Seja bem-vindx!
Acessar - Registrar

Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
24/04/1998 17/07/2001 4 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
93 minuto(s)

Boleiros - Era Uma Vez O Futebol...
Boleiros - Era Uma Vez O Futebol...

Dirigido por Ugo Giorgetti. Com : Rogério Cardoso, Adriano Stuart, Flávio Migliaccio, Lima Duarte, Otávio Augusto, Cassio Gabus Mendes, Marisa Orth, Denise Fraga, João Acaiabe, Oswaldo Campozana, Antônio Grassi, André Abujamra, Elias Andreato, Cláudio Curi, Paulo Coronato, Bruno Giordano, e apresentando César Negro, João Motta, Cléber Colombo, Adilson Pancho, Robson Nunes, Eduardo Mancini e André Bicudo.

Boleiros é um filme que fala do futebol, não de futebol - a partida em si. Apesar de em uma ou duas seqüências o próprio jogo se tornar importante na narrativa, na maior parte do filme o diretor Giorgetti aborda assuntos paralelos a ele, preferindo se concentrar nas vidas ligadas a este esporte: o jogador, o técnico, o juiz, o empresário de atletas, as esposas, os torcedores, e assim por diante.

Num típico bar paulistano, onde fotos de jogadores estão espalhadas pelas paredes, seis amigos costumam se encontrar para relembrarem os velhos tempos. O que eles têm em comum: são todos boleiros, profissionais e ex-profissionais do futebol. Reunidos à mesa, eles alinhavam aqui e ali uma observação que os remete a algum caso curioso e inesquecível de que tiveram notícia. A partir daí, o roteiro de Giorgetti nos conta seis pequenas histórias: algumas engraçadas, outras divertidas, outras comoventes.

O filme tem um início forte: Giorgetti escolheu, sabiamente, a história sobre o Pênalti para iniciar sua narrativa. Digo `sabiamente` porque esta é, sem dúvida, a mais engraçada de todo o filme e, assim, já coloca a platéia no clima adequado para receber o restante da história. E funciona: a partir daí, o público ri de praticamente tudo o que aparece no filme, mesmo quando a coisa não é tão engraçada assim. Particularmente, meu episódio preferido é o segundo, que conta a história do Paulinho Majestade, um ex-atleta famoso que agora, na miséria, coloca todos seus troféus e medalhas à venda. Comovente, terno, este é o episódio mais `sentimental` de todo o filme, funcionando maravilhosamente bem.

O Pivete é uma pequena análise sobre a violência, a desigualdade social e o talento. Nele, Otávio (Stuart), dono de uma escolinha de futebol, conhece um garoto que é um verdadeiro craque. O problema é que o menino é um pequeno marginal que tem uma vida misteriosa. Em Azul, o quarto episódio, Giorgetti mais uma vez mistura, com talento, humor e reflexão. Azul é um jogador que acaba de fazer o gol mais bonito de toda sua carreira (na verdade, o diretor usou o gol feito por Dener, há alguns anos atrás, e que muitos consideram o gol mais bonito da década de 90). No entanto, a vida do jogador vai ser bastante atribulada naquela noite: ele terá que escapar de uma garota com a qual tem uma filha; passa por um programa de rádio; por uma mesa-redonda (divertidíssima, por sinal, com a presença do humorista Serginho Leite; e vai, finalmente, se encontrar com um empresário italiano que quer levá-lo para a Europa. O final do episódio é uma crítica aberta ao preconceito e - mais uma vez - às desigualdades em nosso país.

O quinto episódio, sobre o jogador contundido, também é bastante engraçado, graças à presença luminosa de três estreantes: Adilson Pancho, Robson Nunes e Eduardo Mancini. O trio de corintianos fanáticos (que são capazes de tudo para fazer com que a contusão do astro do time melhore) é hilário. Infelizmente, o final do episódio é mal-resolvido, com uma fraca participação de André Abujamra. Já o sexto episódio, Frio, é o mais fraco de todos - o que é uma pena, já que fecha o filme. Excetuando-se a atuação sempre competente de Lima Duarte, a história de Frio é até interessante, mas tem uma resolução pra lá de insatisfatória. Assim, muitos são os que saem do cinema com aquela sensação de `Acabou assim?`.

Todos os episódios têm belíssimas atuações, e a escolha do elenco foi ótima. Agradou-me, particularmente, o equilíbrio que o diretor Giorgetti teve ao mesclar atores já consagrados, globais, com outros não tão conhecidos e estreantes. Este equilíbrio, que faltou a Policarpo Quaresma, por exemplo, facilita para o público a identificação com os personagens, sem distrações do tipo: `Olha! É aquele ator!`. Num elenco com atuações tão boas fica difícil destacar alguém, mas não posso deixar de comentar a maravilhosa performance de Flávio Migliaccio. Seu Naldinho é comovente, ingênuo, divertido em sua simplicidade. Seu monólogo final, apesar de encerrar o filme um pouco `para baixo`, é bem emocionante. Adriano Stuart e Rogério Cardoso também têm ótimos momentos. (Curiosidade: Stuart tem uma antiga carreira como diretor, tendo dirigido alguns filmes da época mais `fértil` dos `Trapalhões`).

A direção de Giorgetti é perfeita. Além de deixar os atores totalmente à vontade para trabalhar, o diretor movimenta sua câmera de maneira a realçar os pontos fortes de cada personagem (o olhar torto de Azul é um bom exemplo disso). Além disso, ele é hábil ao criar pequenas gags com seus enquadramentos, como no momento em que nos revela, aos poucos, uma imensa escadaria pela qual deverá subir o jogador contundido do quinto episódio.

Boleiros é, sem dúvida, mais um belo exemplar de nosso cinema, merecendo ser visto. Mesclando emoção e humor, o filme tem tudo para fazer um gol de placa - como o do Azul.
``

4 de Junho de 1998

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

Para dar uma nota para este filme, você precisa estar logado!