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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
30/04/1999 23/10/1998 4 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
124 minuto(s)

Pleasantville - A Vida em Preto-e-Branco
Pleasantville

Dirigido por Gary Ross. Com Tobey Maguire, Reese Witherspoon, Jeff Daniels, Joan Allen, William H. Macy, J.T. Walsh, Jane Kaczmarek e Don Knotts.

Como em toda fábula que se preza, Pleasantville é um filme repleto de fantasia, pequenas lições de vida e de personagens comuns presos em um mundo `paralelo`. Na verdade, a história até mesmo começa com o clássico `Era uma Vez...`. Nada mais apropriado.

Aqui, Tobey Maguire interpreta David, um adolescente dos anos 90 que é fã incondicional de um antigo seriado de TV da década de 50, Pleasantville. Ele tem uma irmã, Jenniffer - uma jovem fútil que está interessada em um rapaz igualmente fútil (a conversa que o casal tem, logo no início do filme, é hilária, sendo repleta de expressões do tipo `Maneiro!` e `Beleza!`). Certa noite, depois que a mãe dos dois viaja para fora da cidade a fim de encontrar um rapaz oito anos mais jovem do que ela, David e Jennifer começam a brigar pela posse do controle remoto da TV: ela quer assistir a MTV, enquanto ele, a maratona 24 horas de Pleasantville. Durante a discussão, porém, o controle é atirado na parede e acaba se quebrando.

Instantaneamente, surge um técnico de televisão (Don Knotts), que entrega para o rapaz um novo (e estranho) controle remoto. Logo em seguida, Jennifer e David são transportados para dentro do seriado em preto-e-branco e descobrem ter assumido o lugar dos filhos do casal George e Betty Parker, personagens que protagonizam a série, passando a viver, então, na pacata Pleasantville.

Esta cidadezinha merece, aliás, lugar garantido na lista de cidades clássicas do cinema, como Hill Valley (da série De Volta para o Futuro), Bedford Falls (A Felicidade Não se Compra) e Superior (Reviravolta). Habitada somente por famílias brancas de classe média, onde ninguém precisa usar o banheiro e todos são extremamente felizes, Pleasantville é a síntese perfeita das cidades retratadas na maioria dos seriados americanos da época. Isso até que o casal de jovens dos anos 90 começa a mudar a cabeça dos cidadãos locais, apresentado-os ao sexo (um aperto de mãos era a maior liberdade permitida até então), à literatura (os livros da biblioteca municipal só tinham páginas em branco), ao Rock`n Roll (somente Johnny Mathis podia ser ouvido) e ao mundo exterior (as aulas de geografia da escola abordavam somente a topografia das ruas da cidade).

À medida em que as pessoas vão mudando de pensamento, porém, algo estranho começa a acontecer: elas vão se tornando coloridas, contrastando imensamente com o mundo em preto-e-branco no qual viviam até então. E é aí, precisamente, que começa a magia do filme: pessoas e objetos acinzentados passam a conviver, subitamente, com outros coloridos, num exemplo magnífico de emprego adequado de efeitos visuais ao se contar uma história - aqui, os efeitos são utilizados em favor da narrativa e não a despeito desta, como tem se tornado tão comum no cinemão americano. A prova cabal disso reside no seguinte fato: depois de um certo tempo, o espectador chega mesmo a esquecer dos efeitos e passa realmente a acreditar naquele mundo que mescla cores e tons de cinza - num trabalho belíssimo do diretor de fotografia John Lindley.

Porém, Pleasantville não brilha somente na parte técnica: o roteiro, escrito pelo diretor Gary Ross, é recheado de diálogos afiados e situações hilariantes que retratam perfeitamente o conflito dos habitantes da cidadezinha provocado pelas mudanças súbitas. Aliás, esta história também não se furta à infalível `lição-de-moral` que sempre permeia as fábulas: afinal, não é o sexo o principal responsável pelas mudanças nas cores dos personagens, e sim a capacidade adquirida por eles em aceitar seus próprios desejos, por mais `inadequados` que estes lhe pareçam.

Joan Allen está, mais uma vez, soberba. Sua Betty Parker é uma típica dona-de-casa da década de 50 que, de repente, descobre possuir sonhos maiores do que passar a vida cozinhando para o marido - num processo que acaba acarretando sofrimentos inesperados. Além de Allen, Jeff Daniels destaca-se entre o talentoso elenco. Já familiarizado com o tema (afinal, seu trabalho em A Rosa Púrpura do Cairo não era tão diferente assim), Daniels cria um personagem sensível e frágil que, inicialmente, mostra-se totalmente perdido quando David se atrasa para o trabalho, modificando o `roteiro` do seriado. No entanto, seria injusto não mencionar os ótimos desempenhos de Tobey Maguire, Reese Witherspoon, William H. Macy (sempre fabuloso!) e J.T. Walsh (aqui em seu último trabalho). Vale citar, também, a escolha mais do que apropriada de escalar o veterano em seriados de TV Don Knotts para interpretar o técnico que envia o jovem casal para dentro da televisão.

Apesar de deixar muitas perguntas sem resposta (Quem era o tal técnico? Por que ele enviou David para dentro do seriado? Como ele fez isso?) e de ser um pouco longo demais, A Vida em Preto e Branco acaba se revelando um dos filmes mais inteligentes de 1998 e é realmente uma pena que não tenha recebido maior atenção por parte do público americano - que com certeza teria saído do cinema um pouco mais `colorido` do que quando entrou. 
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19 de Maio de 1999

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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