Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
07/05/2015 | 01/01/1970 | 3 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Vitrine Filmes | |||
Duração do filme | |||
91 minuto(s) |
Dirigido por Maíra Bühler e Matias Mariani.
A ideia inicial dos diretores Maíra Bühler e Matias Mariani era a de realizar um documentário sobre estrangeiros que se encontram nas penitenciárias brasileiras – um plano que a dupla alterou quando, durante a pesquisa, entrou em contato com o norte-americano Chris Kirk, cuja história atraiu a atenção dos cineastas a ponto de se tornar o centro do projeto.
E durante a maior parte de A Vida Privada dos Hipopótamos compreendemos a decisão: Kirk é um excelente contador de histórias e, surgindo sempre com um sorriso aberto e com os olhos grandes e claros exibindo uma alegria imensa de ser ouvido, parece realmente merecer o posto de protagonista de seu próprio filme. Explicando que sua trajetória rumo à prisão começou quando ouviu falar sobre os hipopótamos importados para a Colômbia por Pablo Escobar e que passaram a fazer parte do ecossistema local, Kirk explica que logo decidiu visitar aquele país quando, já em seu primeiro dia, conheceu a bela V., com quem iniciou um relacionamento turbulento que durou cerca de dois anos.
Neste ponto, Bühler e Mariani embarcam na narrativa de seu personagem, que passa a ditar os rumos da história – e, com isso, a maior parte da projeção é dedicada à passagem de V. pela vida do sujeito. Retratada como uma mulher misteriosa (algo ressaltado pelas fotos e vídeos que parecem prestes a revelar seu rosto, mas nunca chegam a fazê-lo), a garota parece envolver o ingênuo norte-americano e a manipulá-lo com maestria, sendo divertido perceber como, em retrospecto, Kirk se mostra atento aos sinais estranhos que o relacionamento gerava (algo que enlouquece seus amigos, que surgem assistindo à sua entrevista em certo ponto). Além disso, como já sabemos que história de Chris terminará na cadeia, sentimos uma ansiedade crescente com relação aos incidentes que o levaram até ali e que certamente devem envolver V., já que ela domina a narrat…
… não. O envolvimento da moça é, no máximo e com muita boa vontade, apenas periférico na prisão de Kirk. E, assim, a pergunta é: por que diabos passamos cerca de 60 minutos ouvindo histórias sobre a garota?
É precisamente isto que transforma A Vida Privada dos Hipopótamos em uma experiência tão frustrante apesar de prender nossa atenção e de criar uma boa expectativa em torno do protagonista durante boa parte do tempo: o documentário não só engana o público com sua estrutura como ainda não justifica a mudança no foco do projeto, já que, por melhor que Chris Kirk seja pra contar sua história, a verdade é que esta não se revela particularmente interessante no fina das contas.
No processo, claro, há passagens memoráveis (como sua reflexão acerca da futilidade de uma vida suburbana de classe média), mas, no final das contas, há sempre o fracasso final em fazer jus à expectativa que cria. Fã assumido de con artists (trapaceiros), Chris Kirk aparentemente aplicou um golpe perfeito ao sugerir que tinha algo na manga quando esta trazia apenas um vazio completo.
Texto originalmente publicado como parte da cobertura do Festival do Rio 2014.
01 de Outubro de 2014