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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
13/09/2002 01/01/1970 2 / 5 3 / 5
Distribuidora
Duração do filme
94 minuto(s)

Austin Powers em O Homem do Membro de Ouro
Austin Powers in Goldmember

Dirigido por Jay Roach. Com: Mike Myers, Beyoncé Knowles, Verne Troyer, Robert Wagner, Seth Green, Michael York, Mindy Sterling, Fred Savage e Michael Caine.

Quando escrevi sobre o primeiro exemplar da série Austin Powers, ainda em 1998, comentei que seu humor não era universal: boa parte de sua graça residia em piadas intraduzíveis, que certamente se perdiam na legendagem. Quatro anos depois, vejo-me na obrigação de repetir a constatação, mas com um acréscimo: Austin Powers em O Homem do Membro de Ouro é, provavelmente, ainda menos acessível ao público brasileiro do que seus dois capítulos anteriores, já que, além dos trocadilhos em inglês, o filme ainda concentra seus esforços em piadas envolvendo o sotaque holandês do vilão que dá nome à história.

Para tentar solucionar o impasse, a PlayArte resolveu contratar a equipe do Casseta & Planeta para auxiliar na redação das legendas, mas o resultado final é inconstante: algumas traduções são inspiradas (como Dixie Normous, que virou Kika Cette; outras são quase literais (como a oriental Fook Mi, que se transformou em Mi Komi; e outras são grosseiras e apelativas (como Foxy Cleópatra, inexplicavelmente rebatizada como Fiofoxy). Já as brincadeiras com o sotaque de Goldmember não conseguem render uma risada sequer, como já era de se esperar.

Com relação à história, não há muito o que se dizer: neste terceiro filme, Mike Myers parece ter desistido completamente de criar uma trama definida, optando por concentrar-se na elaboração de um grande número de gags, na esperança de que o espectador ignorasse a bagunça na qual o roteiro se transforma ao servir como mera desculpa para que os personagens saltem de uma piada para outra (no processo, algumas gargalhadas são garantidas, é claro, mas a falta de lógica das situações acaba impedindo que o público se importe realmente com os personagens, ao contrário do que acontecia nos capítulos anteriores). Assim, somos obrigados a testemunhar uma série de diálogos que não fazem o menor sentido e jamais compreendemos o que está acontecendo (ao que parece, há um `raio trator` envolvido, mas é tudo o que posso – ou consigo – dizer).

Outro grande problema reside no protagonista da série, o agente Austin Powers. Nos dois primeiros filmes, os roteiristas Mike Myers (sim, o próprio!) e Michael McCullers foram inteligentes ao mergulhá-lo em situações sobre as quais ele não tinha o menor controle: primeiro, ao transformá-lo em um anacronismo vivo, transportando-o da utópica década de 60 aos cínicos anos 90; e, em seguida, ao tirar aquilo que o definia: seu `mojo`. Desta vez, Powers não enfrenta grandes obstáculos pessoais, já que sua insegurança com relação ao pai jamais é bem desenvolvida pela história. Com isso, o personagem torna-se cansativo e perde o atrativo, o que é desastroso se considerarmos que a maior parte das cenas são protagonizadas por ele.

Em contrapartida, o Dr. Evil vem se tornando cada vez mais adorável: sempre sonhando em ser um grande vilão, mas sem levar-se muito a sério, ele parece uma criança com grave déficit de concentração, o que gera resultados hilários. Além disso, sua química com Mini-Me é fabulosa, e é lamentável que o vejamos relativamente tão pouco em O Homem do Membro de Ouro, já que o roteiro divide seu espaço entre uma infinidade de outros personagens pouco eficazes, como Goldmember, Fat Bastard (ou Igor Dão), Número 2, Foxy Cleopatra e o espião The Mole, dono de uma pinta que gera inúmeras piadas absolutamente dispensáveis. E se Michael Caine impressiona ao copiar os maneirismos de Austin Powers ao viver o pai do personagem, a verdade é que suas cenas não lhe fornecem um material adequado para transformá-lo em um elemento realmente engraçado.

Porém, Austin Powers 3 também tem seus bons momentos: a seqüência inicial, repleta de participações especiais, é hilária; o flashback que mostra Powers e o Dr. Evil em sua juventude é bastante divertido; as referências a filmes como Annie e Godzilla funcionam; e a brincadeira com as legendas em inglês é curiosa, embora não exatamente engraçada. Para completar, Verne Troyer rouba todas as cenas em que aparece como Mini-Me, provando que Mike Myers não é tão egocêntrico como alguns imaginam (e, diga-se de passagem, o fato é que o comediante é incrivelmente talentoso, já que consegue criar tipos completamente diferentes entre si – o que não quer dizer necessariamente que todos sejam cômicos). Ah, sim: e eu jamais poderia deixar de citar uma das únicas falas do roteiro que realmente funcionam: `Só há duas coisas que eu odeio: pessoas que são intolerantes com relação à cultura de outros povos... e os holandeses!`.

Inicialmente concebida como uma sátira aos filmes de espionagem (especialmente os da série James Bond), a franquia Austin Powers definitivamente perdeu seu rumo e converteu-se em uma auto-paródia pouco eficaz. Era mais engraçado quando Myers ria dos outros, e não de si mesmo.
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18 de Setembro de 2002

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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