Seja bem-vindx!
Acessar - Registrar

Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
09/06/2000 02/06/2000 1 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
99 minuto(s)

Vovó...Zona
Big Momma`s House

Dirigido por Raja Gosnell. Com Martin Lawrence, Paul Giamatti, Nia Long, Terrence Howard, Ella Mitchell, Jascha Washington e Anthony Anderson.

O sonho de Martin Lawrence é ser Eddie Murphy. Como se não bastasse copiar o estilo malandrão do protagonista de Um Tira da Pesada há vários anos, Lawrence agora tenta provar que também é capaz de criar tipos hilário sob pesada maquiagem - algo que ele tentara fazer de forma mais sutil no fraco Um Tira Muito Suspeito. Infelizmente, porém, lhe faltam duas coisas: o talento do ídolo e a capacidade de atrair bons roteiros.

Em seu novo filme, ele interpreta Malcolm Turner, um policial perito em disfarces que é designado para, ao lado do parceiro (Giamatti), vigiar a casa de uma obesa senhora que está prestes a receber a visita de uma neta, Sherry. O objetivo de Malcolm é encontrar um perigoso assaltante que fugiu da prisão e que provavelmente tentará entrar em contato com a garota, sua antiga namorada - que, desconfia a polícia, está escondendo o dinheiro roubado pelo sujeito. Alguém aí disse Tocaia? Na verdade, o plágio é tão descarado que Vovó...Zona tem até mesmo uma seqüência de sonho onde o vilão aparece repentinamente na casa da mocinha (em Tocaia, Richard Dreyfuss acordava banhado em suor; aqui, é Nia Long). Além disso, em ambos os filmes o médico da penitenciária é morto pelo bandido em fuga.

No entanto, a diferença é que, ao fazer com que Malcolm se disfarce como a velha senhora depois que esta é obrigada a deixar a cidade às pressas, Vovó...Zona também reaproveita elementos de Quanto Mais Quente Melhor (a cena em que Sherry deita-se ao lado da avó), Tootsie (o beijo entre Malcolm, vestido de mulher, e sua amada) e Uma Babá Quase Perfeita (as confusões na cozinha). Para piorar, o medíocre roteiro de Darryl Quarles e Don Rhymer ainda tenta utilizar piadas mais `fisiológicas`, envolvendo gases e outros problemas intestinais - algo que os irmãos Farrelly dominam com maestria: basta comparar as `cenas de banheiro` deste filme com as de Debi & Lóide para notar a diferença.

Outro ponto fraco é a maquiagem de Martin Lawrence, rígida e pouco natural. Chega a espantar que ela tenha sido elaborada pelo mesmo Greg Cannom de Uma Babá Quase Perfeita. Além disso, não há como negar o fato de que, mesmo disfarçado, o policial não fica idêntico à tal `vovózona`: até poderíamos aceitar que ele enganasse a neta, que não via a avó há mais de dois anos, mas daí a acreditarmos que ele seria capaz de convencer as amigas e até mesmo o pretendente da obesa senhora é um pouco demais.

Como se não bastasse sua previsibilidade, o roteiro ainda tenta criar situações hilárias a todo custo, sem se preocupar em manter um mínimo de lógica. Senão vejamos: depois de todo o trabalho para manter seu disfarce, o personagem de Martin Lawrence se envolve espontaneamente em várias situações que poderiam desmascará-lo facilmente: joga basquete, salta de carros sem se preocupar em abrir a porta, espanca um professor de karatê e dança animadamente em uma igreja lotada. Em outras palavras: os roteiristas procuram arrancar o riso fácil ao mostrar uma velhinha fazendo coisas que nenhuma outra mulher de sua idade (e compleição) faria. Além disso, há uma seqüência realmente ridícula, no meio do filme, na qual a `vovózona` é despertada durante a madrugada para realizar um parto! Sim: como se estivéssemos no século 19, uma mulher em pleno trabalho de parto vai até a casa da idosa vizinha para ter seu filho ao invés de chamar os paramédicos ou de tentar chegar a um hospital. Tudo por uma risada que nunca vem.

Mas o grande problema de Vovó...Zona é mesmo seu protagonista. O que Martin Lawrence não parece entender é que a maquiagem, por si só, não é capaz de criar um personagem. Ainda mais importante que o látex no rosto é uma boa caracterização por parte do ator - algo que o talentoso Eddie Murphy compreende perfeitamente (basta ver como os membros da família Klump em O Professor Aloprado diferem entre si - e não apenas fisicamente). A verdade é que Lawrence simplesmente não convence como a `vovózona`: sua impostação vocal limita-se ao desafino e sua expressão corporal resume-se em mover os braços. Não restam dúvidas de que ele é mais divertido interpretando bandidos atrapalhados (como no hilário Nada a Perder) do que mocinhos valentes.

Nia Long, por sua vez, tem uma bela presença na tela, mas sua personagem não é desenvolvida o suficiente para cativar a platéia - e sua química com o herói é nula. Outro que acaba sendo desperdiçado é Paul Giamatti (O Mundo de Andy), cujo policial resume-se a arregalar os olhos sempre que o mocinho de Lawrence se mete em confusões. Para completar o elenco de estereótipos, temos Terrence Howard interpretando um vilão que só diz uma ou duas frases ao longo de todo o filme e nunca representa uma ameaça realmente digna de nota (a título de comparação, lembre-se do perigoso bandido vivido por Aidan Quinn em Tocaia).

Como se não bastasse o péssimo roteiro e o fraco protagonista, Vovó...Zona ainda conta com uma direção lamentável de Raja Gosnell (editor de Uma Babá Quase Perfeita), que trabalha durante quase todo o filme com apenas dois planos: fechado (para mostrar a maquiagem de Lawrence) e aberto (para mostrar o ator gesticulando ou fazendo alguma palhaçada com o corpo). Além disso, sua tentativa de comover a platéia com o `sofrimento` de Sherry e seu filho nos momentos finais da trama é ridícula.

Vovó...Zona é o tipo de filme que os executivos de Hollywood decidem produzir depois de passarem algumas horas trancados em reuniões como aquela que descrevi em minha crítica de As Loucas Aventuras de James West: nestes casos, o mais importante é a fórmula, não a história. `Imaginem se transformássemos o obeso cientista de O Professor Aloprado em Uma Babá Quase Perfeita... Como poderíamos fazer isso?`, pergunta um executivo. `Transforme-o em Um Tira da Pesada disfarçado!`, arremata outro. É a partir desta mentalidade caça-níqueis que surgem bombas como Vovó...Zona.
``

12 de Junho de 2000

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

Para dar uma nota para este filme, você precisa estar logado!