Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
05/06/2009 | 01/01/1970 | 3 / 5 | 4 / 5 |
Distribuidora | |||
Dirigido por McG. Com: Christian Bale, Sam Worthington, Bryce Dallas Howard, Anton Yelchin, Helena Bonham Carter, Moon Bloodgood, Jadagrace, Common, Jane Alexander, Michael Ironside, Terry Crews.
Hollywood tem desses mistérios: donos de uma carreira no mínimo irregular (isto se formos complacentes), os roteiristas John D. Brancato e Michael Ferris (A Rede, Vidas em Jogo, Mulher-Gato, entre outros) ganharam, em 2003, o direito de brincar com uma das franquias seminais do gênero de ação contemporâneo: O Exterminador do Futuro. O resultado, dirigido por Jonathan Mostow, foi um filme que, apesar de alguns bons elementos, trazia conceitos tão problemáticos que acabava enfraquecendo, em retrospecto, os longas anteriores. Estranhamente, isto não pareceu preocupar os produtores deste quarto capítulo da série, que não apenas recontrataram a dupla como ainda escalaram o fraco McG (As Panteras 1 e 2) para dirigir o projeto. O resultado: um filme tecnicamente competente que, embora não enriqueça a franquia, tampouco a compromete – o que, nestas circunstâncias, talvez possa ser visto como uma agradável surpresa.
Iniciando a narrativa com um longo texto de introdução que apenas relembra os principais incidentes da série, o roteiro logo nos apresenta a um novo personagem, Marcus Wright (Worthington), que se encontra prestes a ser executado em função de um assalto que resultou na morte de seu irmão e de alguns policiais. Abordado pela gravemente enferma Dra. Serena Kogan (Bonham Carter), Wright aceita doar seu corpo para a Cyberdine Systems, que irá empregá-lo em complexas experiências, e acaba acordando já em 2018, anos depois do sistema Skynet ter adquirido consciência e exterminado a maior parte da Humanidade. Confuso, ele se torna próximo do jovem Kyle Reese (Yelchin), que está sendo perseguido justamente por estar destinado a se tornar pai de John Connor (Bale), o líder da resistência humana – que, por sua vez, embarca numa arriscada missão para testar uma gravação que talvez tenha o poder de desativar as máquinas.
Com um primeiro ato que parece apresentar o longa como um filme de guerra (observem, por exemplo, como o diretor de fotografia Shane Hurlbut se inspira na paleta arenosa e dessaturada de tantos exemplares do gênero), O Exterminador do Futuro: A Salvação investe pesadamente no tom pós-apocalíptico, apostando nas locações desoladas e em novos tipos de ameaças para estabelecer um tom de urgência fundamental para a eficácia da história – e, assim, logo conhecemos vários novos “exterminadores”, de robôs aquáticos a voadores, passando por outros que se assemelham a motos e, claro, um gigantesco que parece se inspirar nos Transformers. Com isso, a ação se torna praticamente ininterrupta, substituindo o desenvolvimento de personagens ou mesmo da trama por seqüências cada vez mais elaboradas que dependem de efeitos visuais e de grandes explosões para funcionarem.
Neste sentido, aliás, A Salvação é irretocável: embora não conte com a criatividade das seqüências concebidas por James Cameron nos dois primeiros (e excelentes) filmes, este quarto capítulo é claramente superior ao terceiro no quesito “ação”. Vale dizer, também, que McG, normalmente um cineasta incapaz de ter uma idéia mais ambiciosa, surpreende especialmente no longo plano que, ainda no primeiro ato, traz Connor entrando num helicóptero, sendo atingido pela onda de choque de uma explosão, caindo com o aparelho e saindo da cabine – tudo isso sem cortes aparentes. E se a trilha sonora de Danny Elfman (outro irregular integrante da equipe) explora razoavelmente bem o tema composto originalmente por Brad Fiedel, o design de som do filme é o único elemento realmente excepcional do projeto, merecendo ser reconhecido na temporada das premiações.
