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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
17/07/2001 06/08/1999 2 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
121 minuto(s)

Heróis Muito Loucos
Mystery Men

Dirigido por Kinka Usher. Com Ben Stiller, Hank Azaria, William H. Macy, Janeane Garofalo, Paul Reubens, Kel Mitchell, Claire Forlani, Greg Kinnear, Tom Waits, Wes Studi, Lena Olin, Ricky Jay e Geoffrey Rush.

É realmente uma pena ver uma idéia tão promissora como a de Heróis Muito Loucos ser desperdiçada graças a um roteiro fraco que não sabe reconhecer o potencial dos personagens com os quais está lidando. Se tivesse sido abordada da maneira correta, esta trama poderia ter gerado mais uma ótima franquia para a Universal. Ao invés disso, os produtores deste filme parecem ter se preocupado muito mais em investir no visual do projeto do que em seu conteúdo. O resultado, como não poderia deixar de ser, é uma bagunça que, apesar de plasticamente irrepreensível, não consegue ultrapassar a fronteira da mediocridade.

A história se passa em Champion City, uma cidade futurística que se vê livre da criminalidade graças aos contínuos esforços do Capitão Incrível, um clone canastrão do Super-Homem. Seu sucesso é tão grande que o herói chega a vender espaço publicitário em seu uniforme, o que o deixa milionário. Infelizmente para ele, a falta de novos vilões acaba levando a um desinteresse geral por suas atividades e, assim, ele começa a perder seus patrocinadores (a Pepsi é a primeira a retirar o apoio). Desesperado, o Capitão Incrível resolve apoiar a libertação de um de seus maiores inimigos, Casanova Frankenstein, que encontra-se preso em um hospício. No entanto, tudo acaba se complicando quando uma das primeiras providências do bandido é justamente a de seqüestrar o herói, deixando Champion City à mercê de suas vontades.

É quando entra em cena um grupo de aspirantes a heróis liderado pelo Sr. Furioso - um sujeito cujo `poder secreto` é ficar extremamente zangado quando provocado. Os outros dois integrantes do grupo, Rajá Azul (Azaria) e Escavador (Macy), possuem habilidades igualmente inúteis: enquanto este último é capaz de lutar com uma pá, o primeiro atira garfos com uma pontaria incrível. Juntos, eles vêm tentando se estabelecer como super-heróis há doze anos, o que desagrada imensamente à esposa do Escavador. Porém, logo os desajeitados amigos percebem que salvar o Capitão Incrível será uma ótima oportunidade para que finalmente sejam reconhecidos pela mídia e, para auxiliá-los na tarefa, convocam mais alguns companheiros renegados: Ventoso (Reubens), cujos gases podem derrubar qualquer homem; Lançadora (Garofalo), que arremessa uma bola de boliche `recheada` com o crânio de seu pai; e, finalmente, o Garoto Invisível (Mitchell), que só consegue desaparecer quando ninguém está olhando para ele. Inexperientes, eles são treinados pelo Esfinge (Studi), um sujeito cujos ensinamentos se resumem a frases de efeito (`Aquele que questiona o treinamento só se treina em fazer perguntas`, ele diz ao ser confrontado pelo impaciente Sr. Furioso).

Com um grupo de super-heróis como esse, o roteirista Neil Cuthbert (Abracadabra) poderia ter criado situações hilárias ao explorar a inutilidade de seus poderes e o esforço de cada um deles para se tornar um justiceiro de verdade. As boas idéias estão todas lá: a descrente família do Escavador; os trocadilhos de Rajá Azul (que são ainda mais prejudicados pela tradução; o temperamento explosivo de Furioso; a ingênua canastrice do Capitão Incrível; as armas `não-letais` utilizadas pelo grupo; e por aí afora. Vejamos, por exemplo, a cena em que os amigos organizam um churrasco para recrutarem novos heróis: a comicidade do momento, que poderia ser ressaltada pela apresentação de uma infinidade de desajustados, jamais é aproveitada de maneira satisfatória: o máximo que Cuthbert consegue criar é uma Garota TPM que, mal-humorada, só aceita trabalhar quatro dias por semana. O próprio vilão interpretado por Geoffrey Rush é solenemente ignorado pelo roteiro, jamais representado uma ameaça grande o bastante para que temamos pelos heróis (seu `poder secreto` se resume a uma afiada unha dourada, com a qual ameaça a mocinha do filme).

Apesar de tudo, Heróis Muito Loucos possui seus bons momentos. Há uma cena, em particular, que ilustra claramente o que este filme poderia ter sido: ao discutir sobre a identidade secreta do Capitão Incrível, o Sr. Furioso afirma que o herói se esconde sob o nome do milionário Lance Hunt. `Ora, não comece com isso novamente!`, protesta o Escavador. `Lance Hunt usa óculos. O Capitão Incrível, não`. `Ele tira os óculos quando se transforma`, retruca Furioso, para escutar em seguida: `Isso não faz o menor sentido. Ele não conseguiria enxergar!`. Sejamos sinceros: quem nunca se perguntou sobre o porquê de Lois Lane jamais perceber que Clark Kent e o Super-Homem são a mesma pessoa?

Outro ponto forte do filme é seu elenco: Ben Stiller está mais hilário do que nunca como o estourado Furioso, enquanto Azaria arranca boas risadas com seu afetado sotaque britânico. Garofalo, a única mulher do grupo, também se destaca nas cenas em que conversa com o crânio do pai. No entanto, os melhores momentos do filme são aqueles protagonizados pelo Capitão Incrível, e é realmente uma pena que a participação de Greg Kinnear seja tão pequena. Em contrapartida, Geoffrey Rush está desperdiçado e seu vilão não consegue despertar temor nem provocar o riso.

A direção da estreante Kinka Usher, por sua vez, é fraquíssima. Em primeiro lugar, ela parece não possuir o menor timing cômico, desperdiçando ótimas piadas graças às escolhas inadequadas que faz (como na cena que retrata o destino do Capitão Incrível, onde o que deveria ser hilário acaba se tornando apenas assustador). Além disso, o constante uso de câmera subjetiva (ou seja: que mostra o ponto-de-vista de determinado personagem) arruína vários bons momentos, como no instante em que o Escavador conversa com sua esposa na cozinha. Por outro lado, o diretor de arte Barry Chusid merece os parabéns pela fantástica Champion City, que também é belissimamente fotografada por Stephen H. Burum. Além disso, não posso deixar de destacar os figurinos de Marilyn Vance.

É como eu disse no começo: é impossível repreender a estética de Heróis Muito Loucos, já que o filme é muito bonito de se assistir. Infelizmente, ouvi-lo é tarefa menos agradável. Apesar de tudo, fico torcendo para que a Universal invista em uma continuação, já que o potencial desta patética `Liga da Justiça` é inquestionável. Tratados com carinho, estes super-heróis ainda conseguiriam arrancar muitas gargalhadas - isso se não tiverem que enfrentar novamente a falta de talento de um roteirista medíocre, que, neste caso, provoca mais estragos que a kriptonita.
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17 de Julho de 2000

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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