Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
03/09/2015 | 06/02/2015 | 4 / 5 | 4 / 5 |
Distribuidora | |||
Universal | |||
Duração do filme | |||
85 minuto(s) |
Dirigido e roteirizado por Mark Burton e Richard Starzak. Com as vozes de Justin Fletcher, John Sparkes, Omid Djalili, Richard Webber.
Para uma animação que faz referências a filmes como Cabo do Medo, Taxi Driver, O Mensageiro do Diabo e O Silêncio dos Inocentes, este Shaun: O Carneiro é um filme surpreendentemente inocente, doce e divertido. Demonstrando que os estúdios Aardman (Wallace & Gromit: A Batalha dos Vegetais, A Fuga das Galinhas, Por Água Abaixo) haviam apenas dado um tropeço (considerável, convenhamos) com o horrível Piratas Pirados!, esta produção reúne os impecáveis valores de produção da empresa a uma narrativa cujo senso de humor consegue divertir o público mais jovem sem representar uma tortura para os mais velhos.
Inspirado numa série para a tevê britânica (que, por sua vez, contava com personagens inicialmente criados para os curtas de Wallace & Gromit), Shaun acompanha o carneiro-título que, líder de um rebanho de ovelhas em uma pequena fazenda, certo dia se cansa da rotina entediante imposta pelo metódico (mas amável) dono do lugar. Determinado a tirar férias, Shaun bola um plano que logo resulta em desastre, levando o fazendeiro a sofrer amnésia e a se perder na Cidade Grande (sim, este é o nome dela), obrigando o rebanho – ao lado do cão Bitzer – a partir em uma missão de resgate.
Investindo numa narrativa que descarta os diálogos e busca contar a história e desenvolver os personagens e as situações apenas visualmente, o longa é particularmente inventivo na maneira como constrói suas gags: reparem, por exemplo, como a rotina do fazendeiro é estabelecida cuidadosamente na introdução apenas para que, posteriormente, compreendamos sua lógica no pequeno trailer, resultando numa piada inspirada envolvendo seu reflexo no espelho e que, em um filme menos ambicioso, dependeria de muito mais informações para funcionar. E se algumas das piadas atravessam a tela rapidamente, podendo passar despercebidas (como a recriação da capa de “Abbey Road”), outras são apresentadas de forma recorrente, criando o humor justamente através da repetição (como aquele envolvendo o olhar assassino de um cão aprisionado). Da mesma maneira, se certas piadas revelam uma natureza incrivelmente inocente (a estratégia do rebanho para adormecer suas “vítimas”), outras já surgem mais “picantes”, mas não menos eficazes (estou falando, claro, daquela que traz a parte posterior de um “cavalo”).
Jamais desapontando em seu design de produção, a Aardman exibe um cuidado admirável não só com o universo no qual sua história se passa, mas com o visual dos próprios personagens: é interessante, por exemplo, notar como as bocas de Shaun e seus companheiros aparecem como verdadeiros apêndices em seus rostos, trazendo uma expressividade adicional aos personagens, ao passo em que o vilão traz, num detalhe curioso, dobrinhas de gordura na nuca que ajudam a construir sua persona brutamontes.
Aliás, o simples fato de criar cenários e personagens no mundo “real” em vez de concebê-los como zeros e uns digitais é algo que confere uma fisicalidade inimitável ao projeto – e eu poderia passar horas contemplando elementos como a textura do papel de parede da casa do fazendeiro, as pequenas fissuras na madeira da porta do celeiro ou o pano puído de um sofá. Além disso, é verdadeiramente encantador notar sutilezas como as lentas embaçadas e sujas dos óculos do dono da fazenda ou preciosismos na animação em stop motion, como o momentâneo desequilíbrio de Shaun quando o ônibus no qual se encontra começa a se mover.
O mesmo, devo ressaltar, vale para a fotografia de Charles Copping e Dave Alex Riddett, que não só recriam de modo nostálgico a estética do Super 8 em determinadas sequências como ainda usam com talento a redução na profundidade de campo para trazer dimensões adicionais ao mundo de plasticina da Aardman. Mas não só: a dupla ainda contribui com sua parcela de gags ao trazer, por exemplo, o fazendeiro numa contraluz que o transforma momentaneamente numa figura demoníaca, além, claro, de auxiliar na leveza da narrativa através da cores fortes e alegres que adotam em sua paleta.
Durando ligeiros 85 minutos, Shaun: O Carneiro é inteligente e objetivo o bastante para divertir sem superestimar a própria habilidade de fazê-lo, deixando o espectador sair da sala de projeção com a sensação de que poderia passar mais algum tempo naquele universo – um sintoma promissor da qualidade do projeto.
Observação: há uma piadinha adicional após os créditos finais.
04 de Setembro de 2015