Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
17/10/1997 | 04/04/1997 | 3 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
113 minuto(s) |
Dirigido por Kevin Smith. Com: Ben Affleck, Joey Lauren Adams, Jason Lee, Dwight Ewell, Jason Mewes, Kevin Smith, Carmen Lee, Matt Damon, Tony Torn.
Não é difícil perceber quando um filme foi feito com carinho. Procura-se Amy é um exemplo claro disso. O assunto ali abordado é muito importante para o diretor/roteirista Smith (uma das grandes promessas que surgiram recentemente através do cinema independente). Para começar, a protagonista deste filme (que gira em torno das dificuldades dos relacionamentos amorosos) é a namorada do diretor. `Não é segredo que as origens de Procura-se Amy residem em meu relacionamento com Joey.`, declara Smith sobre o filme. Preciso dizer mais alguma coisa?
O problema é que o filme precisa. O roteiro de Smith, apesar de repleto de diálogos inteligentes, perde em emoção. A história fica presa entre a necessidade de fazer rir (pois é uma comédia, afinal de contas) e a intenção de fazer refletir. Enquanto os personagens dizem coisas como `Você é o epítome de tudo aquilo que sempre procurei em um ser humano.`, suas atitudes refletem uma imaturidade e, por vezes, uma insegurança que não se encaixam no todo. É como se o roteiro quisesse encaixar personagens de ficção em situações realmente angustiantes. Elas se comportam como personagens, e não como pessoas de verdade.
E é esse o grande pecado do filme. Enquanto o espectador se identifica com a dúvida de Holden McNeil (Affleck) quanto ao que ele deve fazer sobre o passado de sua amada Alyssa (Lauren Adams), esta `identificação` não pode ser completamente estabelecida já que o tal passado envolve uma situação tão ridiculamente irreal como as tais `algemas chinesas` (quem viu o filme sabe a que estou me referindo - não seria justo contar o que isso significa...).
Da mesma forma, o roteiro constrói situações intrigantes para, depois, arruiná-las com saídas completamente imbecis. Confesso ter ficado absolutamente decepcionado com a `idéia` que surge na cabeça de Holden quanto ao que fazer sobre seus relacionamentos com Alyssa e com seu velho amigo Banky (Lee), mais ao final do filme. A `idéia`, em si, é tão forçada e patética que cheguei a pensar que a cena não passava de um sonho do personagem. Não era.
Aliás, não é de espantar que a única cena que realmente `fala ao coração` é aquela protagonizada pelo próprio Kevin Smith. Ela acontece na lanchonete, quando Jay e Silent Bob (dois personagens que aparecem em todos os filmes de Smith) conversam com Holden. O monólogo de Silent Bob (Smith) sobre Amy (explicando, inclusive, a razão do título do filme) é absolutamente comovente e divertido ao mesmo tempo. Aquela cena, em particular, resume tudo o que este filme poderia ter sido.
Outra cena especialmente feliz é aquela em que Holden e Alyssa discutem durante um jogo de hóquei, e a briga do casal é intercalada com a briga entre dois jogadores, numa analogia do que está acontecendo no espírito dos dois amantes naquele momento.
Quanto aos momentos de humor, bem... o filme consegue arrancar algumas risadas, é claro (como na cena em que Alyssa diz para Banky: `Para você, transar significa estar dentro de uma garota que mal conhece, entrando e saindo à vontade, sem sequer notar o ar entediado nos olhos dela.`. Ao que ele responde, revoltado: `Ei! Eu sempre noto o ar entediado nos olhos delas!`).
Mas em sua grande parte o filme não diz a que veio. Se pretendia fazer rir, não consegue com freqüência (apesar de ser divertido de se assistir). Se pretendia fazer refletir, faltou eloqüência. Se a intenção era contar uma história de amor incomum... bem, há romances melhores e piores do que este.
No mais, foi um passatempo como outro qualquer. Se não me acrescentou nada, também não fiquei arrependido de ter passado duas horas em frente à televisão. Mas tenho certeza que Kevin Smith pode fazer melhor do que isso.
Observação: preste atenção no jovem executivo que está sentado em cima de uma mesa na cena em que Holden e Banky recebem a proposta de transformarem seus personagens de quadrinhos em personagens de desenho animado: o jovem em questão é ninguém menos que Matt Damon, amigo de Affleck.
28 de Fevereiro de 1998