Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
19/07/2002 | 01/01/1970 | 4 / 5 | 4 / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
126 minuto(s) |
Dirigido por Tony Scott. Com: Robert Redford, Brad Pitt, Catherine McCormack, Marianne Jean-Baptiste e Charlotte Rampling.
É sempre interessante conhecer personagens inteligentes, capazes de antecipar, como numa partida de xadrez, qual será o próximo passo de seus adversários e, então, superá-los. Tudo fica ainda melhor quando seus oponentes são igualmente inteligentes, levando o espectador a imaginar se o herói conseguirá derrotá-los. Esta regra é especialmente válida para filmes de espionagem: os melhores exemplares da série 007, por exemplo, são definidos por seus vilões - Auric Goldfinger em 007 Contra Goldfinger; e o Ernst Stavro Blofeld (vivido por Telly Savalas) em 007 A Serviço Secreto de Sua Majestade. Neste aspecto, Jogo de Espiões é relativamente satisfatório: o agente interpretado por Robert Redford é extremamente inteligente e fascinante, mas, infelizmente, seus adversários são tolos e jamais representam grande ameaça.
Escrito por Michael Frost Beckner e David Arata, o filme gira em torno do relacionamento entre Nathan Muir, um veterano agente da CIA, e seu antigo discípulo, Tom Bishop. Em seu último dia no trabalho, já que está prestes a se aposentar, Nathan descobre que Bishop foi capturado na China e condenado à morte, sendo que a execução acontecerá dentro de 24 horas. Enquanto é interrogado por seus superiores acerca do passado de seu velho aluno, Nathan procura agir nos bastidores do poder para garantir a libertação do rapaz – mesmo que, para isso, precise infringir todas as regras do jogo.
Interpretado com segurança por Redford, Nathan Muir é um agente competente e sempre atento aos detalhes: como um Sherlock Holmes moderno, ele passa a coletar informações assim que entra em uma sala, observando minúcias como rabiscos em um bloco de anotações ou os gestos nervosos de seus interlocutores. Além disso, o sujeito é um excepcional estrategista, manipulando com maestria as pessoas ao seu redor: para convencer Bishop a unir-se à CIA, por exemplo, Nathan não perde tempo com convites. Em vez disso, isola o rapaz – que é militar – por vários meses em um país distante, sem companheiros que falem inglês, e praticamente leva-o à loucura. Então, força um encontro `casual` e faz com que o convite surja de forma espontânea, como se a idéia houvesse lhe ocorrido naquele instante.
Outra seqüência interessante é aquela que enfoca o treinamento do jovem espião: montada de forma ágil e divertida, ela estabelece uma relação de professor e aluno entre os dois protagonistas, embora não seja muito verossímil – é difícil acreditar, por exemplo, que Bishop precisaria receber uma lição sobre `a importância do reflexo em um bule de café na hora de observar as pessoas em um ambiente qualquer`. E se você gosta dos equipamentos construídos pelo setor Q na série 007, Jogo de Espiões não irá lhe desapontar: de venenos capazes de matar com uma só gota a bombas de alcance assustador, o filme traz várias `invenções` cinematograficamente eficazes.
Mas o aspecto mais interessante da história é realmente a dinâmica entre Nathan e Bishop: apesar de encontrarem-se esporadicamente (somente quando algo importante está para acontecer em uma missão), os dois homens logo passam a nutrir um respeito mútuo, desenvolvendo uma afeição fria, mas real – algo compreensível no estranho mundo em que vivem (para Bishop, que passa os dias a saltar de uma missão a outra – e, conseqüentemente, de uma identidade falsa a outra -, Nathan também representa sua única ligação com sua vida anterior, autêntica).
A direção de Tony Scott, por sua vez, também ajuda a conferir grande energia ao filme: mantendo o estilo `frenético` de Amor à Queima-Roupa e Inimigo do Estado, o cineasta imprime velocidade à história graças à sua câmera inquieta: com Scott, um elevador não sobe, simplesmente, mas sim dispara rumo ao céu. Até mesmo as tomadas utilizadas para estabelecer a geografia da cena, e que mostram apenas edifícios e o horizonte, são montadas de maneira quase histérica, como se não houvesse tempo algum a perder.
Com isso, Jogo de Espiões torna-se um filme interessante, mas não inesquecível. Há muitas produções melhores sobre o mundo da espionagem, tanto do ponto de vista dramático (como O Homem Que Saiu do Frio, de 1965) quanto de ação (como Moscou Contra 007). Mas isso não quer dizer que este trabalho protagonizado pelos ótimos Robert Redford e Brad Pitt não seja uma boa diversão. Poderia apenas ser mais ambicioso, só isso.
Obs: é uma pena ver uma atriz competente como a inglesa Marianne Jean-Baptiste ser relegada ao papel de "secretária do herói". Quando Hollywood vai aprender a valorizar o talento? (A resposta, creio, é um triste "nunca".)
20 de Julho de 2002