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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
19/10/2001 18/05/2001 2 / 5 3 / 5
Distribuidora
Duração do filme
102 minuto(s)

Olhar de Anjo
Angel Eyes

Dirigido por Luis Mandoki. Com: Jennifer Lopez, Jim Caviezel, Sônia Braga, Jeremy Sisto, Victor Argo, Monet Mazur e Shirley Knight.

Em algum lugar de Olhar de Anjo há uma bela história sobre como nossas vidas são influenciadas pelas memórias (felizes ou não) de acontecimentos que nos marcaram ao longo dos anos. Não raramente, nossa percepção de determinados lugares ou pessoas é alterada por apenas um acontecimento infeliz – mesmo que outras tantas boas recordações estejam a eles associadas. De certo modo, é isso que o roteirista Gerald Di Pego tenta analisar em seu mais recente trabalho: a tendência natural do ser humano de permitir que suas relações sejam mais influenciadas por suas experiências negativas do que pelas positivas.

Tomemos, como exemplo, a policial Sharon Pogue (Lopez): afastada de sua família há vários anos, ela luta para se reaproximar da mãe e do irmão, mas sempre acaba esbarrando nos ressentimentos que nutre pelo pai, com quem se desentendeu gravemente no passado. Enquanto enfrenta a própria amargura, a moça conhece e se envolve com o misterioso Catch (Caviezel), que, por sua vez, também traz marcas de terríveis acontecimentos impressas em seu cotidiano: vivendo de forma extremamente solitária, ele encontra, em Sharon, alguém com quem pode se identificar – sem entender exatamente o que o liga a ela. À medida que o relacionamento do casal vai se desenvolvendo, porém, eles são obrigados a enfrentar o passado e, no caminho, descobrem um denominador comum em suas trilhas.

Infelizmente, em vez de abordar o tema de maneira mais profunda e reflexiva, Di Pego decide percorrer o caminho mais fácil e mergulha a história em um universo de melodrama e clichês. Além disso, ele procura conferir um tom sobrenatural à trama que jamais se justifica (como se tentasse repetir o `truque` utilizado em Fenômeno, um de seus trabalhos anteriores). Para piorar, o roteirista resolve surpreender a platéia, no final do segundo ato do filme, com uma revelação que se torna óbvia para qualquer um já nos dez primeiros minutos de projeção. Assim, o espectador percebe, de imediato, algo que os protagonistas de Olhar de Anjo só descobrirão bem mais adiante – o que, de certa forma, diminui nosso interesse pelo processo vivido pelo casal.

O curioso é que Sharon e Catch são personagens bastante interessantes – é o filme no qual estão presos que não impressiona. Aliás, a mesma estranha contradição acontecia em Uma Carta de Amor, projeto anterior do diretor Luis Mandoki (também escrito por Di Pego), que trazia Kevin Costner e Paul Newman em dois papéis envolventes somente para sufocá-los em um roteiro nada instigante. Sharon, em particular, torna-se uma figura quase tridimensional ao longo da trama graças à complexidade de sua personalidade e ao ótimo desempenho de Jennifer Lopez, que vem se tornando uma atriz cada vez mais inteligente. Sempre incomodada pelo fato de seus encontros românticos girarem em torno de seu trabalho, a policial sente-se incrivelmente à vontade ao lado de seus colegas do sexo masculino, que a tratam de forma igualitária e profissional.

Enquanto isso, Caviezel continua a demonstrar seu talento em mais uma ótima performance. O fato é que Catch poderia facilmente cair no ridículo ou se transformar em uma caricatura, já que é um personagem obcecado pelo propósito de ignorar o passado e aparenta viver em um universo à parte. Humanizado pelo desempenho sensível e comedido de Caviezel (repare como ele cobre os lábios quando Sharon elogia seu sorriso), ele se torna uma figura trágica, mas não grotesca. Além disso, o ator comprova seu alcance dramático em um belo monólogo que acontece em um cemitério. Já a brasileira Sônia Braga também encontra espaço para brilhar em uma pequena, mas marcante aparição como a amargurada mãe da protagonista.

Caso fosse menos previsível e se arriscasse mais, Olhar de Anjo provavelmente seria um envolvente estudo de personagens. No entanto, ao ser idiotizado pela mentalidade simplista de Hollywood, tornou-se formulaico e desperdiçou duas boas criações. Sharon e Catch certamente mereciam um veículo melhor.
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15 de Outubro de 2001

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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