Seja bem-vindx!
Acessar - Registrar

Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
17/07/2001 06/03/1998 4 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
44 minuto(s)

Everest (I)
Everest

Dirigido por David Breashears, Stephen Judson e Greg MacGillivray. Com: Jamling Tenzing Norgay, Araceli Segarra, Ed Viesturs, Paula Viesturs, Roger Bilham, Robert Schauer. Narrado por Liam Neeson.

É uma pena que o Brasil ainda não possua nenhum cinema capaz de exibir filmes em IMAX (formato cuja tela pode chegar a alcançar impressionantes 27 metros de diâmetro em sua versão em cúpula), pois não há duvidas de que Everest, documentário originalmente produzido para este tipo de projeção, deve ser uma experiência de tirar o fôlego quando visto em toda sua magnitude.

Produzido em abril e maio de 1996, este média-metragem de 45 minutos retrata os esforços de uma equipe de alpinistas para chegar ao topo do Everest - desafio que se tornou ainda maior graças ao peso do equipamento IMAX, cuja câmera pesava 19 quilos e os rolos de filme, 2 quilos cada (equivalendo a três minutos por rolo). Além disso, a expedição foi realizada justamente na época em que uma terrível tempestade atingiu a montanha, matando oito pessoas de outras equipes (incluindo os experientes alpinistas Rob Hall e Scott Fischer, amigos pessoais de David Breashears, diretor deste filme). Assim, o que inicialmente deveria ser um documentário sobre o Everest e as pessoas cuja paixão é escalá-lo acabou se tornando um drama real que provoca um profundo impacto em quem o assiste - apesar de não narrar em detalhes os acontecimentos que acabaram levando à tragédia (para isso, recomendo a leitura do excepcional livro No Ar Rarefeito, de Jon Krakauer, ou mesmo o filme Morte no Everest, baseado neste relato).

O que Everest faz, e muito bem, é mostrar para o espectador o porquê do alpinismo representar o modo de vida de tanta gente. Cada um dos membros da equipe do diretor Breashears tem seu momento no filme, como a competente Araceli Segarra, cujo sonho era se tornar a primeira espanhola a chegar ao `topo do mundo`; o geólogo Roger Bilham, cujos fins eram puramente científicos; Ed Viesturs, líder da expedição (que, aliás, aconteceu durante sua lua-de-mel; e, finalmente; Jamling Tenzing Norgay, que queria apenas seguir os passos do pai, Tenzing Norgay - o primeiro homem a pisar no topo do Everest (ao lado de Edmund Hillary), em 29 de Maio de 1953. Determinados e disciplinados, todos eles tinham seus objetivos particulares e uma paixão em comum: o alpinismo.

E determinação é essencial para cumprir tarefa tão desgastante, como o filme ilustra com propriedade. Afinal, os que se aventuram nesta escalada são obrigados a respirar em uma atmosfera que possui apenas 1/3 do oxigênio existente ao nível do mar, algo que entorpece os sentidos e os músculos. Dez metros parecem dez quilômetros, nestas circunstâncias, e qualquer equívoco pode significar vidas. Em ambiente tão adverso, onde a coragem desempenha papel fundamental, o gosto humano pelos desafios ainda prevalece - de outra forma, como explicar a insistência de Ed Viersturs em realizar o percurso sem utilizar balões de oxigênio?

A sorte também acaba revelando-se fator importante em jornadas como a retratada em Everest. Inicialmente, a equipe de Breashears pretendia atacar o cume da montanha no dia 9 de Maio, desistindo destes planos no último momento em função do `congestionamento` provocado pelos alpinistas amadores na etapa final do percurso. Esta decisão provavelmente salvou suas vidas, já que a tempestade do dia seguinte causou mortes, caos e destruição, provocando ventanias de 128 quilômetros por hora em uma temperatura de 73 graus negativos. Além disso, quando o tempo se amainou, Viesturs e Robert Schauer (outro integrante da expedição) estavam em melhores condições físicas para socorrer os sobreviventes, escalando mais de um quilômetro até chegarem ao Acampamento IV, onde auxiliaram no resgate do patologista texano Beck Weathers, que havia praticamente congelado durante a tempestade (ele viria a perder o nariz, a mão direita e os dedos da mão esquerda). Aliás, foi justamente as notícias sobre sua melhora que levaram a equipe de Breashears a decidir realizar o restante da escalada, doze dias depois, concluindo as filmagens de Everest.

Narrado sobriamente por Liam Neeson, este filme também é um belo retrato do espírito de solidariedade e heroísmo que o homem urbanizado parece ter perdido ao longo dos séculos. São emocionantes, os exemplos como o do piloto de helicóptero que se arriscou a voar em altitudes proibitivas (onde o ar é tão rarefeito que o aparelho pode perder a sustentação e cair a qualquer momento) para salvar a vida de pessoas que sequer conhecia. Os momentos de grande pressão são, também, aqueles que revelam a nobreza supostamente perdida do ser humano. E Everest, ao resgatar um pouco desta esperança em nossa própria alma, representa uma pequena ode à humanidade.
``

10 de Abril de 2000

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

Para dar uma nota para este filme, você precisa estar logado!