Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
16/06/1969 | 30/07/1969 | 4 / 5 | 4 / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
113 minuto(s) |
Dirigido por John Schlesinger. Com Jon Voight, Dustin Hoffman, Sylvia Miles, Brenda Vaccaro, Barnard Hughes.
A edição de Assassinos por Natureza, de Oliver Stone, tem sido considerada uma das grandes responsáveis pelo sucesso do filme. Inventiva, ágil, alucinante, original - estes são alguns dos adjetivos aplicados a ela. Concordo com quase todos - exceto com o `original`. Vários filmes anteriores a NBK (a sigla para Natural Born Killers, o título original de Assassinos...) já utilizaram a técnica de intercalar tomadas feitas em Super 8 com outras em 35mm, preto-e-branco e coloridas, e por aí afora. Um exemplo é este magnífico Perdidos na Noite.
A história, que pode não parecer atraente à primeira vista, é a seguinte: Joe Buck (Voight) é um rapaz que resolve se mudar para Nova York a fim de fazer michê. No entanto, ao chegar na cidade grande, percebe que nem tudo é tão fácil quanto parecia à primeira vista, e ele custa a conseguir sua primeira `cliente`. Quando finalmente consegue, tudo sai errado: ela fica magoada ao descobrir que ele é um garoto de programa e, depois de uma crise de choro, acaba pedindo 20 dólares emprestados para o ingênuo rapaz. É então que ele conhece Enrico `Ratso` Rizzo (Hoffman), um mendigo aleijado que consegue roubar-lhe mais 20 dólares.
Buck afunda de vez: sem dinheiro, acaba sendo expulso do hotel em que estava hospedado e, já desesperado, aceita um `cliente` homossexual - um forte golpe para o conceito de `machão` que tem de si mesmo. Mas novamente tudo sai errado: o assustado rapaz não tem dinheiro para pagar a pequena sessão de sexo oral. Buck reencontra, então, o mendigo Ratso e, ao contrário do esperado, torna-se seu amigo e vai dividir um `quarto` com ele em um edifício abandonado.
Sim, eu sei. Isso não soa nem um pouco como um filme capaz de arrebatar o Oscar de Melhor Filme. Na verdade, Perdidos na Noite foi o único filme considerado X-rated pela censura americana que já ganhou este prêmio. Mas isto em 69. Hoje em dia, provavelmente seria considerado como `censura 14 anos`.
Mas Perdidos... não é um filme sobre sexo. É antes um mergulho nos recantos mais sombrios das grandes cidades: o obscuro universo da pobreza e da mendicância. Ratso é um sobrevivente deste mundo. Quando Buck, depois de ganhar algum dinheiro doando sangue, compra certos itens (não me lembro quais no momento) para Ratso, este diz: `Por que não me disse que queria isso? Eu teria roubado para você`. Viver não é tarefa fácil para estes homens.
Ambas as interpretações são pequenas obras-de-arte. Hoffman, como Enrico Rizzo, brilha com sua voz anasalada, seu andar trôpego e seus olhares sonhadores (a cena em que ele sonha acordado com uma nova vida na Flórida é maravilhosamente comovente). E Voight, como Buck, também acha o tom perfeito: uma mistura de ingenuidade com amarga dureza adquirida durante as experiências na grande cidade. A transição de Buck - de um inofensivo caipira a um agressivo `quase-marginal` - é narrada com tamanha destreza que, quando nos damos conta dela, já ocorreu.
Sylvia Miles, que interpreta a primeira cliente de Buck em Nova York tem uma aparição rápida, porém forte. É tão intensa sua interpretação que Miles foi indicada ao Oscar de Atriz Coadjuvante por seus menos de 10 minutos de participação no filme.
O problema é que, em alguns poucos momentos, a narrativa fica um pouco lenta. Em outros, ligeiramente confusa (como os flashbacks que revelam um pouco do passado de Buck). Fora isso, Perdidos na Noite é um filme exemplar que deve ser visto por todos aqueles que apreciam o bom cinema.
21 de Janeiro de 1997