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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
12/11/1999 28/07/1999 4 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
105 minuto(s)

Do Fundo do Mar
Deep Blue Sea

Dirigido por Renny Harlin. Com: Samuel L. Jackson, Thomas Jane, LL Cool J, Saffron Burrows, Jacqueline McKenzie, Michael Rapaport, Stellan Skarsgård e Aida Turturro.

Qualquer pessoa que se proponha a registrar suas opiniões por escrito constatará, eventualmente, que cometeu algum erro de julgamento. Quando esta ocasião chega, é preciso ser honesto o bastante para admitir o próprio erro. Hoje encontro-me nesta situação.

Há algum tempo atrás, quando teci comentários sobre A Múmia, defendi a tese de que a tecnologia estava destruindo a criatividade e a sutileza dos diretores de Hollywood. O que antes nos amedrontava apenas pela sugestão tornou-se inofensivo ao ser totalmente exposto através de efeitos computadorizados. Citei, inclusive, Tubarão como exemplo de um filme que provocava o medo sem praticamente exibir a criatura-título.

Pois bem, é hora do mea culpa: Do Fundo do Mar não faz a menor questão de esconder seus vilões (no caso, três imensos tubarões extremamente inteligentes). Aliás, o diretor Renny Harlin nos mostra os animais com a maior clareza possível, do focinho à cauda. E, apesar de não possuir sutileza alguma, o filme é realmente assustador e capaz de grudar o espectador à cadeira do cinema, sendo justamente um exemplo de tecnologia utilizada a serviço da história.

Não que Do Fundo do Mar possua um roteiro brilhante. Na verdade, sua trama chega a ser simplória: um grupo de cientistas trabalha em um laboratório submarino a fim de descobrir um `neuro-estimulante` que sirva de cura para o mal de Alzheimer. Uma das principais proteínas pesquisadas é extraída do cérebro de tubarões, e para obter maior quantidade destas proteínas, os cientistas utilizam a engenharia genética para aumentar o tamanho dos animais - e, como efeito colateral, acabam tornando-os mais inteligentes. É então que três destes tubarões superdesenvolvidos conseguem destruir os laboratórios e passam a perseguir seus `criadores`.

Apesar de se concentrar basicamente em um jogo de gato-e-rato (ou melhor: de tubarão-e-homem), o filme cumpre bem o seu objetivo de assustar e deixar a platéia tensa. Sempre que um personagem encontra-se na água (o que acontece durante quase todo o filme), Renny Harlin descobre um meio de aterrorizar o espectador. E isso é uma grande proeza se considerarmos que o roteiro é maniqueísta a ponto de nos deixar perceber quem morrerá e quem viverá desde o princípio da projeção. A regra é simples: em filmes como este, os arrogantes e covardes sempre perecem, enquanto os valentes e de bom caráter continuam disponíveis para protagonizar possíveis continuações. (Todavia, vale ressaltar que pelo menos uma das mortes deste filme acontece de maneira totalmente surpreendente).

As atuações são corretas: todos os integrantes do elenco demonstram pânico e mostram-se aptos a executarem as cenas de ação - e isso é o máximo que o fraco roteiro exige deles. Thomas Jane, que encarna o heróico Carter, consegue obter um certo destaque (e como o rapaz se parece com Christopher Lambert!), mas a grande revelação é mesmo o simpático LL Cool J. No mais, resta constatar que talentos como Stellan Skarsgård e Michael Rapaport estão desperdiçados, enquanto Samuel L. Jackson prova mais uma vez que consegue brilhar até mesmo com personagens mal formulados.

A parte técnica, por sua vez, é fabulosa: da trilha sonora aos cenários, passando pela competente edição de efeitos sonoros, Do Fundo do Mar é um exemplo perfeito do que o dinheiro pode comprar em Hollywood (e se os tubarões não `convencem` o tempo todo, ao menos não constrangem). Porém, vale reiterar que nada disso seria eficaz sem a segura direção de Renny Harlin, que comanda as ininterruptas cenas de ação com uma categoria digna de um John McTiernan ou de um Ridley Scott.

Assim, reformulo aquilo que foi dito com relação à refilmagem de A Múmia: tecnologia e efeitos visuais, sozinhos, não são capazes de salvar um filme (que é o que os executivos de Hollywood parecem pensar - vide os péssimos Godzilla e A Casa Amaldiçoada). No entanto, podem tornar-se ferramentas extremamente eficazes nas mãos de um diretor inspirado ou quando a serviço de um bom roteiro. Aqui, a ajuda veio da direção. Em Homens de Preto, principalmente do roteiro. Em Matrix, de ambos. Infelizmente, estas são as exceções: na maioria das vezes, os efeitos são utilizados apenas como festa para os olhos - o que é uma pena.
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16 de Novembro de 1999

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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