Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
09/07/1999 | 06/03/1998 | 3 / 5 | 4 / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
117 minuto(s) |
Dirigido por Joel Coen. Com Jeff Bridges, John Goodman, Steve Buscemi, Julianne Moore, David Huddleston, Philip Seymour Hoffman, Tara Reid, Peter Stormare, John Turturro, Ben Gazzara e Sam Elliott..
Os filmes dos irmãos Coen são invariavelmente habitados por uma galeria de personagens singulares: o detetive de Gosto de Sangue, a policial de Fargo, o casal de Arizona Nunca Mais, o assassino de Barton Fink e a repórter de Na Roda da Fortuna são apenas alguns exemplos entre uma infinidade de curiosos personagens criados pelos Coen. Além disso, o apuro visual de Joel (o diretor da dupla) é sempre uma atração à parte, brindando o espectador com algumas seqüências que beiram uma espécie de `delírio estético`.
O Grande Lebowski não foge à regra. Aqui, nenhum dos mais de 20 personagens dignos de nota pode ser descrito como `normal`: do senhorio do protagonista até o líder dos `niilistas`, todos têm a sua peculiaridade, a sua `esquisitice` - e todos orbitam em torno do extravagante boa-vida interpretado por Jeff Bridges, um sujeito que insiste em ser chamado de `the Dude` (algo como `o Cara`). Na verdade, o nome de `Dude` é Jeffrey Lebowski, o que faz com que alguns capangas invadam sua casa ao confundi-lo com um milionário de mesmo nome (o `Grande` Lebowski do título). Infelizmente para Dude, os marginais só descobrem o erro depois de terem enfiado sua cabeça no sanitário e de terem urinado em seu tapete - o que o deixa revoltado. `Aquele tapete dava equilíbrio à sala, cara`, lamenta com um amigo.
O `Dude`, aliás, é um personagem absolutamente fascinante: barrigudo, cabeludo e sempre de bermudas, ele é uma espécie de fóssil dos anos 60. Seus dias se resumem a jogos de boliche, maconha e a banhos de banheira ao som do canto das baleias. Pacifista convicto, o Dude é `o sujeito mais preguiçoso de Los Angeles` - como descreve o próprio narrador do filme. Assim, é com grande relutância que ele vê seu tranqüilo (para não dizer insípido) cotidiano ser perturbado por uma multidão que, aparentemente, só quer descobrir o paradeiro de Bunny Lebowski, a jovem esposa do milionário homônimo de Dude.
Jeff Bridges, como de costume, está perfeito. Seu olhar preguiçoso, sua infindável calma e sua dificuldade em articular os pensamentos funcionam maravilhosamente bem, provocando verdadeira ansiedade no espectador - além de uma grande simpatia pelo personagem. Afinal, como não simpatizar com um sujeito que, ao ver sua casa ser depredada por invasores, diz tranqüilamente de sua banheira: `Ei, caras, isso é propriedade particular!`? Outro que cria um tipo bastante interessante é John Goodman: seu ex-combatente é um sujeito explosivo e paranóico que relaciona tudo o que acontece durante a trama aos seus traumas de guerra - e que, além disso, nunca permite que o companheiro de boliche interpretado por Steve Buscemi termine uma frase.
No entanto, vale salientar que a direção de Joel Coen merece boa parte dos créditos ao ajudar a estabelecer as personalidades de seus protagonistas. A seqüência de abertura, como de costume, não só introduz a platéia sem rodeios à história como ainda é hábil ao apresentar o protagonista: de bermudas em um supermercado à noite, Dude cheira um laticínio a fim de conferir sua validade e, com o cavanhaque sujo de iogurte, paga 67 centavos em cheque antes de voltar para casa - onde é atacado pelos dois capangas que o confundiram com outra pessoa.
Porém, apesar de interessante, O Grande Lebowski não faz jus à filmografia dos Coen. O fato é que, infelizmente, há muito personagem para pouca história, o que leva o diretor a inserir longas seqüências nas quais Dude alucina depois de ser golpeado na mandíbula ou de ser dopado por um dos vilões - apesar de visualmente fascinantes, elas nada acrescentam à trama e ainda quebram o ritmo da narrativa.
No final das contas, a impressão que fica é a de que este filme é como um dia típico na vida do Dude: apesar de ter a percepção de sua realidade alterada pelas viagens de ácido (ou pelos movimentos de câmera de Joel Coen), a triste verdade é que o cotidiano deste sujeito não é dos mais interessantes.
19 de Julho de 1999