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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
27/02/1998 19/09/1997 4 / 5 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
91 minuto(s)

Ou Tudo Ou Nada
The Full Monty

Dirigido por Peter Cattaneo. Com: Robert Carlyle, Tom Wilkinson, Mark Addy, Paul Barber, Steve Huison, Hugo Speer, Emily Woof, Lesley Sharp e William Snape.

Dos cinco filmes indicados ao Oscar de Melhor Filme de 1997, Ou Tudo Ou Nada é, provavelmente, o mais sensível. Ao mesclar momentos absolutamente cômicos com outros mais reflexivos e intimistas, Peter Cattaneo construiu um dos filmes mais `diferentes` do ano.

Sim, diferente. Ele não segue a cartilha do humor certinho de Melhor É Impossível, nem a linha `drama pessoal` de Gênio Indomável, tampouco o gênero `romance` que marca Titanic. Não, Ou Tudo Ou Nada é uma mistura de tudo isso. Cenas hilárias são seguidas por outras melancólicas, que cedem a vez ao bom humor, novamente. E nesse jogo alegria-melancolia o filme vai se construindo.

Gaz (Carlyle) é um homem divorciado que não consegue pagar a pensão alimentícia da ex-esposa. Em função disso, é proibido de ver o filho que tanto ama. No entanto, arrumar emprego não é coisa fácil onde Gaz vive, desde que as indústrias que antes empregavam toda a população abandonaram a cidade. Assim, ele e seu melhor amigo David (Addy) passam os dias jogando baralho em uma agência de empregos.

É quanto um show de strippers masculinos vai a cidade e leva as mulheres do lugar à loucura. Gaz resolve, então, montar um `Clube de Mulheres` com alguns amigos, apenas por uma noite. O que eles prometem? Fazer o `full monty` do título original - ou seja, tirar toda a roupa. Assim, Gaz e David pedem ajuda a um conhecido, Gerald (Wilkinson), que não teve coragem de contar a esposa que está desempregado há seis meses. Juntos, os três homens passam a selecionar `dançarinos` entre a população de desempregados da cidade a fim de produzirem o tal show. Um deles, por exemplo, tem a mania de tentar imitar a `cambalhota` que Donald O’Connor dá em Cantando na Chuva, usando a parede como escora. No entanto, nunca consegue aterrissar com os pés no chão.

A história passa, então, a girar em torno das relações entre estes seis homens cujas vidas são entrelaçadas pela vontade comum de abandonar o desemprego. Ou Tudo Ou Nada poderia, na realidade, ter sido um drama, se não fosse a decisão tomada por estes homens. O humor vem justamente do fato destes seis sujeitos desengonçados (um é magro, o outro é gordo, dois são velhos e todos são feios) decidirem que seus corpos nus poderiam atrair centenas de mulheres a uma boate.

Aliás, o roteiro de Simon Beaufoy tem, aí, outro ponto forte: a maneira como estes homens lidam com o fato de não serem exatamente `padrões de beleza`. O personagem de Addy, por exemplo, não consegue sequer manter relações sexuais com sua esposa, mais. Ele sente vergonha pelo que representa, pelo que é, por sua gordura.

Os ensaios do grupo são divertidíssimos: além de tudo, eles também não sabem dançar (à exceção de Gerald, o `professor` dos demais). A trilha sonora (que inclui Donna Summer, entre outros) é impecável, conferindo o ritmo que dá o `tom` ao filme. A direção de Cattaneo é hábil ao não dar maior destaque a um personagem do que a outro: todos são fundamentais para o filme, bem como para o `show`.

Ou Tudo Ou Nada é, em suma, um filme divertido, sensível e inteligente. Não possui o humor leve de Melhor É Impossível, mas também faz rir. E, além disso, possui um elo com a realidade que falta ao filme de James L. Brooks. Em algum lugar do mundo pode ser que existam seis homens dispostos a realizarem o `full monty` a fim de conseguirem um `emprego`. Esta é, aliás, a maior ironia deste filme: a única maneira que os protagonistas encontram de recuperar sua dignidade é tirando a roupa. Mas a vida não é repleta dessas peças?
``

24 de Março de 1998

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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