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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
22/12/2000 23/06/2000 4 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
84 minuto(s)

A Fuga das Galinhas
Chicken Run

Dirigido por Nick Park e Peter Lord. Com as vozes de Mel Gibson, Julia Sawalha, Jane Horrocks, Miranda Richardson, Tony Haygarth, Timothy Spall, Phil Daniels e Lynn Ferguson.

Poucos são os cineastas que conseguem alcançar um prestígio semelhante ao de Nick Park, que, aos 42 anos, já foi indicado a quatro Oscars e levou três. Mesmo assim, Park é praticamente um desconhecido para o grande público - especialmente no Brasil, onde os curtas-metragens (especialidade do diretor) raramente são lançados comercialmente. Para complicar ainda mais, ele não lançava um novo trabalho desde 1995, já que vinha se dedicando com exclusividade ao desenvolvimento de seu primeiro longa: justamente este A Fuga da Galinhas, que dirigiu ao lado do veterano Peter Lord.

Só posso dizer que a espera valeu a pena: divertida e inteligente, esta produção certamente despertará o interesse de novos fãs pelo trabalho de Park e pela animação em stop-motion (também conhecida como `massinha`), que, apesar de extremamente antiga, jamais conseguiu se estabelecer como um formato viável comercialmente (em longa-metragem, bem entendido). O filme conta a história de um bando de galinhas que resolvem escapar do galinheiro no qual estão aprisionadas. Lideradas pela determinada Ginger, elas participam de esquemas mirabolantes para fugir, sendo sempre frustradas pelo fazendeiro Tweedy (que, por sua vez, é dominado pela autoritária Sra. Tweedy). É quando um galo `voador` aparece no lugar e confere novas esperanças às fugitivas.

O roteiro, escrito por Karey Kirkpatrick, é claramente inspirado no clássico Fugindo do Inferno, de 1963. Na verdade, a própria galinha Ginger pode ser encarada como uma nova versão do personagem vivido por Steve McQueen naquele filme, já que, além de campeã de fugas, ela também acaba se tornando uma espécie de `Rainha da Solitária` (sempre que está presa, ela costuma ficar atirando uma bolinha na parede de sua `cela` - exatamente como McQueen). Além disso, as galinhas também empregam várias outras estratégias utilizadas pelos prisioneiros de Fugindo do Inferno, como desmontar os beliches para conseguir matéria-prima e utilizar um `carrinho` puxado por uma corda para se mover no interior de um túnel subterrâneo.

Mas o filme também faz sutis referências a diversos outros clássicos, como Inferno No. 17 (não é à toa que este número aparece no alojamento utilizado para as reuniões) e Papillon (a galinha Mac é idêntica ao Louis Dega de Dustin Hoffman). Há, também, pequenos gracejos envolvendo Caçadores da Arca Perdida e Coração Valente (a primeira frase dita pelo galo dublado por Mel Gibson é `Liberdaaaaaaade!`), entre outros. Na verdade, boa parte das piadas de A Fuga das Galinhas reside nestas homenagens a outras obras e nos inteligentes diálogos escritos por Kirkpatrick, e não nas gags visuais que poderiam facilmente dominar este tipo de produção.

Aliás, não há como negar que este filme investe mais nos diálogos do que na ação, o que pode torná-lo, em certos momentos, um pouco cansativo para os espectadores mais jovens (algo que também acontecia em outra maravilhosa produção infantil distribuída pela DreamWorks, FormiguinhaZ). Além disso, A Fuga das Galinhas é mais sombrio do que o esperado, já que a morte é uma ameaça assustadoramente real para as pobres prisioneiras do galinheiro da Sra. Tweedy (logo no início da trama, há uma `execução` que estabelece claramente este clima).

Já as seqüências de ação, apesar de escassas, são eletrizantes. O clímax da história, em especial, é soberbo e encerra o filme da melhor maneira possível. Aliás, até mesmo os movimentos de câmera concebidos pela dupla de diretores funcionam com perfeição, fugindo da definição de que produções em stop-motion abusam dos enquadramentos estáticos (Park e Lord chegam mesmo a recriar um dos mais belos movimentos de câmera de Um Sonho de Liberdade, em certo momento). Como a animação dos personagens também é impecável (algo que já poderíamos esperar em uma produção da Aardman), é fácil constatar que A Fuga das Galinhas apresenta um visual arrebatador.

Para tornar a experiência ainda melhor, o filme é protagonizado por uma galeria de personagens fascinantes: cada galinha tem personalidade e temperamento distintos. O destaque, como não poderia deixar de ser, fica por conta da heróica Ginger, sempre determinada e cheia de iniciativas (a desligada Babs, constantemente tricotando, também vai agradar ao público).

Se a excepcional qualidade de A Fuga das Galinhas for algum indicativo da disposição de Nick Park em continuar a dirigir longas-metragens, você já pode ir se preparando para se divertir a valer com as futuras produções da Aardman. Só resta saber se, desta vez, o cineasta vai realizar o sonho dos fãs e criar um novo veículo para os célebres personagens Wallace e Gromit. Mas se as galinhas acabarem voltando, tudo bem: também vou achar a idéia `massa`.
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19 de Dezembro de 2000

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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