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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
14/08/2015 01/01/1970 4 / 5 3 / 5
Distribuidora
Vitrine Filmes
Duração do filme
80 minuto(s)

Obra
Obra

Dirigido por Gregorio Graziosi. Roteiro de Gregório Graziosi, Paolo Gregori e José Menezes. Com: Irandhir Santos, Júlio Andrade, Lola Peploe, Marku Ribas, Sabrina Greve, Marisol Ribeiro, Christiana Ubach.

Obra é uma meditação triste sobre reconstruções, recomeços e o peso do passado. É um filme com ritmo lento, estudado, que reflete a personalidade anestesiada de seu protagonista. É também um longa que usa a maravilhosa fotografia contrastada, com suas sombras duras e opressivas, para criar não só uma atmosfera melancólica, mas também ricos símbolos que desenvolvem seus temas de forma elegante. E, como se não bastasse, é também uma obra estrelada por Irandhir Santos, um dos melhores intérpretes de nosso Cinema.


Dirigido pelo estreante Gregório Graziosi com a segurança de um veterano, o filme acompanha o arquiteto interpretado por Santos enquanto este supervisiona um grande projeto erguido em terreno pertencente ao avô e acompanha a restauração dos afrescos de uma igreja importante em sua região. Prestes a se tornar pai, ele é acometido pela mesma hérnia de disco que atormentou seu pai e seu avô, passando a enfrentar também um dilema grave quando seu mestre de obra (Andrade) descobre doze ossadas enterradas no terreno que abrigará a construção.

A partir daí, Obra acompanha este protagonista de gestos lentos e natureza triste enquanto lida com a esposa, com o pai, com o funcionário e com a vida em passagens que constroem menos uma história e mais uma meditação acerca de nossas trajetórias no planeta, que, mesmo tão breves, se mostram tão conturbadas por ao mesmo tempo sustentarem a pressão de um passado individual e familiar e terem o dever de construir o suporte do futuro ao qual nos dirigimos. Não é à toa, por exemplo, que é justamente a coluna do arquiteto que acusa a maldição familiar, comprometendo seus movimentos e sua locomoção – e tampouco é acaso que sua esposa estrangeira, que carrega seu filho na barriga, tenha como profissão a investigação do passado da cidade, estudando sítios arqueológicos que a tornam mais apta a analisar a história local do que seu marido, que tenta fugir desta.

Aliás, já nos primeiros minutos de projeção o sujeito aparece explicando a alguns alunos que algumas construções, por mais sólidas que pareçam, acabam tendo que ser demolidas quando o desgaste dos anos e a falta de planejamento comprometem suas estruturas – um monólogo que, claro, é acompanhado de imagens de implosões projetadas sobre o corpo do próprio professor, que certamente se divide entre a atração do recomeço e a responsabilidade para com o passado.

Mas é mesmo a lindíssima fotografia em preto-e-branco de André Brandão que torna Obra tão memorável: mantendo o personagem de Irandhir Santos constantemente nos cantos dos quadros, que frequentemente também surgem com composições que ressaltam uma opressão cada vez maior (paredes que se estendem para o infinito, corredores estreitos, áreas escurecidas por estarem bloqueadas por alguma estrutura), o diretor de fotografia ainda concebe imagens esteticamente irrepreensíveis – e vários quadros vistos aqui poderiam ser impressos e emoldurados.

Estabelecendo também uma ótima rima visual entre os arranha-céus cobertos por névoas que abrem a projeção e a cidade já visível que a encerra, ilustrando a trajetória do arquiteto, Obra é um filme que faz jus à sua proposta ambiciosa.

Além disso, como falei, ele traz Irandhir Santos - e, só por isso, merece destaque. 

Texto originalmente publicado como parte da cobertura do Festival do Rio 2014.

01 de Outubro de 2014

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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