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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
07/05/2015 01/01/1970 2 / 5 2 / 5
Distribuidora
Paris
Duração do filme
115 minuto(s)

O Franco-Atirador
The Gunman

Dirigido por Pierre Morel. Roteiro de Don MacPherson, Pete Travis e Sean Penn. Com: Sean Penn, Jasmine Trinca, Javier Bardem, Ray Winstone, Mark Rylance, Peter Franzén e Idris Elba.

Sean Penn é um de meus atores favoritos. Sua entrega a cada papel que encarna é algo que muitas vezes ultrapassa os limites até mesmo do method acting – e mesmo tendo um rosto marcante, é impressionante como é difícil imaginar que personagens como aqueles retratados no fantástico Os Últimos Passos de um Homem, no belo Milk, no melancólico Sobre Meninos e Lobos e no péssimo Uma Lição de Amor possam habitar o mesmo corpo. Assim, vê-lo encarnar um típico herói de ação em O Franco-Atirador pode ser estranho, mas não há como negar sua entrega habitual, já que o ator exibe aqui um corpo digno de Stallone mesmo aos 54 anos de idade. Por outro lado, é triste perceber como o filme, que busca fazer por Penn o que Busca Implacável fez por Liam Neeson, usa as causas políticas tão caras ao ator de forma cínica, resultando ainda num esforço medíocre e sempre previsível.


Parte deste resultado certamente se deve ao fato de o roteiro ter sido escrito por uma comissão formada por Penn, por Don MacPherson (do pavoroso Os Vingadores, de 1998) e pelo estreante Pete Travis a partir de um livro de Jean-Patrick Manchette, já que soa desconjuntado, como se uma parte não se encaixasse a outra (e é perfeitamente plausível que Penn tenha inserido o contexto político em uma trama que pretendia apenas investir em uma conspiração qualquer). Seja como for, nada desculpa o caráter formulaico do roteiro – e quando ouvimos a namorada do herói dizer, feliz, que o verá mais tarde, já sabemos que algo acontecerá para impedir o encontro. Basta dizer que oito anos se passam e que Jim Terrier (Penn), agora arrependido de suas ações passadas, subitamente se descobre alvo de um grupo que pretende matá-lo e parte em uma missão particular para tentar desvendar o que está havendo enquanto lida com uma doença neurológica – reencontrando, no processo, não só Annie (Trinca), mas também o velho amigo Stan (Winstone) e o desafeto Felix (Bardem).

Atravessando ambientes enfumaçados e habitando quartos sempre vazios que ressaltam a ambiguidade e a solidão de sua existência (obra do diretor de fotografia Flavio Martínez Labiano e do designer de produção Andrew Laws), Terrier é um homem que traz um cigarro eternamente preso aos lábios e o rosto repleto de rugas que tornam Penn tão expressivo. Por outro lado, a abordagem visual do diretor Pierre Morel (sim, de Busca Implacável) é assustadoramente incoerente, saltando de uma atmosfera conspiratória (com planos-detalhe de câmeras na rua e rostos por trás de cortinas) para outra que parece tratar os inimigos do protagonista como figuras de presença óbvia e motivos claros.

No entanto, o erro mais grave no trabalho de Morel é ignorar o próprio virtuosismo demonstrado em sua estreia, B1313º. Distrito, e construir as sequências de ação como recortes caóticos que transformam as lutas em combates desinteressantes e retratam os tiroteios como momentos burocráticos e repletos de clichês, com oponentes incapazes de acertar o alvo mesmo quando este corre por um corredor estreito e cujas balas provocam apenas faíscas em grades localizadas a centímetros do rosto daqueles que deveriam acertar. Aliás, Morel se mostra tão preguiçoso que chega a ser capaz de incluir um plano subjetivo que, buscando retratar os efeitos da doença de Terrier sobre sua percepção visual, traz um personagem que, supostamente encarando o sujeito, não olha para a câmera. Incompetência tem limite – especialmente num projeto multimilionário como este, que não deveria trazer um erro tão amador.

Mas a falta de lógica está também no roteiro, bastando testemunhar as ações do empresário vivido por Javier Bardem para perceber isto e que atingem o ápice da insanidade num momento em que o sujeito, até então um exemplo de autocontrole, começa a beber e a se comportar como um louco. E mais: até os funcionários de uma casa na qual um tiroteio ocorre parecem enlouquecer, já que, mesmo diante de tanto barulho, continuam a exercer suas tarefas cotidianas, colocando roupas para lavar e cuidando de cavalos (bom, talvez eles sejam todos surdos e simplesmente não tenham ouvido os disparos).

A verdade, porém, é que O Franco-Atirador é um daqueles filmes que já sentimos ter visto um milhão de vezes: o vilão tem um capanga principal que, claro, sempre escapa vivo mesmo quando todos os companheiros morrem (o que reserva convenientemente sua morte para o clímax, precedendo a do chefe); a doença do protagonista só apresenta sintomas nos momentos mais convenientes para a trama; e, como não poderia deixar de ser, a única personagem feminina é pouco mais do que um troféu a ser disputado, demonstrando sua “feminilidade” através da vontade de ser mãe e da incapacidade de se proteger sem a ajuda do macho-alfa que a cobiça.

Ainda assim, o longa tem seus bons instantes, destacando-se aquele no qual Penn encontra uma armadilha e a emprega de maneira engenhosa e também... hum... não, só isso, mesmo. No restante do tempo, somos presenteados com sequências incrivelmente estúpidas, como a que envolve um touro (nem perguntem) e outra que traz Idris Elba completamente desperdiçado em uma quase ponta que não faz o menor sentido. Aliás, se há algo que evita que a experiência se torne insuportável é a intensidade de Penn e o carisma de Bardem e Winstone.

Não que isto torne menos ridículas a quantidade de vezes em que os personagens tiram e colocam óculos escuros com o objetivo de causarem algum efeito e a frequência com que Sean Penn tira a camisa ou aparece flexionando os braços.

Mas não o culpo pela vaidade. Se aos 54 anos eu tiver uma forma física minimamente comparável, andarei nu pelas ruas do Brasil.

E se não gostou da imagem que plantei em sua mente agora, acredite: ainda é menos ridícula que O Franco-Atirador.

07 de Maio de 2015

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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