Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
22/11/1999 | 16/11/2002 | 3 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
76 minuto(s) |
Dirigido por Beto Brant. Com: Zecarlos Machado, Carlos Meceni, Genésio de Barros, Cacá Amaral, Leonardo Villar, Melina Anthis, Rodrigo Brassoloto e Sérgio Cavalcante.
Beto Brant é um diretor inquieto. Também inquieta é minha percepção deste seu segundo filme, Ação Entre Amigos, que provoca, revolta e agrada ao mesmo tempo. São tantas as coisas de que gostei neste filme e tantas as que me incomodaram que estabelecer um consenso entre elas se torna uma tarefa quase impossível.
Logo de saída fui surpreendido pela criatividade dos créditos iniciais. Os filmes nacionais, de modo geral, não se preocupam muito com os créditos, o que leva o início da maioria de nossas produções a ser uma lista enfadonha de nomes. Aqui, não: os créditos já criam uma atmosfera interessante para a narrativa que se seguirá, servindo como introdução para a história. Uma grata surpresa, sem dúvida.
O filme conta a história de quatro amigos que se encontram em um final de semana para pescar. No passado, os quatro participaram de ações armadas contra a ditadura militar, assaltando um banco para arrecadar fundos para a revolução. No entanto, o assalto acabou levando à prisão de todos, juntamente com a namorada grávida de um deles. Agora, 25 anos depois, Miguel (o sujeito cuja namorada grávida também foi presa) descobre que o militar que os torturou durante meses - e que todos julgavam ter sido morto em um desastre de avião - está vivo. Assim, ele tenta convencer seus três amigos a acompanhá-lo em uma última missão: matar o torturador.
É impossível não comparar este filme à história contada por Roman Polanski em A Morte e a Donzela (que, por sua vez, foi baseada em uma peça de Ariel Dorfman). Ali, uma ex-prisioneira política acredita ter reencontrado o homem que a torturou durante a revolução e planeja se vingar. Em ambos os filmes há um terceiro elemento (em Ação Entre Amigos, os três companheiros de Miguel e em A Morte... o marido da ex-prisioneira) que, apesar de também ter sofrido nas mãos da repressão, não acredita que a vingança seja a melhor solução para o caso.
Os vinte primeiros minutos de projeção de Ação Entre Amigos são decepcionantes. Os personagens são introduzidos de forma confusa e a narrativa custa a engrenar. Além disso, os flashbacks são introduzidos em momentos impróprios, tornando a história ainda mais desconexa.
No entanto, foi aí que algo interessante aconteceu: comecei a me preocupar com os personagens, a sentir simpatia e até mesmo a identificar-me com a posição de cada um. Coincidência ou não, foi a partir deste momento que a narrativa tornou-se mais envolvente e ágil, quando os quatro amigos passam a procurar o torturador em uma cidadezinha do interior de São Paulo.
O ponto forte do roteiro (escrito por Beto Brant, Marçal Aquino e Renato Ciasca) é o dilema em que cada um dos amigos se encontra. Um deles, Miguel, não consegue enxergar nada mais além da vingança; outro, Paulo, acredita que aquilo faz parte de um passado há muito esquecido. Em certo momento, por exemplo, ele diz: `Já se passaram 25 anos! Nós já vivemos mais de lá para cá do que tínhamos vivido até então!`. Osvaldo, o terceiro amigo, não quer participar de um assassinato (Medo? Respeito à vida?; enquanto Elói guarda razões fortes para não desejar reviver o passado. Neste aspecto o roteiro de Ação Entre Amigos é extremamente habilidoso: a platéia consegue realmente respeitar o ponto-de-vista de cada um dos personagens.
Nada disso seria possível, é claro, se não fossem as excelentes atuações de Zecarlos Machado, Carlos Meceni, Genésio de Barros e Cacá Amaral, que vivem os quatro amigos em sua fase já madura. Atores desconhecidos do grande público, eles conseguem - em parte graças a isso - dar um rosto para os anônimos revolucionários dos tempos da ditadura militar. A única ressalva que eu faria: talvez a identificação da platéia com o ódio que Miguel (Machado) sente pelo torturador fosse maior se o ator não tivesse emprestado um ar tão agressivo, quase animalesco, a seu personagem. Da forma como ele se comporta, seu Miguel torna-se `irracional` demais para inspirar compaixão. A eficácia da atuação de Sigourney Weaver em A Morte e a Donzela devia-se, justamente, à frieza assustadora que sua personagem demonstrava em vários momentos.
Enquanto isso, o núcleo `jovem` do filme é lamentável, não fazendo jus ao talento dos atores citados acima. Leonardo Villar, por sua vez, não tem oportunidade de mostrar muita coisa, o que é uma pena. Infelizmente, o confronto entre o ex-torturador e os `ex-torturados` decepciona profundamente: depois de mais de uma hora de expectativa (`Qual será a reação de cada um deles ao enfrentar o velho militar?`; `Como o torturador irá encarar aqueles homens a quem infligiu barbaridades?`), a resolução do conflito é fraca, rápida demais.
Quanto à direção de Brant não há muito o que dizer: o jovem diretor prova, mais uma vez, que tem talento. Sua narrativa é dinâmica e prende a atenção do público. A fotografia de Marcelo Durst também merece destaque, juntamente com a excepcional trilha sonora de André Abujamra. Na verdade, pesando-se os `prós` e os `contras`, Ação Entre Amigos acaba ficando acima da média. Lidando com uma situação tensa e potencialmente cinematográfica, o filme merece uma conferida. No mínimo, ele traz a grande virtude de ser mais sóbrio e verdadeiro do que a bobagem que foi O Que É Isso, Companheiro?.
25 de Novembro de 1998