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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
16/01/1998 12/12/1997 4 / 5 3 / 5
Distribuidora
Duração do filme
119 minuto(s)

007 - O Amanhã Nunca Morre
Tomorrow Never Dies

Dirigido por Roger Spottiswoode. Com: Pierce Brosnan, Jonathan Pryce, Michelle Yeoh, Teri Hatcher, Joe Don Baker, Samantha Bond e Judi Dench.

Não se pode avaliar um exemplar da série `007` como se avalia um filme comum. Se a primeira coisa que vemos é um homem atirando contra o cano de um revólver, estamos entrando em outro universo, no qual James Bond reina, solitário.

Para início de conversa, o enredo não pode ser levado em conta. Todos os fãs da série sabem que verão um vilão megalomaníaco (que provavelmente quer dominar o mundo; que o braço-direito deste vilão será um assassino bárbaro, capaz de fazer qualquer coisa para obedecer seu chefe; que Bond usará várias - e improváveis - engenhocas fornecidas pelo setor `Q`; que ele irá usar um disfarce (neste caso, um banqueiro) para se aproximar do vilão, mas que assim que chegar perto deste irá revelar quem é na verdade, jogando na cara do sujeito que sabe o que ele fez... Bom, tudo isso está neste 18o. filme da série. Os bondmaníacos (eu, entre eles) não podem reclamar.

Desta vez, quem ameaça a estabilidade mundial é Elliot Carver (Pryce), um magnata da mídia que pretende detonar a III Guerra Mundial para obter elevadíssimos índices de audiência. Para isso, ele resolve provocar uma guerra entre a velha Inglaterra de James Bond e a China. E quem, a não ser o velho agente a serviço secreto de Sua Majestade, poderá impedir o maligno plano?

Tudo está em seu devido lugar: há a clássica cena em que o bandido diz: `Seja bem-vindo, Mr. Bond!`; estão lá as várias cenas em que este bandido diz a seu capanga: `Mate James Bond!`; há a cena em que 007 é interrompido por MoneyPenny enquanto beija uma garota; há o momento em que o vilão conta todo seu plano em detalhes para quem quiser ouvir; há explosões; há de tudo. A cartilha James Bond de como se fazer um filme foi cuidadosamente estudada pelo diretor e pelos roteiristas. Mas não é só isso: existem duas novidades agora. Na verdade, duas mulheres.

Uma é Paris Carver (Hatcher), e nós logo descobrimos que Bond esteve emocionalmente ligado a ela no passado. Bom, isso já não é tão comum. A outra novidade é Wai Lin, a destemida agente chinesa que faz parceria com Bond durante a metade final do filme. E isso é realmente novo. Até então Bond se ligara a vários parceiros `provisórios` durante seus filmes, mas todos eles acabavam morrendo em seguida. O que mais durou foi Felix Leiter, agente da CIA, que deu assessoria a Bond em várias aventuras. Mas ele praticamente não saía em campo com o agente britânico, apenas dava suporte.

E eis que agora Bond tem uma parceira que não só o enfrenta como o supera em diversas ocasiões. Só esta inovação já confere certo destaque a este `007`. E não é só a personagem que é boa, mas a atriz que a interpreta também. O vigor físico de Michelle Yeoh é de causar inveja a qualquer Bruce Willis. Talvez a agente Wai Lin devesse continuar mais um pouco na série - pelo menos fazendo uma pequena aparição na seqüência inicial do próximo filme.

Mas O Amanhã Nunca Morre também tem, infelizmente, seus graves defeitos. A seqüência inicial, antes dos créditos, é boa, mas não tem tanta força como a do filme anterior, por exemplo. Além disso, a música-tema (de Sheryl Crow) não é digna desta série, que já teve canções de Shirley Bassey e Tina Turner. Crow não chega aos pés dessas duas. E mais: o filme demora um bom tempo para `decolar`. O tempo perdido nas `explicações` é grande demais, e 007 custa a entrar em ação.

Além disso, temos a personagem de Teri Hatcher. Em toda a série eu só vi James Bond se emocionar três vezes: quando se apaixonou e se casou com Tracy Draco (Diana Riggs) em A Serviço Secreto de Sua Majestade; quando o vilão Sanchez (Robert Davi) mutilou Felix Leiter em Permissão Para Matar; e durante um centésimo de segundo em O Amanhã Nunca Morre, quando vê Paris (Hatcher). A verdade é que Bond se envolveu com a garota há anos atrás, e isso deveria ser um bom motivo para que ele odiasse ainda mais o vilão Elliot, que se casou com ela. No entanto, graças a uma recepção fria da platéia que assistiu a uma exibição-teste deste filme, a participação da atriz foi cortada em mais de 10 minutos. E isso compromete o filme. Da forma como ficou, não se estabelece a importância da garota para Bond, e a personagem torna-se totalmente dispensável. A verdade é que Hatcher acabou não fazendo falta a este filme, o que é uma pena, dada a importância que teria para a série se 007 se mostrasse apaixonado mais uma vez.

Mas esses `defeitos` não devem desanimar os fãs. O filme é divertido, tem ótimas seqüências de ação (sendo, a da moto, a melhor), e belas locações. Brosnan está bem mais seguro no papel do que no filme anterior. E as armas projetadas por `Q` (o sempre adorável Desmond Llewelyn, já bem velhinho...) são fantásticas.

E já que o `amanhã nunca morre`, que ele nos traga mais um filme com a marca `007` rapidamente, pois nosso entusiasmo também não morre.
``

18 de Janeiro de 1998

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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