Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
30/06/2000 | 19/05/2000 | 3 / 5 | 4 / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
82 minuto(s) |
Dirigido por Eric Leighton e Ralph Zondag. Com as vozes de Fábio Assunção, Malu Mader, Nair Bello, Hebe Camargo, Orldando Drummond e Leonardo José.
Se eu pudesse entrar em uma máquina do tempo e viajar 65 milhões de anos em direção ao passado, não tenho a menor dúvida de que veria algo muito parecido com o que é retratado nesta mais recente superprodução da Disney. As criaturas geradas nos computadores do estúdio são tão reais que não há como duvidar de sua existência: a textura de suas peles, os movimentos de seus pêlos e a sutileza de seus movimentos são verdadeiras obras-de-arte da animação moderna, empalidecendo quaisquer lembranças que tenhamos dos animais retratados em Parque dos Dinossauros.
A seqüência de abertura do filme, que mostra a trajetória de um ovo de Iguanodon até chegar a uma ilha habitada por lêmures, é de tirar o fôlego - principalmente nas tomadas aéreas, quando somos brindados com uma fabulosa visão de centenas de dinossauros convivendo em equilíbrio absoluto. O casamento entre as locações (reais) e as imagens criadas digitalmente é perfeito e, como não poderia deixar de ser em um filme da Disney, a história é recheada de personagens simpáticos que darão ótimos brinquedos para a criançada (aumentando ainda mais o faturamento do estúdio).
Infelizmente, o roteiro de Dinossauro não faz jus ao colossal esforço realizado pelos animadores: concebida por nada menos do que cinco pessoas (sempre um mau sinal), a trama é fraca e sem imaginação, reciclando elementos de O Rei Leão (como o herói que cresce fora da comunidade, convivendo com espécies diferentes) e até mesmo alguns de seus personagens (como o lêmure Zini, cujo jeito atirado é idêntico ao de Timão). Vale dizer que é a primeira vez que a Disney se aventura em um longa cujos personagens foram completamente criados através da animação em 3D, já que atuou apenas como distribuidora dos ótimos Toy Story e Toy Story 2 e do divertido Vida de Inseto, todos produzidos pela Pixar (que não participou deste projeto).
Na verdade, Dinossauro tem seus bons momentos: a seqüência em que o asteróide cai no oceano, dando início a uma cadeia de destruição assustadora, é intensa e comovente. A curiosa inocência com que os lêmures assistem à queda da pedra em chamas nos leva a temer por eles - algo que os realizadores de Impacto Profundo e Armageddon não conseguiram fazer por seus respectivos personagens. Além disso, o próprio tema abordado no início do filme (tragédia nuclear) torna esta história um pouco mais sombria do que as produções habituais da Disney, o que é sempre interessante (basta dizer que quase todos os simpáticos `macaquinhos` morrem logo no princípio).
Porém, a grande catástrofe de Dinossauro não reside na queda do asteróide, e sim nos diálogos escritos pelos fracos roteiristas: além de óbvios e repletos de clichês, eles não conseguem sequer reviver as divertidas tiradas tão freqüentes nas produções Disney (basta lembrar do gênio de Aladdin, do candelabro de A Bela e a Fera ou do dragãozinho de Mulan). Aqui, as piadinhas soam deslocadas, sem inspiração e, conseqüentemente, sem graça. Para piorar, o filme ainda confere maior peso às palavras do que à ação - algo fatal em produções do gênero (a não ser que você tenha um roteiro realmente de qualidade, como o de FormiguinhaZ).
O que nos leva a fazer a seguinte a pergunta: por que os personagens de Dinossauro têm que falar? Por que a história não poderia ser contada simplesmente através de suas ações? Talvez valorizássemos muito mais as atitudes do herói Aladar se ele não parasse eventualmente para dizer pérolas da sabedoria como `O destino é algo inevitável`. Será que realmente precisamos de um dinossauro que fale como um filósofo de bar? E será que o diálogo é mesmo tão indispensável, como parecem pensar todos os atuais executivos dos grandes estúdios? Tomemos, como exemplo, o esquecido O Homem das Cavernas, de 1981: protagonizado por Ringo Starr, Dennis Quaid e Shelley Long, o filme não possui um único diálogo (excetuando-se a palavra `merda`, que é dita uma vez - e por um pré-histórico japonês). No entanto, quando a trama chega ao fim, não só fomos capazes de compreender tudo o que aconteceu, como ainda aprendemos a identificar várias palavras do dialeto utilizado pelos personagens! Até mesmo o mediano Benji - Um Cão Desafia a Selva (1987) consegue contar sua história sem utilizar diálogos - feito compartilhado pelos animais de Os 101 Dálmatas - o Filme (1996), que só se comunicam através de seus sons habituais.
Não é à toa que a seqüência inicial de Dinossauro funciona tão bem: ali, vemos os dinossauros como foram na realidade e acreditamos nisso - somente para presenciarmos a magia sendo quebrada no instante em que o primeiro lêmure abre a boca e emite sons humanos. Uma pena, realmente, já que este filme poderia ter sido mais lúdico (e profundo) sem diálogos extraídos de manuais de auto-ajuda.
E o que é pior: na versão dublada em português à qual fomos submetidos à força (já que 90% das cópias de Dinossauro lançadas no Brasil não possuem legendas), somos obrigados a ouvir o fraquíssimo Fábio Assunção lutando com seus diálogos e Hebe Camargo bancando a atriz. Até mesmo a veterana Nair Bello estraga a brincadeira ao incluir um retumbante `Porca miséria!` entre seus diálogos (isso para não falarmos do ridículo `Gracinha!` emitido pela personagem de Hebe). Os únicos que se salvam são, como de costume, Leonardo José (sempre o vilão perfeito com sua poderosa voz) e Orlando Drummond.
Seja como for, Dinossauro merece ser visto por seu deslumbrante visual (realçado pela fotografia perfeita de David R. Hardberger e S. Douglas Smith) e por sua imponente trilha sonora (mais um belo esforço de James Newton Howard). Além disso, não há como negar que o fabuloso trabalho dos animadores da Disney representa, desde já, um marco na história do Cinema. Só faltava ser também um clássico.
27 de Junho de 2000