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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
09/01/1953 30/07/1952 5 / 5 4 / 5
Distribuidora
Duração do filme
85 minuto(s)

Matar ou Morrer
High Noon

Dirigido por Fred Zinnemann. Com: Gary Cooper, Grace Kelly, Lloyd Bridges, Katy Jurado, Thomas Mitchell, Otto Kruger, Lee Van Cleef, Lon Chaney Jr., Harry Morgan.

Matar ou Morrer é um dos faroestes mais tensos que já assisti - e o mais interessante é que nem um tiro sequer é disparado até a seqüência final. A força deste filme reside, completamente, na figura do delegado/xerife William Kane (Gary Cooper) e em suas reações frente a um desafio que ele teme, mas não tenta evitar.


Quando o filme tem início, Kane está se casando com a bela Amy (Grace Kelly) e se preparando para deixar a cidade e o cargo de delegado. Ele já serviu aquela comunidade com extrema competência, tendo sido o `melhor delegado que eles tiveram ou que terão`, como diz um dos proeminentes membro da sociedade local. No entanto, neste dia chegam ao lugarejo três famosos foras-da-lei, que se dirigem diretamente à estação de trem. Um deles é irmão de um terrível assassino que foi preso por Kane cinco anos antes. Quando o delegado recebe um telegrama informando que o bandido foi libertado, já não restam dúvidas: ele vai chegar no trem do meio-dia, o que explica a presença dos outros três sujeitos na estação (e o título original do filme).

Imediatamente todos insistem para que Kane deixe logo a cidade, afinal já são 10:40 e em uma hora e vinte minutos o trem que traz o assassino chegará à estação. Impulsivamente, o delegado parte com sua esposa - somente para retornar logo depois. Ele não consegue fugir.

O tempo é algo de fundamental para este filme. Os minutos transcorrem, na tela, quase em tempo real. Constantemente um relógio surge a fim de lembrar a Kane - e ao espectador - a urgência da situação. Neste ponto, a montagem de Harry W. Gerstad e Elmo Williams não é nada menos do que brilhante. O minuto final, antes da chegada do trem, é uma pequena obra-de-arte que deve ser lembrada em qualquer artigo sobre a história do cinema.

Gary Cooper, como William Kane, tem uma atuação maravilhosa neste filme (que lhe rendeu seu segundo Oscar). O delegado Kane é um homem resoluto, que não pretende abrir mão de seu orgulho frente aos foras-da-lei, mesmo que isso custe sua vida. No entanto, ele não é um destes xerifes unidimensionais que povoam o gênero: ele tem medo, hesita, precisa de ajuda. Kane tem pouco mais de uma hora para conseguir auxílio entre os habitantes do lugarejo, pois ele sabe que quatro homens armados representam a sentença de morte para quem quiser enfrentá-los sozinho. E não é só isso: ele não sabe, exatamente, o porquê de não aceitar deixar a cidade. Orgulho? Preocupação com a população local? Determinação? Estupidez? Sua expressão tensa, carregada durante todo o filme, é um indicativo de seu conflito interior (e não é só isso: Cooper tinha uma úlcera sangrando durante todo o processo de filmagem).

Katy Jurado, como Helen Ramirez, tem a segunda melhor atuação do filme. Ela é uma mulher cercada por uma aura de mistério. Quem é ela? Uma prostituta de `luxo`? Simplesmente a dona do saloon? Independente para a época em que vivia, Helen tivera um envolvimento com Kane, no passado. O que aconteceu entre eles? Qual é a razão do ressentimento que nutrem um pelo outro? Tudo o que sabemos é que estamos diante de uma mulher forte e decidida, que não hesita em suas decisões. Lloyd Bridges, como Harvey Pell, também tem um importante papel na história. Ele oscila entre a raiva que sente por Kane e a culpa por deixar que o delegado lute sozinho contra os pistoleiros. Sem saber o que fazer, ele corre de um lado para outro tentando decidir sua posição. Já Grace Kelly, infelizmente, não tem muitas oportunidades para provar seu talento neste filme. E, nas poucas cenas mais fortes que envolvem sua personagem, ela deixa um pouco a desejar.

É claro que eu não poderia deixar de citar, também, a forte trilha sonora de Dmitri Tiomkin (que atinge seu clímax no minuto final, antes da chegada do trem) e a belíssima música High Noon (Do Not Forsake Me, Oh My Darlin’), também de Tiomkin em parceria com Ned Washington. A música, que acompanha o personagem de Gary Cooper durante todo o filme, cria uma clima de solidão e angústia em torno de Kane, sendo de muita importância para a narrativa.

A direção de Fred Zinnemann é soberba, destacando-se a cena em que a câmera se afasta de Kane, subindo para mostrar o delegado no meio da rua do lugarejo, completamente só. Os enquadramentos, em close-up, dos rostos dos principais personagens (a quem Kane recorreu durante o filme) no minuto final da espera, também é inteligentíssima. Um trabalho de mestre, sem dúvida.

O único `defeito` (se é que podemos chamar assim) de Matar ou Morrer é, justamente, a forma como ocorre o confronto final entre o delegado e os vilões, que não faz jus à toda a tensão criada durante o filme. A `batalha` ocorre de forma rápida demais para funcionar como `recompensa` pela espera angustiante pela qual passou o espectador durante toda a projeção.

Porém, isso não é o suficiente para apagar o brilho deste filme - que foi o primeiro a ensinar que um faroeste poderia ter densidade dramática sem perder suas próprias características. E que lição.
``

22 de Junho de 1998

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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