Datas de Estreia: | Nota: | ||
---|---|---|---|
Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
18/05/1989 | 23/12/1988 | 4 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
121 minuto(s) |
Dirigido por Lawrence Kasdan. Com William Hurt, Kathleen Turner, Geena Davis, Bill Pulman, Amy Wright.
O Turista Acidental é um daqueles filmes que deixam no espectador aquela sensação de `Gostei ou não gostei?` assim que terminam. Não é empolgante, não tem cenas marcantes (excetuando-se o flashback no qual o personagem de Hurt reconhece o corpo do filho de 12 anos no necrotério) e não nos apresenta personagens apaixonantes pelos quais nos vemos tomados de um imenso interesse. E, no entanto, é um filme muito bom.
O personagem de William Hurt, o escritor Macon Leary, é um homem amargo. Isso fica claro já na primeira cena em que aparece, quando olha contritamente para a foto do filho. Viver não é divertido para este homem. Afinal, o que se deve esperar de alguém que passa a vida escrevendo livros que têm como objetivo fazer com que viajantes sintam-se como se estivessem em casa, ao invés de aproveitarem as novidades de um `passeio`? Alguém que leva um livro para um avião a fim de evitar possíveis conversas com os companheiros de viagem?
Logo, porém, somos informados de que talvez ele não tenha sido sempre assim. Talvez a morte brutal de seu filho o tenha conduzido a esta incômoda apatia e a uma crise aparentemente insolúvel no casamento. Sarah, sua esposa (Turner, menos sensual do que de costume), também nos é apresentada como uma mulher sofrida, sem esperanças na natureza humana. Será que foram sempre assim?
E é então que surge em cena, depois do `divórcio` de Leary, a personagem de Geena Davis, Muriel Prichett, uma treinadora de cães. Prichett é a única personagem do filme que parece ter a capacidade de rir. Ela já passou por maus bocados, é divorciada, tem um filho alérgico a praticamente tudo e mesmo assim parece se divertir com a vida. Após insistentes tentativas consegue, finalmente, aproximar-se de Leary e passam a morar juntos, para desgosto dos parentes do escritor.
A família Leary é, aliás, um caso à parte. Chegam a ser esquisitos de tão convencionais. É como se fossem uma Família Addams ao avesso. Guardam os alimentos por ordem alfabética na despensa, controlam compulsivamente a temperatura com a qual o peru é assado e jogam o mesmo jogo todas as noites. Conversam como se estivessem dentro de uma Igreja e nunca se abraçam.
A partir dessas pessoas e suas relações o filme vai traçando um painel delicado sobre sentimentos e a aparente falta deles. Leary, o centro de gravidade do filme, é um homem que parece viver por obrigação. A atuação de Hurt me fez lembrar do Rusty Sabich interpretado por Harrison Ford em Acima de Qualquer Suspeita: são homens extremamente fechados, absortos em viver suas próprias vidas e a ignorarem o restante do mundo. Somos levados a crer que para eles a vida é apenas um incômodo caminho a ser percorrido até a morte, e nada mais. A dor intensa que Leary sente nas costas não é em vão: ele carrega o mundo inteiro sobre si. Tenta viver sob suas próprias convenções e, se age egoisticamente, parece não conscientizar-se disso. Continua com sua rotina e sente-se seguro com isso. `O sanduíche deles não é como o nosso. Tire a cebola e o picles.`, diz ele para Muriel quando estão em um Burguer King de Paris. Ela, como era de se esperar, dá de ombros e morde entusiasticamente o sanduíche: para Muriel, a vida é para ser vivida.
O Turista Acidental é, em resumo, um filme que diz tudo e nada ao mesmo tempo. Você pode assisti-lo e chegar a conclusões totalmente diferentes das que cheguei. E é isso que é instigante: é um filme que obriga o espectador a pensar. Pelo menos se quiser achar uma resposta para a pergunta: `Gostei ou não gostei?`
28 de Dezembro de 1996