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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
19/04/2002 08/03/2002 3 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
96 minuto(s)

A Máquina do Tempo
The Time Machine

Dirigido por Simon Wells. Com: Guy Pearce, Samantha Mumba, Omero Mumba, Mark Addy, Orlando Jones, Phyllida Law, Sienna Guillory, Alan Young e Jeremy Irons.

Eu adoro filmes sobre viagens no tempo. Na verdade, eu poderia citar uma infinidade de títulos do gênero que me divertiram imensamente, como a trilogia De Volta para o Futuro, Um Século em 43 Minutos, O Exterminador do Futuro 1 e 2, Bandidos do Tempo, TimeCop e Jornada nas Estrelas 4: A Volta para a Terra, entre outros. Ah, sim: e é claro que sou fã ardoroso do clássico A Máquina do Tempo, dirigido por George Pal e estrelado por Rod Taylor em 1960.

Assim, foi com certo receio que entrei no cinema para conferir esta nova adaptação do fantástico livro de H.G. Wells – receio que, infelizmente, se mostrou justificado. Aliás, chega a ser espantoso que esta produção tenha sido dirigida justamente por Simon Wells, bisneto do escritor, já que ele demonstrou não possuir o menor respeito pelo texto original, preservando pouquíssimos elementos da história, como a invenção que dá título ao filme (claro!) e parte da trama envolvendo os Eloi e os Morlock. E o que é pior: apesar de algumas destas mudanças serem interessantes (como a destruição da Lua), as demais só servem para atrapalhar a criação de Wells-bisavô.

Tomemos, como exemplo, o envolvimento amoroso que leva Alexander, o herói desta versão de 2002, a construir a máquina do tempo. No livro (e no filme original), o personagem trabalhava em sua invenção por pura curiosidade científica, o que era perfeitamente válido e servia para tornar suas motivações mais nobres. Desta vez, no entanto, o cientista age para atingir objetivos mesquinhos que não interessam a mais ninguém: ele quer salvar a vida de sua noiva, que foi assassinada por um ladrão. Como se não bastasse, depois que volta no tempo e falha em sua tentativa de salvá-la, Alexander simplesmente chega à conclusão de que modificar o passado é impossível e desiste de sua empreitada depois de enfrentar apenas o primeiro obstáculo (ignorando o fato óbvio de que ele mudou o passado, sim, já que Emma acaba sendo morta por outra pessoa. Ou seja: no mínimo, ele alterou a história de dois indivíduos: a do antigo e a do novo assassino). Em seguida, ele resolve ir ao futuro para descobrir o que o impede de alterar o passado – e a resposta que lhe é fornecida é, no mínimo, simplória.

A outra mudança reside no fato de que, agora, os Eloi, habitantes de uma civilização semi-destruída e localizada 800 mil anos no futuro, são capazes de falar o inglês! E o roteiro, diga-se de passagem, nem se preocupa em fornecer uma explicação plausível para isso: `É uma tradição de nosso povo`, diz alguém. Além disso, até mesmo a personalidade dos Eloi foi alterada, já que agora eles se mostram muito menos passivos do que na história original - algo que tornava a situação do cientista ainda mais desesperadora.

Aliás, o herói desta nova versão se parece mais com o detetive John McLane, de Duro de Matar, do que com um cientista propriamente dito. De `cientista`, ele traz apenas os traços mais caricatos, como os óculos, o cabelo desgrenhado e o jeito distraído – e, mesmo assim, estas características desaparecem depois de 15 minutos, quando Alexander passa a enxergar perfeitamente e se mostra atento aos mínimos detalhes do que acontece (vale dizer que Guy Pearce faz um trabalho miseravelmente ruim nestes minutos iniciais do filme, ficando mais à vontade quando seu personagem se transforma em herói de ação). Enquanto isso, Jeremy Irons deixa a atuação por conta de sua elaborada maquiagem, e limita-se apenas a dizer em voz alta os (péssimos) diálogos presentes no roteiro.

Já a parte técnica de A Máquina do Tempo é, obviamente, impressionante – em especial, as duas seqüências em que vemos Alexander viajando no tempo (embora eu ainda prefira a viagem vista no original, que é muito mais envolvente e assustadora). Por outro lado, os Morlock não convencem muito, já que alguns de seus movimentos, criados em computador, são falsos demais.

Para piorar, o roteiro, escrito pelo sempre medíocre John Logan, ainda encontra espaço para acrescentar à trama um personagem aborrecido que acabou sendo interpretado por um ator ainda mais irritante, Orlando Jones: um banco de dados, cuja interface apresenta-se em forma humana, e que, mais tarde na história, se irrita ao escutar perguntas que considera estúpidas – algo que deve ocorrer com freqüência, já que sua base de informações inclui registros completos de todas as ciências e manifestações artísticas da história da humanidade. Ah, sim: e o desfecho desta refilmagem é simplesmente terrível (faço apenas duas perguntas: como Alexander poderia ter adivinhado o que aconteceria se algo fosse atirado no mecanismo de sua máquina do tempo? E o que levaria a máquina a provocar tal efeito?).

Apesar de todos estes graves problemas, devo confessar que este filme conseguiu me entreter – mas, infelizmente, creio que isso não aconteceu em função da `qualidade` da produção, mas sim graças à minha predileção por histórias envolvendo viagens no tempo.

Basta dizer que até hoje me divirto com A Casa do Espanto 2...
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5 de Maio de 2002

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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