Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
27/08/2015 | 26/06/2015 | 2 / 5 | 3 / 5 |
Distribuidora | |||
Universal | |||
Duração do filme | |||
115 minuto(s) |
Dirigido por Seth MacFarlane. Roteiro de Seth MacFarlane, Alec Sulkin e Wellesley Wild. Com: Mark Wahlberg, Amanda Seyfried, Jessica Barth, Giovanni Ribisi, Morgan Freeman, Sam J. Jones, Patrick Warburton, Michael Dorn, John Slattery, Cocoa Brown, John Carroll Lynch, Ron Canada, Dennis Haysbert, Tom Brady, Jay Leno e as vozes de Seth MacFarlane e Patrick Stewart.
Em certo momento de Ted 2, o personagem-título (MacFarlane) e seu amigo John (Wahlberg) vão a um show de comédia de improviso com o único intuito de gritarem sugestões tristes em resposta aos pedidos de temas feitos pelos atores – uma cena que me fez rir com a mesma intensidade (e a mesma culpa) daquela em Débi e Lóide que traz um garotinho cego acariciando um periquito que teve a cabeça pregada com fita adesiva. Infelizmente, o filme em torno daquele momento inspirado não faz jus às gargalhadas por este provocadas, o que é uma pena, já que o longa original funcionava surpreendentemente bem.
Mais uma vez escrito por Seth MacFarlane ao lado de seus colegas de Uma Família da Pesada (Alec Sulkin e Wellesley Wild), o roteiro traz Ted enfrentando problemas conjugais com sua jovem esposa Tami-Lynn (Barth), o que leva o casal a decidir ter um bebê – sempre uma solução fabulosa para matrimônios em crise. No entanto, é então que o ursinho descobre não ser considerado como “pessoa” pelo governo, o que o leva a pedir a ajuda da inexperiente advogada Samantha (Seyfried). Enquanto se prepara para levar o caso aos tribunais, Ted passa a ser alvo de um executivo da Hasbro (Lynch), que, unido ao vingativo Donny do primeiro filme (Ribisi), planeja abrir o urso a fim de descobrir o que o torna vivo. Para completar, John, ainda sofrendo em função de seu divórcio, tenta voltar a namorar, passando a devotar sua atenção a Samantha.
Não sei se você contou, mas há, no resumo acima, ao menos quatro subtramas disputando espaço umas com as outras em Ted 2 – e a pergunta-chave é: por quê? Depois de construir um filme que basicamente girava em torno da amizade e das confusões dos amigos John e Ted, por que o trio de roteiristas subitamente passou a acreditar que precisaria construir múltiplas histórias para amarrar a estrutura da continuação, chegando até mesmo a reciclar o vilão original? Trata-se de uma decisão tão problemática que até uma das principais vantagens de uma sequência (não ter que explicar tudo novamente para o espectador) é jogada fora, já que o roteiro apela continuamente para diálogos expositivos para situar o público com relação aos novos elementos (“Você já se divorciou há seis meses!”, “Você está separado há um ano e meio!”, “O governo não havia prestado atenção em sua situação legal, mas agora...” e assim por diante).
Além disso, se antes MacFarlane conseguia incluir referências pop na narrativa de forma orgânica, aqui ele parece forçá-las na projeção a fim de conseguir risadas fáceis – e, com isso, vemos não apenas citações gratuitas de Os Fantasmas se Divertem, Clube dos Cinco, Jurassic Park e Contato, por exemplo, como também simples recriações de cenas que já eram originalmente hilárias e, portanto, se mostram imunes à paródia (como aquela retirada de Antes Só do que Mal Acompanhado e que substitui John Candy por Ted – nunca uma boa troca). Da mesma forma, toda a sequência ambientada na Comic-Con soa como mera desculpa para incluir mais referências, falhando, contudo, em explorá-las comicamente (com o perdão do trocadilho). Sim, aqui e ali há alguma brincadeira mais inspirada (como a briga de casal no início, que remete a Touro Indomável, ou a gag relacionando Seyfried e Gollum), mas estas são raras, infelizmente.
Por outro lado, o principal atrativo do anterior se mantém aqui: a relação entre John e Ted consegue sugerir um afeto real entre os dois e que é manifestado frequentemente através das amistosas maldades que fazem um com o outro – e, de maneira similar, há alguns momentos de humor nonsense que funcionam bem (como o esforço que fazem para se livrar da pornografia no laptop do personagem de Wahlberg). Assim, é uma pena que estes instantes acabem sendo sufocados por outros nos quais MacFarlane parece interessado apenas em demonstrar como consegue atrair celebridades para pequenas participações, gastando um tempo precioso em piadas fracas envolvendo Jay Leno, Tom Brady (ok, aqui há uma que funciona e que remete a Pulp Fiction), Dennis Haysbert e Jimmy Kimmel (já aquela que traz Liam Neeson é melhorzinha, mas não espetacular). E se Patrick Warburton e Michael Dorn pouco podem fazer em suas pontas, ao menos são bem empregados em uma gag envolvendo seus personagens mais famosos).
Contudo, o maior equívoco de Ted 2 reside em sua inacreditável cegueira com relação à questão racial nos Estados Unidos – e se neste momento você está se perguntando “por que diabos Ted 2 deveria ter qualquer visão sobre a questão racial nos Estados Unidos?”, a resposta é simples: porque o próprio filme se propõe a abordar o assunto. Aliás, pior do que isso: o roteiro tenta usar cinicamente a História da escravidão no país como um elemento da discussão sobre a “humanidade” do personagem-título. É claro que, de forma inteligente, MacFarlane eventualmente parece apontar para a canalhice de Ted ao fazer esta comparação, mas esta é apenas uma forma cínica que o próprio longa encontra para tentar escapar das críticas, como se dissesse: “Ei, culpem o urso, não o filme!”. No entanto, o artifício fica exposto quando falas absurdas envolvendo a escravidão são entregues a atores negros (como se isto eximisse o projeto) e, principalmente, no instante em que percebemos que a produção não se furta de fazer piadas racistas (como a fala lamentável que fecha uma até então divertida sequência escatológica numa clínica de doação de esperma). Para completar, Ted 2 adota uma postura estupidamente sexista ao presumir que o sonho de toda mulher é - naturalmente - ter filhos (e de novo: se isto deveria ser um humor do tipo “Vejam como estamos sendo babacas”, o propósito se perdeu na execução).
Hábil ao convencer não só Mark Wahlberg e Amanda Seyfried a rirem de si mesmos, mas também a própria Hasbro (e é preciso admirar a coragem do executivo de marketing que permitiu que a empresa surgisse como vilã do projeto), esta continuação é bem mais longa do que o ideal, perdendo o pouco fôlego que tinha já na metade da projeção. Para piorar, é também paradoxalmente moralista ao trazer Morgan Freeman em um discurso antiquado e artificial.
Mas a cena no clube de improvisação... ah, esta eu dificilmente vou esquecer.
Observação: há uma cena adicional após os créditos finais.
27 de Agosto de 2015