Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
16/02/1989 | 16/02/1989 | 4 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
94 minuto(s) |
Dirigido por Maurizio Nichetti. Com: Maurizio Nichetti, Caterina Sylos Labini, Federico Rizzo, Matteo Auguardi, Renato Scarpa, Heidi Komarek e Carlina Torta.
Nichetti é um Woody Allen italiano e bigodudo. Dito isso, talvez fique mais fácil entender o tipo de humor que predomina nesta excelente comédia que serve, ao mesmo tempo, como homenagem ao clássico de Vittorio De Sica e como protesto ao desrespeito das emissoras de TV com a obra de grandes artistas.
Neste filme, Nichetti interpreta... Maurizio Nichetti, um diretor cujo filme mais importante, Ladrões de Sabonete, está para ser exibido em uma grande emissora de televisão. O filme em questão conta (não se preocupem, não vou revelar nada importante) a história de um pobre pai-de-família, Antonio, que não consegue arrumar emprego. Certo dia, graças a ajuda do padre da paróquia local, ele consegue um trabalho em uma fábrica da cidade. Sua esposa, Maria, tem um sonho: possuir um lustre de vidro, como os de cinema - justamente igual àqueles que são produzidos na fábrica onde o marido vai trabalhar.
Antonio, homem devotado à esposa, rouba o lustre e, voltando para casa em sua bicicleta, é atropelado por um caminhão, ficando paralítico. Seu filho, Bruno, constrói uma cadeira-de-rodas com os pneus da bicicleta e Maria passa a se prostituir para ajudar a família.
Esta era para ser a história do filme que vai ser exibido. Porém, o diretor vai se irritando cada vez mais com as constantes interrupções da história pelos intervalos comerciais. E, o que é mais estranho: os próprios personagens começam a ficar confusos. E é então que o limite entre a ficção e a publicidade se rompe, e uma modelo de certo comercial vai parar em Ladrões de Sabonete (o filme dentro do filme), mudando totalmente a história. O diretor, alarmado, resolve entrar no filme para consertar tudo, e acaba se metendo em mil confusões.
Antes de mais nada, as referências a Ladrões de Bicicleta são mais do que óbvias: não só pelo título do filme, mas também pelos próprios nomes dos personagens principais. Mas há uma outra forte (e visível) influência: A Rosa Púrpura do Cairo de - adivinhem - Woody Allen, feito quatro anos antes. Mas estas influências não tiram, de forma alguma, a originalidade deste filme. Ao contrário: Nichetti consegue criar situações totalmente novas em cima do velho conceito.
Mas o filme não é só engraçado. É comovente, também. A história do operário Antonio e de sua família é tocante, triste como só os dramas antigos conseguem ser. Se não fosse uma comédia, Ladrões de Sabonete poderia ter sido um drama daqueles capazes de inspirar choros convulsivos. E é justamente isso que torna tão interessante o tratamento dado por Nichetti ao seu material: o contraste dos comerciais com o filme que está sendo exibido não seria tão divertido se a história deste último não fosse verdadeiramente dramática.
As atuações são maravilhosas, com destaque para a jovem atriz Caterine Sylos Labini, como a sofrida Maria, e para o garotinho Federico Rizzo, como Bruno. Os efeitos visuais são outra atração à parte: a interação entre o filme (em preto-e-branco) e os comerciais (a cores) é fantástica, quase mágica. A bela fotografia de Mario Battistoni também merece ser observada.
Ladrões de Sabonete é uma comédia cada vez mais rara nos dias de hoje: inteligente, tocante e, é claro, muito divertida. E se alguma emissora de televisão resolver estraçalhá-la quando for exibi-la, é um alívio saber que o ótimo diretor Nichetti estará de prontidão para defender sua obra - nem que seja preciso entrar no filme para isso.
26 de Novembro de 1997