Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
26/06/1998 | 26/06/1998 | 3 / 5 | 2 / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
85 minuto(s) |
Dirigido por Betty Thomas. Com : Eddie Murphy, Oliver Platt, Peter Boyle, Ossie Davis, Richard Schiff, Kristen Wilson, Kyla Pratt e as vozes de Norm Mcdonald, Albert Brooks, Chris Rock, Julie Kavner, John Leguizamo, Ellen DeGeneres, Jenna Elfman, Paul Reubens e Jonathan Lipnicki.
Dr. Dolittle é, na verdade, uma mistura de Babe - o Porquinho Atrapalhado e O Professor Aloprado. Daquele, o filme aproveita a tecnologia desenvolvida para mostrar, de forma eficaz, um bando de animais falando. Deste último, temos o humor histérico de Eddie Murphy, repleto de gritos e piadas sobre gases.
Infelizmente, o filme não empresta, também, o que esses filmes tinham de melhor: a inocência e inteligência dos diálogos de Babe e o ritmo frenético de O Professor.... Assim, o resultado deste novo filme de Eddie Murphy é irregular, alternando bons momentos com outros embaraçosamente fracos.
O roteiro é baseado no livro de Hugh Lofting, sobre um médico que tem jeito com animais, e que já havia gerado um filme em 1967, O Fantástico Dr. Dolittle (que, aliás, quase levou a Fox à falência, sendo um fracasso retumbante). Aqui, Eddie Murphy interpreta o dr. Dolittle do título, um médico que já não sente prazer em exercer a medicina, passando a se preocupar somente com o dinheiro que poderá ganhar. Ele é, também, um pai frio que não perde muito tempo conversando com suas duas filhas ou com sua esposa.
Isso até que um dia, voltando para casa, ele quase atropela um cachorro. Na tentativa de evitar o desastre, ele bate o carro, machucando sua cabeça. Para sua surpresa, a partir daí ele começa a ouvir o que os animais têm a lhe dizer, e estes também passam a entender o que o médico diz. Inicialmente relutante, o dr. Dolittle começa a perceber, aos poucos, que seu novo `dom` pode levá-lo a redescobrir o prazer da medicina e o amor à sua família.
Animais que falam não são nenhuma novidade no cinema. Passando pelos desenhos da Disney até chegar em Babe, o cinema já ouviu a `voz` de muitos animais, fossem estes `bonzinhos` ou `malvados`. Assim, o ponto forte deste filme é com quem eles falam: um médico extremamente racional que não gosta de animais. Como ele é o único a escutar o que os bichos dizem, o dr. Dolittle é um personagem potencialmente cômico, pois a platéia se torna cúmplice de seu segredo e sabe que o homem não pode deixar que ninguém desconfie do que está acontecendo, sob o risco de ser tomado como louco.
No entanto, o roteiro praticamente não explora esse lado da história, preferindo investir justamente no batido: bichos que falam. O grande problema de Dr. Dolittle, no entanto, é que os animais deste filme não têm nada de interessante para dizer. Os roteiristas Nat Mauldin e Larry Levin parecem pensar que o simples fato de estarmos vendo um cachorro resmungando é engraçado, não importando o que ele fale. O problema é que importa, sim - e muito. Não há nada de hilário em ver um cão chamando um humano de `Cabeça de bagre` - e isso acontece várias vezes durante a projeção.
Aliás, o diálogo mais divertido do roteiro não foi sequer traduzido corretamente pela legenda em português, tirando ainda mais a graça do filme. Em certo momento, o dr. Dolittle vai até um canil e fica atordoado ao ouvir as queixas de todos os cães que estão presos no `corredor da morte`. É quando um dos animais enjaulados, com um ar cruel, diz: `Eu sou Keyser Söze.`, numa referência inteligente a Os Suspeitos. A tradução que a frase recebeu: `Eu sou malvado paca!`. Lamentável.
Além da falta de inteligência dos diálogos, o roteiro peca por seguir uma fórmula convencional. No intuito de oferecer um vilão para a platéia, Mauldin e Levin introduzem uma `sub-trama` sobre a fusão entre a clínica do Dr. Dolittle e uma grande empresa, que vai injetar milhões no negócio. Além de não contribuir em nada para a história, esta `sub-trama` rouba, descaradamente, elementos de O Professor Aloprado, sendo que o personagem de Peter Boyle poderia ter sido substituído, sem problemas, pelo personagem interpretado por James Coburn naquele filme.
As atuações são corretas, com destaque para Oliver Platt, competente e divertido como sempre. Já Eddie Murphy tem algumas poucas cenas divertidas, justamente aquelas em que ele pode explorar com mais liberdade seu lado cínico e debochado (como aquela em que ele entra na cabana de sua filha, no acampamento de verão, e finge estar impressionado com a beleza do que está vendo). No mais, só posso lamentar que talentos cômicos como Julie Kavner, Chris Rock e John Leguizamo (sempre versátil) sejam desperdiçados em um texto insípido, descartável. Detalhe: a voz do filhote de tigre (que tem apenas um diálogo no filme) é de Jonathan Lipnicki, o adorável garotinho de Jerry Maguire.
Os efeitos visuais são soberbos. As criaturas `animatrônicas` de Jim Henson (responsável por Babe, justamente) são perfeitas. É praticamente impossível distinguir em quais cenas animais de verdade aparecem e em quais os `bonecos` de Henson são usados. Além disso, a equipe de efeitos visuais faz com que os `lábios` dos animais se movam em sincronia absoluta com os diálogos, o que torna tudo ainda mais fascinante (apesar de, volto a repetir, em nada diferente do filme de Chris Noonan).
Dr. Dolittle poderia ter sido um filme muito melhor. Bastava que roteiristas mais competentes fossem contratados para a tarefa, ao invés dos quase iniciantes Mauldin e Levin. Fico imaginando como seria este filme se o casal Babaloo Mandel e Lowell Ganz fossem escalados para o projeto... Mas não adianta sonhar. Como ficou, este filme serve como diversão descompromissada - principalmente para as crianças, que se divertiram a valer na sessão em que eu me encontrava.
27 de Junho de 1998