Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
07/09/2000 | 21/07/2000 | 3 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
130 minuto(s) |
Dirigido por Robert Zemeckis. Com: Michelle Pfeiffer, Harrison Ford, Diana Scarwid, Joe Morton, James Remar, Miranda Otto, Katharine Towne e Amber Valletta.
Robert Zemeckis sempre foi um diretor técnico: seus movimentos de câmera são inventivos, seus enquadramentos são irrepreensíveis e sua paixão por efeitos visuais geralmente rende bons resultados. Em Revelação, o cineasta prova ter feito seu dever-de-casa ao empregar alguns truques clássicos do cinema de suspense e terror, como personagens que surgem do nada e sombras que cobrem seletivamente os cantos mais assustadores do cenário. Infelizmente, os vários sustos espalhados ao longo da projeção não conseguem esconder o fato de que o cineasta estava trabalhando com um roteiro fraco e previsível.
Neste filme, Michelle Pfeiffer interpreta Claire, uma mulher que passa a observar estranhos fenômenos em sua casa depois que sua filha parte para a faculdade. Temerosa, ela tenta convencer o marido (Ford), um geneticista renomado, de que há um fantasma assombrando seu lar, mas o sujeito simplesmente a ignora, julgando tratar-se de um simples caso de carência afetiva. No entanto, à medida em que os fenômenos passam a ocorrer com maior intensidade, ele resolve levar a esposa a um psiquiatra - sem saber que seus problemas estão apenas começando...
A primeira hora de Revelação é, sem dúvida, a melhor parte do filme. Além da ótima química entre Ford e Pfeiffer, a trama se beneficia do forte clima de suspense criado por Zemeckis, que utiliza todos os recursos disponíveis para a tarefa: sussurros à distância, névoa intensa, objetos que caem sozinhos e assim por diante. Nada muito original, claro, mas o resultado é eficaz.
Na verdade, o diretor vai além ao fazer referências a várias obras do mestre Alfred Hitchcock, como Janela Indiscreta e Psicose (a personagem de Pfeiffer chega a arrancar a cortina de seu chuveiro de maneira idêntica a de Janet Leigh no clássico de 1960). Aliás, até mesmo a trilha sonora de Alan Silvestri faz sua homenagem ao compositor Bernard Herrmann, favorito de Hitchcock, ao incorporar elementos do famoso tema de Psicose (algo bem evidente na música executada durante os créditos finais).
É pena que, além das referências, Zemeckis também empregue inúmeros clichês do gênero, como personagens que andam de costas e acabam trombando em outras pessoas (assustando-se, obviamente; cães de estimação que parecem perambular pela casa com o único propósito de aterrorizar seus donos; reflexos que surgem inesperadamente em espelhos (algo empregado à exaustão em Ecos do Além, só para citar um exemplo; e - o pior de todos - altos acordes na trilha sonora, que fazem o espectador saltar em sua poltrona. O objetivo, como eu já disse, é alcançado - mas um diretor do calibre de Zemeckis poderia ter sido mais criativo.
A inventividade do cineasta, aliás, é amplamente comprovada em alguns momentos de Revelação, como na cena em que ele acompanha as ações de Pfeiffer em uma tomada única, mostrando a personagem enquanto esta esvazia a banheira, vai ao quarto e, ao retornar ao toalete, encontra a banheira cheia novamente (se bem que M. Night Shyamalan fez a mesma coisa na seqüência em que Toni Collette fecha os armários e gavetas de sua cozinha, em O Sexto Sentido). Porém, a `trucagem` que mais impressiona neste filme acontece em uma cena na qual um personagem se arrasta pelo assoalho e a câmera, que o acompanhava ao nível do chão, `afunda` e passa a acompanhar a ação a partir de um ângulo inferior. Este tipo de movimento é a principal característica de Zemeckis, que sempre encontra novas maneiras de surpreender o público (em outra cena, sua câmera presencia a aproximação de um carro em alta velocidade até que, subitamente, `mergulha` até o chão e passa por baixo do veículo). Mas o ponto alto do filme é, sem dúvida, a tensa cena que toma lugar na banheira, quase no fim da trama. É ali que o diretor utiliza toda a sua experiência e seu impecável timing para grudar o espectador na poltrona. Por que o restante da história não seguiu este padrão?
Ah, lembrei: o roteiro. Escrito pelo estreante Clark Gregg, Revelação traz poucas surpresas para o público (apesar de pensar o contrário). Na verdade, os diálogos são escritos de maneira tão óbvia que o espectador logo adivinha o que irá acontecer. Quando um personagem diz, por exemplo, que `o telefone celular só funciona a partir da metade da ponte`, qualquer um é capaz de perceber que esta informação será útil mais tarde. Para piorar, o trailer divulgado pela Fox entregava as principais viradas da trama, incluindo revelações que só acontecem quase no fim da história.
De todo modo, não posso deixar de ressaltar o belo trabalho de Michelle Pfeiffer, que convence no papel de mulher amedrontada. Além de não exagerar na gritaria (erro comum entre as atrizes de filmes de suspense), ela se sai maravilhosamente bem nas cenas em que sua personagem se comporta de maneira... inusitada. Enquanto isso, Harrison Ford, mais discreto do que de costume, oferece uma boa atuação como o ambíguo Dr. Norman (será que o nome é outra referência a Psicose?). Mesmo que ele repita o mesmo tipo de sempre, devo confessar que gostei de vê-lo brincando com a própria imagem (já era hora!).
Revelação não é um filme ruim, mas desaponta. Considerando-se o talento dos protagonistas do projeto, é impossível não pensar que o resultado poderia ter sido muito melhor. Talvez uma ou duas revisões no roteiro tivessem resolvido o problema - pelo menos, é isso que Hitchcock exigiria.
8 de Setembro de 2000