Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
19/01/2001 | 22/11/2000 | 4 / 5 | 4 / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
106 minuto(s) |
Dirigido por M. Night Shyamalan. Com: Bruce Willis, Samuel L. Jackson, Robin Wright Penn, Spencer Treat Clark e Charlayne Woodard.
M. Night Shyamalan é um diretor excepcionalmente talentoso. Na verdade, poucos cineastas possuem uma capacidade semelhante à dele quando se trata de estabelecer um clima tenso na tela. Em Corpo Fechado, por exemplo, Shyamalan consegue provocar arrepios de tensão no espectador logo na primeira cena, quando retrata, em tomada única e através de um jogo de reflexos, o nascimento de uma criança no interior de uma loja de departamentos. E o que é mais incrível: ele consegue manter este clima ao longo de toda a projeção sem apelar para cenas de ação ou violência.
O roteiro, escrito pelo próprio diretor, gira em torno de David Dunn (Willis), um homem amargurado cujo casamento está em crise e cujo emprego (segurança em um estádio) não parece satisfazê-lo. Certo dia, ao retornar de mais uma entrevista de trabalho, o trem em que ele se encontra descarrila e todos os passageiros a bordo morrem. Todos, exceto David, que, para espanto de seu médico, não sofre um único arranhão. É quando entra em cena o sofrido Elijah Price (Jackson), portador de uma rara doença genética (osteogenesis imperfecta) que torna seus ossos pouco densos e, portanto, passíveis de fraturas constantes. Impressionado com a história de David, Elijah se convence de que este é `inquebrável` - sua teoria é simples: se alguém frágil como ele pode existir, a natureza certamente deve ter criado alguém que pertença ao lado oposto do espectro. A partir daí, os dois homens desenvolvem uma estranha relação que os levará a fazer descobertas impressionantes.
Como você já pode imaginar, o tom adotado na narrativa de Corpo Fechado busca o fantástico, o inesperado (mas, ao contrário do que afirmaram alguns, não o sobrenatural). Não é à toa que Shyamalan introduz sua história com uma série de estatísticas sobre o universo dos gibis: o próprio filme parece ser, em muitos momentos, uma adaptação dos quadrinhos (e certos enquadramentos criados pelo cineasta são tão estilizados quanto aqueles vistos em certas HQs).
Aliás, nenhum aspecto da direção de Corpo Fechado deve-se ao acaso: é fácil perceber que cada movimento de câmera tem seu propósito e que relativamente poucas decisões tiveram que ser tomadas na sala de edição, já que o diretor abusa das tomadas longas. Isso indica algo mais: como roteirista, Shyamalan já cria suas cenas pensando no momento em que irá filmá-las - e em como irá filmá-las. Sua câmera não é uma mera observadora dos acontecimentos, mas sim parte ativa dos mesmos, auxiliando o cineasta a estabelecer o tom da narrativa. Um bom exemplo reside na cena em que David encontra-se no trem, logo no início do filme: ao acompanhar o diálogo entre o sujeito e uma bela garota que encontra-se ao seu lado, Shyamalan alterna sua lente entre os dois como se observasse a tudo por trás de uma poltrona. Com isso, ele não apenas transmite a sensação de que algo de errado está acontecendo, como também deixa o espectador ansioso, desconfortável (e as intervenções sonoras periódicas que acontecem sempre que o trem passa em um túnel contribuem para aumentar a tensão).
Outro exemplo da técnica do diretor pode ser encontrado na cena em que certo personagem aponta uma arma para outro em uma cozinha: ao optar por acompanhar o desenrolar da situação em uma única tomada, o cineasta torna tudo assustadoramente real. Aliás, não posso deixar de me lembrar de um outro diretor que se tornou notório pela utilização `ativa` dos movimentos de câmera em seus filmes: Alfred Hitchcock. E acreditem-me: a comparação não é nada infundada.
Infelizmente, Corpo Fechado não é isento de falhas: em alguns momentos, a narrativa torna-se excessivamente lenta, o que pode incomodar algumas pessoas. Além disso, a `reviravolta` presente no desfecho da história (a qual não irei revelar, obviamente) pode desagradar quem espera uma revelação no estilo de O Sexto Sentido, trabalho anterior de Shyamalan. Particularmente, acredito que esta `expectativa` seria um equívoco, já que a `surpresa` de Corpo Fechado não tem o objetivo de fazer com que reavaliemos toda a narrativa, mas sim o de complementá-la. Na verdade, confesso que percebi o `truque` do roteirista bem antes do esperado - e isso não comprometeu em nada a minha experiência.
Contando ainda com a fotografia sombria de Eduardo Serra e com a tensa trilha sonora de James Newton Howard, Corpo Fechado é um filme denso e envolvente. E o que é mais importante: é a prova definitiva de que O Sexto Sentido não foi um mero golpe de sorte. M. Night Shyamlan veio mesmo para ficar.
20 de Janeiro de 2001