Seja bem-vindx!
Acessar - Registrar

Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
17/07/2001 01/01/1970 2 / 5 3 / 5
Distribuidora
Duração do filme
112 minuto(s)

O Homem Sem Sombra
Hollow Man

Dirigido por Paul Verhoeven. Com: Kevin Bacon, Elisabeth Shue, Josh Brolin, Kim Dickens, Greg Grunberg, Joey Slotnick, Mary Randle, Rhona Mitra e William Devane.

Não há escapatória: as melhores seqüências de O Homem Sem Sombra são aquelas que abusam dos excepcionais efeitos visuais que lidam com o `desaparecimento` do personagem principal e com o `reaparecimento` de uma gorila. Nestas duas cenas, temos a oportunidade de assistir a uma impressionante aula de anatomia à medida em que o `soro da invisibilidade` e seu antídoto percorrem os sistemas circulatórios destas duas cobaias (e, como alguém que cursou até o oitavo período de Medicina, posso atestar a precisão do que é visto na tela).

Dirigido por Paul Verhoeven, o filme gira em torno de uma experiência ultra-secreta conduzida por um grupo de cientistas liderado pelo brilhante Sebastian Caine, que busca reverter os efeitos de um `soro da invisibilidade` encomendado pelos militares (`Enviar as cobaias para a Terra do Nunca foi fácil. Difícil é trazê-las de volta`, ele explica em certo momento). Depois de solucionar o problema e recuperar a visibilidade de vários animais, o sujeito resolve submeter-se à experiência. Infelizmente, o antídoto não funciona e o Dr. Caine é condenado a permanecer invisível por um tempo indeterminado...

O grande problema de O Homem Sem Sombra é, sem dúvida alguma, o fraco roteiro de Andrew W. Marlowe (o mesmo `gênio` responsável por Fim dos Dias e Força Aérea Um): apesar de partir de uma premissa interessantíssima, a história não consegue encontrar uma forma inteligente de explorar o tema, optando, ao invés disso, por transformar Caine em um assassino cruel que resolve caçar seus antigos colegas em um laboratório isolado do mundo (os `sensores de movimento`, aliás, foram obviamente plagiados da série Alien). Para complicar ainda mais, os diálogos concebidos por Marlowe são sofríveis e não possuem a menor sutileza (para apresentar uma personagem, por exemplo, o roteirista usa o velho clichê de fazer alguém perguntar `Por que eu a contratei?`, somente para ouvir a resposta: `Você disse que queria a melhor veterinária do país`. Curioso... eu achei que o melhor veterinário já tivesse sido contratado pelo milionário de Parque dos Dinossauros...). Além disso, os personagens são absurdamente formulaicos, permitindo que o espectador deduza, desde o início, quem irá morrer ou sobreviver ao longo do filme.

Porém, a principal falha de O Homem Sem Sombra é não justificar, de maneira plausível, o enlouquecimento do protagonista: será que a instabilidade psicológica foi provocada pelo `soro` ou pelo fato do cientista não conseguir se enxergar (o que o afastaria da realidade)? Ou será que Caine sempre teve uma tendência psicótica (algo sugerido nas cenas iniciais)? Ou será que ele simplesmente não conseguiu suportar a culpa decorrente de seu primeiro ato de crueldade, fruto de um impulso momentâneo? O filme não se preocupa em responder estas questões, como se a origem do violento comportamento de Sebastian Caine não fosse importante.

E o mais irônico é que Marlowe tinha à disposição uma `desculpa` óbvia para as mudanças nas atitudes do protagonista: afinal de contas, seria enlouquecedor viver sem ser visto. Imagine as dificuldades impostas por esta condição: andar nas ruas se tornaria tarefa quase impossível; a falta de uma referência visual faria com que o `homem invisível` perdesse boa parte da coordenação motora, derrubando objetos e trombando em móveis; e até mesmo dormir seria complicado, já que as pálpebras transparentes não impediriam a passagem da luz (por falar nisso, sinto-me na obrigação de salientar que alguém nestas condições se tornaria cego, já que a luz não seria captada pelas retinas - mas compreendo que isto complicaria imensamente a tarefa do roteirista e, portanto, é perdoável que o problema tenha sido ignorado). O fato é que até mesmo o medíocre Memórias de um Homem Invisível conseguiu explorar melhor estas questões (isto para não mencionarmos o livro de H.G. Wells, que, curiosamente, sequer é citado nos créditos de O Homem Sem Sombra).

Apesar de tudo, este filme ainda consegue despertar o interesse do espectador graças a três fatores: os efeitos visuais, a boa direção de Paul Verhoeven e a ótima atuação de Kevin Bacon. Com relação a este último, compreendo que parece curioso salientar a interpretação de alguém que passa a maior parte da história sem ser visto, mas o fato é que o ator é hábil ao utilizar suas primeiras cenas para estabelecer a personalidade arrogante e o distorcido senso de humor de Sebastian Caine - com isso, o personagem causa uma forte impressão e jamais deixa de estar presente. Em contrapartida, Elisabeth Shue está péssima no papel de Sigourney Weaver (sim, é difícil ignorar a influência de Aliens): a atuação da moça é tão equivocada que ela chega a se esquecer de `sentir frio` na cena em que sua personagem é presa em uma câmara frigorífica. Em função disso, devo confessar que acabei `torcendo` pelo vilão - muito mais carismático e divertido.

No aspecto técnico, cabe ressaltar a boa trilha sonora de Jerry Goldsmith e a excelente qualidade do som. Porém, o ponto forte de O Homem Sem Sombra reside mesmo nos impressionantes efeitos visuais, que certamente serão lembrados no Oscar 2001. Com relação a Paul Verhoeven, devo dizer que o cineasta consegue criar uma boa dose de suspense a partir de um roteiro extremamente previsível, o que já é uma proeza - além de injetar grande dose de sensualidade na insossa história (sexo é sempre um tema importante nos filmes do diretor).

Apesar de não empolgar, O Homem Sem Sombra merece uma conferida. O filme pode até não prender o espectador na cadeira, mas as duas seqüências citadas no início deste texto certamente merecerão seus aplausos.
``

4 de Outubro de 2000

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

Para dar uma nota para este filme, você precisa estar logado!