benjamin Bratt e seu cínico agente e para Heather Burns, que interpreta uma fútil (mas bondosa) concorrente ao título de Miss EUA. Infelizmente, a veterana Candice Bergen, que há quatro anos não aparecia nas telonas, não tem muito a oferecer além de sua eterna beleza, já que sua personagem é mal desenvolvida pelo roteiro.

Mas uma coisa é certa: Miss Simpatia pertence mesmo a Sandra Bullock, que realiza uma verdadeira proeza ao convencer o espectador de que é mesmo uma garota deselegante e estabanada. Apesar de jamais conseguir esconder sua beleza (quem a viu em Da Magia à Sedução concordará comigo), Bullock é inteligente ao criar pequenas `muletas` que a auxiliam na tarefa de estabelecer a falta de modos de sua personagem, como o pequeno ronco durante as risadas e a constante mania de limpar os dentes com a língua. Graças a estes recursos, o espectador realmente acredita em sua `milagrosa` mudança ao vê-la bela como sempre.

Apesar de todas as virtudes desta divertida comédia, devo confessar que três pequenos detalhes me irritaram ao longo da projeção: além da obviedade da trama policial, fiquei particularmente aborrecido com a péssima trilha (atenção: não me refiro às músicas, mas sim à trilha incidental) do geralmente medíocre Ed Shearmur, que procura criar pequenos momentos dramáticos a cada vinte minutos. Além disso, fiquei espantado ao perceber que os roteiristas não tiveram o menor pudor ao copiar uma das melhores piadas de Amigos, Sempre Amigos: aquela em que o personagem de Billy Crystal pergunta, assustado: `Ele está bem atrás de mim, não está?`.

Seja como for, este filme cumpre o que promete e provoca boas gargalhadas. Mais um ponto para Sandra Bullock, que prova merecer, assim como sua personagem, o título de Miss Simpatia.
``

3 de Maio de 2001

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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