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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
13/02/1998 02/05/1997 3 / 5 4 / 5
Distribuidora
Duração do filme
94 minuto(s)

Austin Powers - Um Agente Nada Discreto
Austin Powers: International Man of Mystery

Dirigido por M. Jay Roach. Com: Mike Myers, Elizabeth Hurley, Robert Wagner, Michael York, Mimi Rogers, Seth Green, Tom Arnold, Carrie Fisher, Rob Lowe.

Austin Powers é o típico filme que eu não ousaria recomendar para ninguém. Não que ele seja ruim. Pelo contrário: me diverti bastante e dei boas risadas vendo este filme. Eu e metade do cinema. A outra metade estava em silêncio total, pensando: `Como foi que vim parar aqui?`. Assim, antes de escrever esta crítica, aluguei o filme a fim de revê-lo e tentar descobrir os `porquês` destas opiniões tão divergentes.

A maior virtude de Austin Powers é, também, seu maior defeito: o filme é recheado daquele humor besteirol tão característico do Saturday Night Live, de onde veio Mike Myers, o astro e roteirista deste filme. E besteirol é um daqueles gêneros que não permitem o meio-termo: ou ama-se ou odeia-se.

Mas não estamos falando de um clone de Quanto Mais Idiota Melhor, outro filme escrito e protagonizado por Myers, no qual o besteirol marca presença do início ao fim. Não; em Austin Powers, Myers também busca um humor mais tradicional, linear. E é aí que consegue os melhores momentos do roteiro, por incrível que pareça.

Austin Powers (Myers) é um espião inglês nos anos 60. Além de ser um fotógrafo muito talentoso, Powers é um sex symbol para as mulheres de sua época, que não se importam com os dentes tortos e amarelados do rapaz. Ele é um adepto do `amor livre` e do lema `sexo, drogas e Rock’n Roll`. Seu maior inimigo é o satânico Dr. Evil (Myers, mais uma vez), um vilão à là Blofeld (com direito a gato e tudo o mais) que pretende dominar o mundo. O problema é que o Dr. Evil se congelou para escapar de Powers, e a única saída é congelar, também, o agente secreto a fim de que ele possa continuar a perseguir o Dr. Evil no futuro.

Trinta anos se passam. Estamos em 1997, a guerra fria não existe mais e a AIDS chegou para lançar uma sombra sobre a revolução sexual. É neste contexto que Austin Powers e o Dr. Evil são descongelados a fim de retornarem às suas atividades normais: batalhar um contra o outro.

A premissa do filme, apesar de não muito original, é hábil em lidar com as deficiências de seus personagens principais frente a um mundo totalmente mudado. Em certo momento, por exemplo, Powers revela ter transado com a secretária de um dos vilões apenas para obter algumas informações. A agente que o acompanha, Srta. Kensington (a maravilhosa Elizabeth Hurley), pergunta, horrorizada: `Você usou algum tipo de proteção?`. E Powers, ingênuo quanto aos perigos da década de 90, responde: `Claro. Eu levei meu revólver 9mm.`.

Mas os melhores momentos do filme ficam mesmo por conta do vilão, Dr. Evil. Myers parece ter se divertido muito mais nas cenas em que interpretava o vilão do que o mocinho. Sua composição é perfeita: os muxoxos, o tique de levar o dedo mínimo à boca sempre que perpetra alguma maldade, enfim: tudo se combina para criar um dos vilões mais divertidos de 97. O roteiro aproveita para fazer uma sátira muito inteligente a todos os filmes de espionagem, especialmente à série 007. Além disso, Myers teve a brilhante idéia de criar um filho para o vilão, um adolescente revoltado por ter passado a vida inteira sem ter conhecido o pai - ele foi concebido a partir do sêmen congelado do Dr. Evil.

Outra fantástica `sacada` do roteiro é levar as cenas até um limite nunca antes visto nos filmes de espionagem. Por exemplo: em praticamente todos os filmes do gênero há uma cena na qual o vilão e seus capangas começam a gargalhar, depois de pensarem em um plano maligno. Pois bem: em Austin Powers, Myers nos mostra o que acontece depois que o acesso de riso passa. Além disso, a versão que chegou ao Brasil contém, ainda, duas seqüências (protagonizadas por Priscilla Presley e Rob Lowe) que mostram como os familiares e amigos dos capangas do vilão recebem a notícia de suas mortes. Estas seqüências foram retiradas da versão americana, mas felizmente mantidas nas versões `estrangeiras` do filme.

Mas Austin Powers tem, além disso, uma belíssima direção de arte (a seqüência que se passa em 1967 é fantástica; figurinos impecáveis; e uma trilha sonora fabulosa (incluindo Secret Agent Man, interpretada por Johnny Rivers). Outro ponto forte reside nas várias participações especiais incluídas neste filme: Robert Wagner (que faz o `No. 2`), Tom Arnold (que tem uma das melhores cenas do filme), Carrie Fisher, Christian Slater, além dos já citados Rob Lowe e Priscilla Presley.).

Porém, não podemos deixar de salientar o maior defeito do filme: a linguagem. Austin Powers não é uma daquelas comédias que fazem rir em todos os lugares do mundo. Várias das melhores cenas do filme têm sua graça principal na linguagem `anos 60` usada por Powers. (E, para atrapalhar ainda mais, temos uma legendagem em português que ignora as melhores tiradas do filme. Há uma cena, por exemplo, em que o Dr. Evil diz: `Begin the unnecessarily slow-moving dipping mechanism!` (em referência satírica às engenhocas usadas pelos vilões para matarem os mocinhos). A tradução? `Certo, guarda, pode ativar o mecanismo mergulhador.`. Traduções retalhadas como essa acontecem ao longo de todo o filme. Uma pena, realmente.

Groovy, baby!
``

31 de Março de 1998

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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