Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
02/07/2015 | 01/01/1970 | 3 / 5 | 4 / 5 |
Distribuidora | |||
Bretz Filmes | |||
Duração do filme | |||
113 minuto(s) |
Dirigido por Robert B. Weide.
Woody Allen está em atividade há tanto tempo e é um diretor tão prolífico que tornou-se tendência ignorar o brilhantismo de sua carreira – e não me refiro aqui apenas aos seus incríveis dez primeiros anos de atividade no Cinema, que vão de Um Assaltante Bem Trapalhão a Manhattan (sim, estou ignorando O Que Há, Tigresa?), mas também todo o resto. Afinal, como ignorar obras como A Rosa Púrpura do Cairo, A Outra, Hannah e Suas Irmãs, Crimes e Pecados, Descontruindo Harry, Match Point e tantas outras que realizou nos últimos 43 anos e que qualquer cineasta são daria um dos braços para ter assinado?
Assim, é agradável poder acompanhar a trajetória de Allen através deste documentário tão bem organizado por Robert Weide, que, partindo da produção do fraco Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos, permite que o espectador tenha acesso ao modo de trabalho do realizador, que aqui exibe suas já célebres folhas contendo ideias anotadas ao longo dos anos e a máquina de escrever na qual datilografa todos os seus textos desde que a comprou aos 16 anos de idade (e é divertidíssimo notar como o sujeito emprega sua própria versão do CTRL+C+CTRL+V utilizando o velho método da tesoura-e-cola).
Empregando cenas da filmografia de Allen como ilustrações de passagens de sua vida, o documentário adota uma estrutura tradicional ao apresentar a biografia do cineasta em ordem cronológica, começando em sua infância e passando por sua entrada no show business, incluindo detalhes sobre a criação de seu pseudônimo e a escolha de seus tradicionais óculos. Além disso, o filme traz imagens reveladoras do arquivo pessoal do diretor, destacando-se entre estas uma entrevista com sua mãe feita pelo próprio Allen e durante a qual ela diz, ao discutir a infância do filho: “Você era criança demais para mim”.
Trazendo também imagens raras do início da carreira de Woody Allen, como apresentações de stand up feitas em 1963, o projeto não deixa de investir em entrevistas mais tradicionais que buscam traçar a influência do biografado sobre figuras como Larry David – e ninguém menos do que Scorsese se encarrega de analisar brevemente a evolução do colega por trás das câmeras, desde as narrativas difusas que se concentravam em gags isoladas até as farsas repletas de simbolismos e os densos dramas existenciais que viria a comandar sob a inspiração de seus ídolos Fellini e Bergman.
No entanto, o grande chamariz do documentário é mesmo Allen, que surge estranhamente à vontade para um sujeito notoriamente tímido, chegando a rir ao narrar certas passagens de sua vida e soltando pérolas que qualquer fã facilmente identifica como típicas de seu senso de humor (ao revisitar a casa na qual nasceu, ele diz: “Não parece grande coisa, mas não era mesmo”). E ainda que – compreensivelmente – não traga depoimentos de Mia Farrow ou dos filhos que esta teve com Allen, o filme não se furta de abordar, mesmo que brevemente, o escândalo envolvendo o casamento da dupla e o romance do diretor com a enteada Soon-yi (com a qual, vale apontar, é casado desde então).
Eventualmente adotando a batida estratégia de discutir a obra do cineasta quase que filme por filme, em ordem cronológica (até que o tempo começa a ficar escasso e o diretor Robert B. Weide decide saltar vários deles), o documentário pode ser até decepcionantemente burocrático em sua abordagem, mas ao menos isso permite que sua estrela principal brilhe sem precisar concorrer com eventuais firulas narrativas. E, convenhamos, Woody Allen é interessante e divertido o bastante para dispensar a ajuda de seu próprio documentário.
Crítica originalmente publicada como parte da cobertura do Festival do Rio 2012.
3 de Outubro de 2012