Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
20/02/2004 | 09/01/2004 | 4 / 5 | 5 / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
125 minuto(s) |
Dirigido por Tim Burton. Com: Ewan McGregor, Albert Finney, Billy Crudup, Jessica Lange, Alisson Lohman, Helena Bonham Carter, Robert Guillaume, Matthew McGrory, Marion Cotillard, Danny DeVito e Steve Buscemi.
Edward Bloom é um contador de histórias. Assim como o lendário Barão de Münchhausen, ele narra, para quem quiser ouvir, incidentes fantásticos que protagonizou ao longo de sua vida – porém, ao contrário do Barão, que `cavalgou balas de canhão` e `ergueu a si mesmo pelos cabelos`, os casos de Edward têm, como ponto forte, não as peripécias do narrador, mas sim as estranhas figuras que este encontrou pelos quatro cantos do mundo.
É mais do que apropriado, portanto, que o ótimo roteiro de John August (adaptado a partir do livro de Daniel Wallace) tenha início com um típico `causo` de pescador – uma narrativa envolvendo um peixe impossível de ser pescado e a aliança do próprio Edward. Infelizmente, apesar de ser um excepcional contador de histórias (afinal, ele passou toda sua vida praticando), o sujeito acaba despertando mágoas em seu filho, que se ressente por jamais ouvir o pai contar algo `real` sobre si mesmo. Assim, quando é informado de que Edward está morrendo, o jovem Will Bloom decide voltar para casa (acompanhado por sua esposa grávida) com o objetivo de tentar finalmente `conhecer` seu pai – que, por sua vez, não perde a oportunidade de relatar suas `experiências` para a nora, que, afinal de contas, nada mais é do que uma nova platéia.
E que `experiências`: para Edward, nada é prosaico. Ao descrever como viu sua esposa pela primeira vez, por exemplo, ele explica como `o tempo pára` quando conhecemos `nosso grande amor` (numa belíssima tomada que leva este conceito ao pé da letra). Além disso, suas histórias envolvem figuras como gigantes, bruxas e peixes gigantescos, originando incidentes extremamente fantasiosos que capturam a imaginação do espectador de forma arrebatadora. Aliás, é justamente a magnitude das `proezas` de Edward que explica a metáfora descrita pelo título do filme: como um grande peixe que morre por ser confinado em um aquário pequeno demais para suas dimensões, Edward é um homem que, apesar de não possuir ambições colossais, tem uma imensa energia e um impressionante prazer em viver – e, também como os peixes (que precisam nadar constantemente para que possam `respirar`), a imobilidade (leia-se: monotonia) pode ser fatal para ele.
Esta característica, diga-se de passagem, é brilhantemente retratada pelos dois intérpretes que dão vida a Edward: Ewan McGregor, que encarna o personagem em sua fase mais jovem, revela inteligência ao mostrá-lo sempre sorrindo - mesmo nos momentos mais difíceis – e enfrentando os problemas com uma autoconfiança inabalável. Já Albert Finney assume a difícil tarefa (que executa com a eficiência habitual) de ilustrar, para o público, como Edward é torturado pelas limitações impostas por sua saúde debilitada, que o impedem de sair de casa. Para tornar tudo mais interessante, a escalação de McGregor, Finney e Perry Walston (que vive o personagem aos 10 anos de idade) foi extremamente feliz, já que os três realmente se parecem, o que confere maior autenticidade à história. Aliás, o mesmo vale para Alison Lohman e Jessica Lange, que, apesar de pouco exploradas pelo filme, convencem como as duas versões (em idades diferentes) da mesma personagem.
Explorando ao máximo a inventividade do roteiro de August, o cineasta Tim Burton mostra-se inteiramente à vontade neste universo – que, afinal de contas, não se revela muito distante daqueles vistos em seus trabalhos anteriores, como Os Fantasmas se Divertem, Edward Mãos-de-Tesoura e Batman (além, é claro, do maravilhoso O Estranho Mundo de Jack, que, apesar de ter sido dirigido por Henry Selick, traz a marca inconfundível de Burton, que não apenas o produziu como também trabalhou na concepção da história e do visual do filme). Não é à toa que um dos principais atrativos de Peixe Grande reside no design de produção do talentoso Dennis Gassner, parceiro habitual dos irmãos Coen. Da mesma forma, a fotografia do francês Philippe Rousselot destaca-se por conferir o clima apropriado a cada seqüência, das assustadoras às românticas – e seu preciosismo merece aplausos: observe, por exemplo, como o rosto da jovem Sandra Bloom aparece sempre mais iluminado do que o restante do ambiente (e, em alguns instantes, quase em soft focus), ilustrando a maneira etereal, romantizada, com que Edward a enxerga.
Por outro lado, é uma pena que Burton acabe cometendo o mesmo equívoco de Will, filho do protagonista: ao tentar conhecer o `verdadeiro` Edward, o filme se enfraquece justamente por tentar explicar o ilusório, como se revelasse os segredos por trás dos truques de um mágico. O que Will (e Burton) não parece entender é que seu ressentimento com relação às histórias do pai é uma bobagem: enquanto se preocupa por julgar que as narrativas fabulosas de Edward o impedem de conhecê-lo, Will deixa de perceber o mais importante: são elas que o definem. Talvez Edward tenha criado suas histórias por ter passado parte da infância preso em sua cama, ou talvez para simplesmente divertir o filho, mas o fato é que elas revelam muito mais sobre sua personalidade do que uma descrição puramente factual de sua vida o faria. Porém, ao contrário de Will (que, de uma maneira ou de outra, parece perceber isso), o diretor compromete parte da fantasia durante o terceiro ato, quando tenta conferir certo grau de realismo àquele universo.
Ora, a descrição de Edward sobre seu primeiro encontro com Sandra, que `fez o tempo parar`, pode até ser falsa, mas isso não importa. O que interessa é o que a história revela: seu amor incondicional pela esposa. E, se o fantástico consegue traduzir a realidade com poesia, por que trocá-lo pelo literal? Por sorte, Edward Bloom jamais perde este paradoxo aparente de vista, mesmo que Tim Burton ocasionalmente o faça.
23 de Fevereiro de 2004
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