Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
11/02/2000 | 16/04/1999 | 2 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
108 minuto(s) |
Dirigido por Ted Demme. Com: Eddie Murphy, Martin Lawrence, Ned Beatty, Clarence Williams III, Obba Babatundé, Rick James, R. Lee Ermey.
Não há pior maneira de começar uma comédia do que mostrando os dois protagonistas sendo enterrados enquanto um personagem revela que eles morreram carbonizados depois de passarem uma vida inteira na cadeia. Além de extremamente deprimente, esta introdução revela, logo de início, tudo o que vai acontecer ao longo do filme: os dois heróis tentarão escapar da prisão várias vezes - sem sucesso - enquanto brigam incessantemente um com o outro. Como se não bastasse a melancolia, o elemento surpresa também é destruído.
Infelizmente, é exatamente assim que o diretor Ted Demme abre seu novo filme, Life (`Prisão Perpétua`), que no Brasil recebeu o péssimo título Até Que a Fuga Os Separe. Aqui, Eddie Murphy interpreta Ray Gibson, um pequeno marginal que, em 1932, vive de pequenos golpes, como bater a carteira de Claude Banks (Martin Lawrence), um sujeito que está prestes a iniciar uma nova fase em sua vida. O que eles têm em comum? Ambos devem dinheiro ao perigoso gângster Spanky. Para não serem mortos, eles se oferecem para transportar uma carga ilegal de bebidas até Nova York.
Porém, depois de receberem a bebida, os dois resolvem fazer uma pequena parada em um bar - onde descobrem o corpo de um mau elemento que, para complicar a situação, havia acabado de trapacear Ray no pôquer. Assim, eles são presos e condenados à prisão perpétua. A partir daí, passamos a acompanhar o relacionamento dos dois `amigos` ao longo de 60 anos, incluindo suas várias tentativas de fuga e sua convivência com os demais presos.
Um dos grandes problemas de Life reside na indecisão de Ted Demme com relação ao tom que vai conferir à sua narrativa: nos momentos mais dramáticos, ele insiste em introduzir piadinhas fracas que, além de não acrescentarem nada à trama, impossibilitam o filme de tornar-se mais denso (exemplo: em certo momento, para indicar a passagem dos anos, ele mostra vários personagens `desaparecendo` com um sorriso, naquela que é uma das poucas seqüências realmente emocionantes da história - e que é seguida por uma cena ridícula de Eddie Murphy tentando fugir em um avião). Em contrapartida, nos instantes visivelmente cômicos, Demme acrescenta tonalidades dramáticas a fim de - vejam só! - conferir maior complexidade aos seus personagens (como no momento em que o superintendente tenta descobrir quem engravidou sua filha). Com isso, o espectador fica impossibilitado de identificar-se com a história e, conseqüentemente, de reagir a ela (seja com risos ou lágrimas).
E isto é realmente uma pena, já que o filme conta com atuações realmente inspiradas de Eddie Murphy e Martin Lawrence (infinitamente mais contido do que em seus trabalhos anteriores). O processo de envelhecimento da dupla é transmitido de forma extremamente competente, graças não só à fabulosa maquiagem de Rick Baker, mas também à caracterização cuidadosa dos dois atores.
Porém, não há atuação que resista a um roteiro fraco como o deste filme, que consegue desperdiçar um conceito realmente interessante - além de roubar descaradamente os principais elementos de Um Sonho de Liberdade. Senão vejamos: o empenho de Lawrence em comandar a equipe de baseball do presídio é idêntico ao de Tim Robbins em restaurar a biblioteca de Shawshank; o jovem detento com dificuldade de raciocínio que revela-se um ás no baseball (despertando o interesse de Claude) é um reflexo do personagem interpretado por Gil Bellows em Um Sonho..., que, analfabeto, desperta a atenção de Andy; e, finalmente, em ambos os filmes alguém recebe a liberdade condicional e não consegue lidar com o fato. Além disso, os protagonistas das duas histórias são homens condenados injustamente à prisão perpétua. A desfaçatez dos roteiristas Robert Ramsey e Matthew Stone chega ao ponto de copiar um importante diálogo do filme de Frank Darabont: quando Eddie Murphy e Martin Lawrence são vistos pela primeira vez pelos demais detentos, o narrador da história comenta: `Quando os vi pela primeira vez, confesso que não dei muita coisa por eles`. Ora, esta é exatamente a mesma reação que Morgan Freeman (narrador de Um Sonho de Liberdade) tem ao ver o personagem de Tim Robbins pela primeira vez!
Até Que a Fuga Os Separe poderia ter sido um verdadeiro marco na carreira de Eddie Murphy, fazendo por ele o que O Show de Truman fez por Jim Carrey. Infelizmente, seus esforços são minados por uma trama fraca que torna-se ainda pior graças à inaptidão de um diretor pouco inspirado. Que ele é um ator verdadeiramente excepcional, poucos duvidam. Só lhe resta encontrar um roteiro que faça jus aos seus talentos sem ter que, para isso, limitá-lo ao tipo malandrão que ele vem interpretando ao longo de sua carreira.
16 de Dezembro de 1999