Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
22/06/1954 | 22/06/1954 | 5 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
108 minuto(s) |
Dirigido por Elia Kazan. Com: Marlon Brando, Karl Malden, Lee J. Cobb, Rod Steiger, Eva Marie Saint, Pat Henning, Leif Erickson, John Hamilton e Tami Mauriello.
`Eu poderia ter tido classe. Eu poderia ter sido um lutador. Eu poderia ter sido alguém, ao invés do vagabundo que sou`. Quando Terry Malloy (Marlon Brando) diz estas palavras para seu irmão Charley, o espectador se surpreende. Será que este é aquele Terry Malloy frio e embrutecido que estávamos acostumados a ver? De onde veio aquela onda de amargura repentina?
Sindicato de Ladrões poderia ser tomado como um filme que trata do envolvimento da Máfia com os sindicatos americanos. Poderia ser tomado como uma história de amor ou como a luta de um homem simples contra o `poder` instituído. O filme é, na verdade, um pouco de tudo isso. Porém, ele é, principalmente, sobre a luta de um homem para recuperar sua honra e sua auto-estima.
Este homem é Terry Malloy, um ex-lutador de boxe que agora trabalha para o mafioso Johnny ‘Amigo’, que controla o sindicato local. É Johnny quem determina quem conseguirá trabalho ou não, nas listas diárias que são divulgadas no cais. Certo dia, depois de ter servido como isca para atrair Joey, um homem que pretendia denunciar o mafioso para as autoridades, Terry fica chocado ao descobrir que o sujeito foi assassinado. No entanto, é difícil para Terry questionar as atitudes de Johnny Amigo, já que Charley, seu irmão, é o braço direito do bandido.
É quando ele conhece Edie (Marie Saint), a bela irmã de Joey. Edie é uma garota inteligente e determinada que decide levar os responsáveis pela morte de seu irmão à justiça. Para isso, ela consegue a ajuda do corajoso padre Barry (Malden). Terry, cada vez mais dividido entre seu amor pela garota, seu remorso pela morte de Joey e sua fidelidade ao irmão Charley, não consegue se decidir sobre o que fazer. É então que Johnny ‘Amigo’ mata mais um estivador, tornando a situação ainda mais tensa.
Marlon Brando tem uma atuação maravilhosa, neste filme. Seu Terry Malloy é um homem aparentemente frio, que só pensa em sua própria segurança e que, no entanto, é surpreendido ao perceber que há uma outra pessoa com a qual se preocupa mais do que consigo mesmo: Edie. Para se ter uma idéia da perfeição do trabalho de Brando neste filme, há um momento no qual Edie diz sobre Terry: `Ele tenta bancar o durão, mas há gentileza em seus olhos`. O incrível é que o espectador consegue perceber essa `gentileza` claramente.
Mas Sindicato de Ladrões não é um filme no qual somente Brando se destaca. Todas as atuações impressionam, aqui: Karl Malden, com seu padre Barry, desperta a admiração do espectador por sua coragem e determinação. O discurso proferido ao lado do corpo de ‘K.O.’ Dugan é um dos momentos mais emocionantes do filme. Lee J. Cobbs, como Johnny ‘Amigo’, está corretamente antipático - e transpirando perigo - no papel de vilão, enquanto Rod Steiger mostra, com competência, o dilema diante do qual se encontra seu personagem, Charley, depois que Terry começa a ter `crises de consciência`. Não posso deixar de mencionar, também, o bom trabalho de Eva Marie Saint, estreando nas telas com este filme.
A parte técnica é irrepreensível: a música de Leonard Bernstein é belíssima, bem como a fotografia de Boris Kaufman (em um trabalho dificílimo, já que o diretor Elia Kazan insistiu em rodar Sindicato de Ladrões em locações, ao invés de no conforto de um estúdio). Além disso, Fred C. Ryle, com sua ótima maquiagem, transforma o rosto de Marlon Brando de tal forma, que realmente conseguimos ver, ali, as marcas de um ex-lutador: o nariz quebrado e os olhos ligeiramente deformados pelas inúmeras pancadas que levou em sua vida.
O roteiro de Budd Schulberg também é hábil ao retratar a mudança pela qual passa Terry Malloy. Um homem apático, marcado por seu fracasso como boxeador (quando foi obrigado por seu irmão a se `vender` em uma luta), Terry vai redescobrindo seu próprio valor. Procurando, mesmo que inconscientemente, uma espécie de `redenção`, ele só volta a usar seus dotes como lutador em duas ocasiões durante o filme, sempre em prol de uma `causa`. Apesar do final melodramático (e que acaba soando um pouco `hollywoodiano` demais), Sindicato de Ladrões se mantém graças à qualidade das interpretações que possui. Um belo filme que deve ser visto.
30 de Julho de 1998