Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
10/09/1987 | 01/01/1970 | 4 / 5 | 4 / 5 |
Distribuidora | |||
20th Century Fox Home Entertainment | |||
Duração do filme | |||
94 minuto(s) |
Dirigido por Joel Coen. Com: Nicolas Cage, Holly Hunter, John Goodman, William Forsythe, Frances McDormand.
Joel e Ethan Coen formam, possivelmente, a dupla mais inventiva que já passou por Hollywood. Talvez isso explique o fato de serem `independentes`, ou seja, de não estarem presos a nenhum grande estúdio da Meca do cinema. Na Roda da Fortuna, Gosto de Sangue e Barton Fink - Delírios de Hollywood são três filmes geniais, criativos, envolventes. E assim também é Arizona Nunca Mais.
Nicolas Cage interpreta H.I. McDonnough (ou apenas Hi), um ladrão de lojas de conveniências que acaba se casando com Edwina (Hunter), a policial que sempre tirava suas fotos de fichamento na polícia. Depois de um período de felicidade imensa, o casal resolve ter um filho. E é então que uma bomba cai sobre suas cabeças: Edwina é estéril (`O interior de Edwina era um lugar pedregoso onde minha semente não encontrava adubo`, explica Hi em seu linguajar característico). A vida do casal se complica: Ed larga a polícia, Hi se flagra observando lojas que estão fora de seu caminho e tudo vai mal. É quando Nathan Arizona, o dono de uma cadeia de mobiliárias, tem uma surpresa: sua esposa Florence dá à luz a quíntuplos! Ed e Hi, naturalmente, resolvem que a coisa mais natural a fazer é tomar um dos bebês para si.
Toda a história narrada acima é revelada já nos primeiros minutos de filme, antes mesmo que o título apareça. É, sem dúvida, uma das melhores seqüências de introdução que já vi, se igualando, por exemplo, à seqüência inicial de O Jogador, de Robert Altman. Já neste ponto o espectador é capaz de perceber que está sendo convidado a mergulhar em um universo especial: os personagens criados pelos irmãos Coen não habitam o mundo normal (o Sidney J. Mussburger de Paul Newman em Na Roda da Fortuna é um exemplo claro disso).
Continuando: o seqüestro é bem-sucedido, e `Jr.` é levado para seu novo lar. Nesta altura a história vai ficando mais complexa, mas não pretendo contar mais nada a fim de não estragar as surpresas. Basta dizer que, a certa altura, praticamente todos os personagens do filme querem pôr as mãos no bebê Arizona.
No entanto, Arizona Nunca Mais não é um daqueles filmes capazes de provocar gargalhadas incessantes. Possui um humor mais discreto, pessoal - típico dos irmãos Ethan e Joel. Em certo momento, por exemplo, durante um assalto a banco, o personagem de John Goodman grita: `Isto é um assalto! Parados! Todo mundo para o chão!`, mas ninguém se mexe. É quando um velhinho, com as mãos para o alto, diz: `E então, o que vai ser, meu jovem? Quer que eu fique parado ou vá para o chão? Porque se eu fico parado, eu não posso cair, e se eu caio estarei me mexendo!` Ou quando, em uma loja, outro assaltante (Forsythe) pergunta para o dono: `Você tem aí algum daqueles balões que, depois de cheios, ficam com um formato engraçado?` E a resposta, seca: `Bom, não, a não ser que você ache redondo engraçado.`
Mas Arizona Nunca Mais possui mais do que um roteiro interessante; possui o toque característico dos Coen: a câmera parece nunca parar de se mover, criando ângulos e perspectivas fascinantes - um primor de técnica (três momentos me chamaram particularmente a atenção: os dois sonhos de Hi, e a seqüência em que este escreve um bilhete para Edwina durante a madrugada enquanto a câmera mostra todos os demais personagens do filme dormindo). Além disso, as interpretações inspiradas de Cage, Hunter, Goodman e Forsythe (como dois presidiários que escapam da cadeia e se alojam na casa do velho amigo Hi) contribuem para o sucesso do espetáculo. Trey Wilson, como Nathan Arizona, também está excelente.
Este é um daqueles filmes que podem funcionar maravilhosamente bem ou pessimamente mal, dependo da capacidade do espectador em mergulhar naquele universo tão estranho. Se conseguir encarar o filme com sua lógica particular, passará ótimos momentos; caso contrário, provavelmente desligará o vídeo na metade da fita - o que será uma pena.
14 de Janeiro de 1997