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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
18/10/1996 18/10/1996 3 / 5 1 / 5
Distribuidora
Duração do filme
147 minuto(s)

Direção

Barry Levinson

Elenco

Brad Pitt , Robert De Niro , Billy Crudup , Kevin Bacon , Dustin Hoffman , Jason Patric , Bruno Kirby

Roteiro

Barry Levinson

Produção

Barry Levinson

Fotografia

Michael Ballhaus

Música

John Williams

Montagem

Stu Linder

Design de Produção

Kristi Zea

Figurino

Gloria Gresham

Direção de Arte

Tim Galvin

Sleepers - Vingança Adormecida
Sleepers

Dirigido por Barry Levinson. Com: Kevin Bacon, Robert De Niro, Jason Patric, Brad Pitt, Dustin Hoffman, Bruno Kirby.

Isso é moda há anos, em Hollywood: o `quente` é colocar vários grandes astros para contracenarem uns com os outros, encher os cartazes de divulgação de nomes famosos e vender, assim, o `peixe`. Mas quem é que garante que os resultados são sempre dignos de nota?

Bem, Sleepers com certeza não é uma obra-prima. Também não é um filme ruim. Tem grandes virtudes, sem dúvida, mas também apresenta grandes falhas. É forte, tenso, mas também inócuo e previsível. É um daqueles filmes que preparam o espectador durante uma hora e meia para um clímax que nunca chega.

O roteiro, baseado no livro de Lorenzo Carcaterra, é alegadamente inspirado em um fato verídico. Digo `alegadamente` devido ao fato de que não se tem registro de nenhum processo semelhante ao narrado no filme nos arquivos da Justiça americana. Assim, temos que confiar na palavra do autor, o suposto `narrador` do filme.

A história começa mostrando o dia-a-dia de quatro jovens amigos moradores de um pequeno bairro, Hell’s Kitchen (`Cozinha do Inferno`), e suas aventuras cotidianas. O narrador, Shakes (Patric), logo de princípio informa que só dois deles sobreviveram aos 30 anos, enquanto o outro tornou-se um advogado frustrado. O que os leva a tal ponto é o que o filme pretende contar.

A primeira parte do filme se encarrega disso: depois de ferirem gravemente um homem (acidentalmente), os quatro amigos são enviados ao Reformatório Wilkinson, onde passam a ser agredidos e até mesmo violentados pelo terrível guarda Nokes (Bacon) e seus três companheiros de turno. Quando adultos, dois deles reencontram o velho algoz e acabam assassinando-o em um bar. A segunda parte, então, centra-se em torno do julgamento dos dois rapazes, já convertidos em criminosos em sua versão adulta. O filme transforma-se, então, em um drama de julgamento.

A primeira metade do filme, que narra a infância dos quatro amigos, é, sem dúvida, a melhor. Levinson prova ser um grande contador de histórias ao trazer vida a personagens tão distintos. Temos o padre Bobby, magistralmente interpretado por Robert De Niro; o chefe mafioso King Benny (Vittorio Gassman; o sádico Nokes; e, é claro, Bruno Kirby como o pai do herói Shakes. Aliás, Kirby (o amigo bigodudo de Billy Crystal em Amigos, Sempre Amigos e Harry e Sally) rouba a cena como um senhor gordo, careca e extremamente violento com a esposa, a quem espanca repetidas vezes.

Um dos problemas de Sleepers é ter muitos bons atores para poucos bons papéis. Dustin Hoffman está desperdiçado como o advogado alcóolatra dos dois assassinos, Danny Snyder. Ele está resumido a parecer velho, alquebrado, patético e inseguro. Já De Niro tem a oportunidade de desenvolver um personagem bem diferente do seu tipo habitual. Há uma cena, em particular, digna de nota: quando Shakes está contando ao padre os horrores que viveu no reformatório, a câmera permanece fixa no rosto de De Niro, que, sem dizer uma única palavra, expressa todo o seu pesar e horror diante do que lhe é dito.

A direção de Levinson é grandiloqüente, carregada. Sleepers parece ter sido um filme produzido especificamente para render um Oscar ao seu diretor. Não foi sequer indicado. Um dos grandes problemas reside no roteiro prolixo de Levinson. Cenas perfeitamente dispensáveis parecem ter sido incluídas somente para que o diretor pudesse usá-las, mais uma vez, como recurso para chegar a um Oscar. Isso sem mencionar que o ponto de tensão do filme está centrado em uma certa decisão que o personagem de De Niro tem que tomar. O problema é que, desde o começo, não restam dúvidas sobre o que ele decidirá. Quem não descobriu não estava prestando atenção no filme. Outra falha é a transição abrupta que ocorre entre as duas partes da história, o que leva o espectador a se perguntar quem são aqueles `novos` personagens. Há, ainda, um subtema que, praticamente, é apenas `citado` pelo roteiro, sem ser desenvolvido: o romance entre a assistente social interpretada por Minnie Driver e os personagens de Jason Patric, Brad Pitt e Ron Eldard.

Os mais exigentes - aqueles que ainda acham que um filme comercial como Sleepers tem que ter alguma mensagem - têm, ainda, um ponto extra a discutir. Se analisado friamente, Vingança Adormecida é uma grande apologia à prática da `justiça com as próprias mãos`. Um tema perigoso, mas polêmico - em resumo: receita de boa bilheteria.
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26 de Fevereiro de 1997

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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