Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
10/12/2010 | 03/09/2010 | 2 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
105 minuto(s) |
Dirigido por Robert Rodriguez e Ethan Maniquis. Com: Danny Trejo, Jessica Alba, Michelle Rodriguez, Jeff Fahey, Steven Seagal, Cheech Marin, Lindsay Lohan, Don Johnson, Daryl Sabara, Tom Savini, Robert De Niro.
É triste constatar que Robert Rodriguez simplesmente não amadurece nem evolui como cineasta. Basicamente realizando há 18 anos variações mais ou menos inspiradas de El Mariachi, seu longa de estréia (com a exceção óbvia de Sin City, que deve muito a Frank Miller), o diretor continua a soar, mesmo aos 42 anos de idade, como um adolescente que ganhou a oportunidade de brincar de fazer Cinema ao lado dos amigos – o que, claro, é um direito seu como realizador, mas que não ajuda a torná-lo um artista dos mais interessantes.
Inspirado pelo trailer fake criado para Grindhouse e co-escrito por Rodriguez ao lado de seu primo Álvaro, Machete tem, como principal e mais inspirada idéia, a presença de Danny Trejo (outro primo do cineasta) como protagonista. Dono de um rosto marcado e marcante, Trejo é um herói cinematográfico atípico, já que seu físico normalmente acaba lhe garantindo papéis de vilão – mas aqui ele comprova possuir o carisma e a presença necessários para se estabelecer como astro do gênero ação ao encarnar um ex-federale cuja família é massacrada pelo traficante Torrez (Seagal) e que, anos depois, passa a ser perseguido sob a suspeita de ter tentado assassinar um senador racista (De Niro). Determinado a provar sua inocência, Machete se une à bela Luz (Rodriguez) e passa a ser auxiliado também pela agente de Imigração Sartana Rivera (Alba).
Mais uma vez adotando a estética dos filmes exploitation da década de 70, Rodriguez simplesmente repisa o caminho percorrido em seu Planeta Terror de 2007, incluindo os riscos simulados na película (mas agora mais discretos), os cortes grosseiros na montagem, os zooms deselegantes e os efeitos de maquiagem pedestres. Usando o gore excessivo como piada recorrente, Machete realmente diverte em alguns momentos graças ao absurdo da violência retratada, mas acaba atingindo seu ápice ainda na meia hora inicial numa seqüência em um hospital que culmina com a estripação de um bandido – e a partir daí a gag começa a soar repetitiva e perde a eficácia.
Com um elenco repleto de figurais habituais nas produções do diretor (além de Trejo, estão presentes Cheech Marin, Daryl Sabara e Tom Savini), o longa traz Steven Seagal se divertindo ao encarnar seu primeiro vilão, mas, em compensação, pouco aproveita a participação de Robert De Niro, desperdiçando um personagem que poderia ter se tornado icônico em função de seu cinismo (o senador vivido pelo ator chega a forjar um sotaque texano para ganhar a simpatia dos eleitores). Por outro lado, o elenco feminino faz jus à tradição do cineasta de trazer belíssimas mulheres em papéis sensuais e, assim, Jessica Alba surge numa nudez em perfil, Michelle Rodriguez pode exibir sua invejável forma física e Lindsay Lohan... bom, ganha a oportunidade de voltar ao cinema mesmo que interpretando uma versão patética de si mesma. No entanto, é mesmo Danny Trejo, como o personagem-título, quem domina a narrativa ao exibir a virilidade típica e o jeitão bruto, ao melhor estilo “se-mexer-comigo-morre”, que vem marcando sua carreira.
Com um dos piores roteiros já escritos por Rodriguez (e estou contando, aí, o pavoroso Era uma Vez no México), Machete não só investe numa trama patética e implausível mesmo para os padrões de um filme que não se leva a sério, como também traz diálogos ridículos que falham inclusive nas tiradas supostamente espirituosas (uma das exceções fica por conta de “Machete não manda mensagens”, que faz rir pelo nonsense). Pecando também por tentativas infantis de criar um estilo descolado que faça referências gratuitas à própria linguagem cinematográfica, Rodriguez emprega, por exemplo, a tela dividida de forma gratuita e inexplicável em certo momento da projeção, além de incluir uma trilha de filme pornô barato todas as vezes em que alguma mulher resolve seduzir o protagonista – o que também perde a graça depois da quinta ou sexta vez.
Integrante da mesma linha de Tarantino no que diz respeito a apenas fazer filmes que, de uma maneira ou de outra, girem em torno do próprio Cinema, Robert Rodriguez sai terrivelmente prejudicado na comparação, já que, ao contrário do diretor de Kill Bill e À Prova de Morte, raramente consegue criar algo único e memorável a partir da homenagem aos longas que ajudaram a formá-lo como cineasta.
Observação: esta crítica foi originalmente publicada como parte da cobertura do Festival do Rio 2010.
03 de Outubro de 2010