Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
25/09/1998 | 07/08/1998 | 3 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
98 minuto(s) |
Dirigido por Brian De Palma. Com: Nicolas Cage, Gary Sinise, John Heard, Carla Gugino, Stan Shaw, Kevin Dunn, Michael Rispoli, Luis Guzmán.
Brian De Palma gosta de brincar com suas câmeras. Desde Carrie, a Estranha ele vem fazendo isto de maneira brilhante. Seus enquadramentos e os movimentos de câmera, associados a uma montagem eficaz, revelam-se capazes de realizar verdadeiros milagres. Basta lembrarmo-nos da seqüência em que Sean Connery é baleado em Os Intocáveis ou do momento em que o Carlito Brigante de Al Pacino senta-se em uma mesa para conversar com três mafiosos em O Pagamento Final enquanto a câmera percorre os rostos de seus interlocutores que, apesar de mostrarem-se afáveis, pretendem matá-lo assim que possível.
Em Olhos de Serpente, Brian De Palma mais uma vez rouba as cenas. O roteiro mediano de David Koepp e as interpretações requentadas de Nicolas Cage e Gary Sinise não são páreo para o inteligente exercício de estilo praticado pelo diretor neste filme.
Aqui, Cage interpreta Nick Santoro, um policial corrupto e falastrão que vai, certa noite, assistir a uma disputa de boxe a convite de seu melhor amigo, o guarda-costas Kevin Dunne (Sinise), que trabalha para o Ministro de Defesa dos EUA. Durante a luta, no entanto, o Ministro é baleado e Santoro acaba descobrindo que houve uma conspiração para assassinar o sujeito.
O filme se passa todo no interior do Cassino onde a luta ocorreu e segue a investigação de Santoro, que dura apenas algumas horas. É aí que De Palma começa a brilhar: trabalhando com um cenário relativamente limitado, ele constrói uma história envolvente e ágil, capaz de prender a atenção do espectador justamente por explorar, ao máximo, os sets de filmagem. Tenho que destacar, aqui, a seqüência na qual a câmera `voa` por sobre vários quartos de hotel, mostrando o que seus ocupantes estão fazendo, até chegar ao quarto do personagem que dará continuidade à história.
No entanto, a maior atração de Olhos de Serpente está na maneira como De Palma desenvolve a trama: a cada novo testemunho fornecido para o detetive de Nicolas Cage, a câmera recria as mesmas seqüências mostradas anteriormente, só que agora vistas de um outro ângulo - o do personagem que as está narrando. Assim, pouco a pouco vamos percebendo detalhes sutis que não havíamos notado antes ou aos quais não havíamos dado a devida importância.
Nicolas Cage e Gary Sinise, dois ótimos atores, nada mais fazem do que `requentar` personagens antigos. Enquanto Sinise praticamente revive o policial que interpretou em O Preço de um Resgate, Cage cria uma espécie de combinação entre os dois personagens que viveu em A Outra Face: o policial esperto e ligado em detalhes e o bandido frenético e cafona.
A montagem de Bill Pankow, colaborador habitual de Brian De Palma, contribui para o ritmo da história e potencializa ainda mais os movimentos de câmera do diretor. Um exemplo claro do sinergismo obtido entre montagem e movimentos de câmera pode ser visto na seqüência em que os personagens de Nicolas Cage e Gary Sinise perseguem, sem perceberem a presença um do outro, a mesma mulher no interior do cassino. Aliás, ponto para o design de produção de Anne Pritchard: todo o complexo que abriga o ringue, o hotel e o cassino é maravilhosamente bem pensado, permitindo que o espectador tenha uma clara percepção do que está acontecendo, o que é fundamental para que as perseguições ao longo da história criem a tensão desejada.
No mais, Olhos de Serpente fica a desejar. Um ponto que eu, pessoalmente, gostaria que tivesse sido desenvolvido de maneira mais profunda é a amizade que o herói e o vilão mantém um com o outro (não se preocupem, o roteiro não faz segredo sobre a verdadeira identidade do bandido). É interessante observar o conflito que ambos vivem ao descobrirem que terão que enfrentar justamente o melhor amigo que possuem no mundo. Pena que o roteiro aborda esta situação de maneira superficial. A trama só teria a ganhar com isso.
7 de Outubro de 1998