Sem se esquecer de incluir várias referências aos capítulos anteriores para não desagradar os fãs (desde falas como “Venha comigo se quiser viver.” e “I’ll be back.” até o breve uso da música “You Could Be Mine”, do Guns N’ Roses), o roteiro comete erros primários ao empregar excessivamente, por exemplo, a exposição como recurso narrativo, já que, além do letreiro introdutório, ainda depende de narração em off, de fitas gravadas por Sarah Connor e, ainda pior, uma longa explicação fornecida por Helena Bonham Carter no terceiro ato. Como se não bastasse, Brancato e Ferris deixam passar furos absurdos, como o fato de Kyle dirigir perfeitamente embora deixe claro nunca ter conduzido um carro antes (algo que McG poderia ter contornado através de alguns poucos planos que ilustrassem o despreparo do rapaz) e – infinitamente pior – a recusa do Skynet em matar Reese depois de tê-lo aprisionado, já que isto colocaria fim de vez à eterna perseguição a John Connor.
E já que mencionei Connor, é preciso perguntar: o que, afinal, o torna tão especial para a resistência? Sua retórica capenga nos discursos transmitidos por rádio? Ou sua auto-propagada natureza lendária de líder? (Quando ele insiste na importância de salvar Reese, somos levados, inclusive, a questionar suas razões: ele está preocupado com o futuro da resistência ou apenas com sua própria existência?) Infelizmente, se o roteiro falha em estabelecer a relevância de John Connor como “Salvador” (sim, suas iniciais dão a pista), Christian Bale não se sai muito melhor – e é inexplicável, o motivo que levou um ator normalmente tão ambicioso a abraçar um personagem tão mal desenvolvido quanto este e que ele encarna sem qualquer carisma, limitando-se a empregar a intensidade (leia-se: gritos constantes e expressão sempre fechada) como muleta de interpretação. Da mesma forma, é fácil compreender por que Claire Danes se recusou a retornar à série, já que Bryce Dallas Howard, sua substituta, passa completamente em branco por toda a projeção.
Enquanto isso, Anton Yelchin marca presença em mais uma franquia (ele vive o Chekov no novo Star Trek), fazendo o possível para estabelecer o personagem como uma figura relevante, ao passo que as veteranas Jane Alexander e Helena Bonham Carter parecem ter recebido os cachês mais fáceis de suas carreiras por participações mínimas que não exigiram qualquer talento, dedicação ou composição de personagem. Para piorar, o filme conta com a presença do “Jack-Nicholson-dos-pobres”, Michael Ironside, que normalmente representa o beijo da morte em qualquer projeto, já que, para cada filme razoavelmente bom no qual aparece, pode ser visto em duzentos outros sofríveis. Por sorte, A Salvação traz uma surpresa agradável em seu elenco: Sam Worthington, que transforma seu personagem na figura mais humana do elenco ao incutir remorso e um claro desejo de auto-punição na composição daquele que é o claro protagonista do projeto (o que é uma surpresa, já que, particularmente, eu esperava que Bale desempenhasse esta função).
Ainda assim, é claro que McG força a mão ao investir em repetidas referências à crucificação ao enfocar Marcus Wright, pecando também por invocar o Holocausto num filme que, para todos os efeitos, não passa de entretenimento sem maiores pretensões dramáticas, trivializando uma tragédia real em prol da diversão.
Beneficiado por uma ponta que, por surgir súbita e inesperadamente, desperta nossa nostalgia, usando-a em benefício do filme, O Exterminador do Futuro: A Salvação poderia ser bem melhor do que é, sem dúvida alguma, mas também representa um alívio justamente por sabermos que é uma sorte que o resultado final esteja tão acima do que esperaríamos de uma equipe com um histórico tão frágil.
04 de Junho de 2009
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