Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
08/10/2015 | 09/10/2015 | 3 / 5 | 4 / 5 |
Distribuidora | |||
Warner | |||
Duração do filme | |||
111 minuto(s) |
Dirigido por Joe Wright. Roteiro de Jason Fuchs. Com: Levi Miller, Hugh Jackman, Garrett Hedlund, Rooney Mara, Adeel Akhtar, Amanda Seyfried, Kathy Burke, Lewis MacDougall, Cara Delevingne, Tae-joo Na.
Mais um filme sobre Peter Pan? Sério? Depois de uma penca de adaptações que incluem a animação da Disney (e suas continuações feitas para vídeo), o fraco Hook – A Volta do Capitão Gancho (que enfocava Peter adulto), a versão live-action dirigida por P.J. Hogan em 2003 e até mesmo Em Busca da Terra do Nunca, que acompanhava o processo criativo de seu autor? Será que o tema já não foi esgotado?
A resposta é que qualquer tópico, por mais batido que seja, pode ser revigorado por uma abordagem criativa – e é justamente isto que ocorre nesta nova obra comandada por Joe Wright a partir de um roteiro original escrito por Jason Fuchs (responsável pelo pavoroso A Era do Gelo 4): imaginando as circunstâncias que levaram Peter Pan (Miller) à Terra do Nunca e à sua relação com o Capitão Gancho, o roteirista cria uma história de origem que nem sequer sabíamos ser necessária, mas que se mostra envolvente e respeitosa às criações de J.M. Barrie.
Ambientado no início da década de 40 em uma Londres dominada pela tensão da guerra, o longa retrata Peter como um órfão que sonha com o dia em que sua mãe virá buscá-lo. Maltratado pela madre-superiora que dirige o orfanato (Burke), ele e o amigo Nibs (MacDougall) se veem intrigados pelo desaparecimento de várias crianças que supostamente deixam o lugar durante a noite, mas o mistério é solucionado quando o garoto se torna uma das vítimas, sendo sequestrado pelos piratas liderados pelo Capitão Barba Negra (Jackman) e levado para a Terra do Nunca, onde é obrigado a garimpar cavernas em busca do escasso pó de pirlimpimpim (ou “pó de pixum”), tornando-se companheiro de fuga de um sujeito brigão (Hedlund) e iniciando uma jornada que o levará a conhecer a jovem Tigrinha (Mara).
Contrastando de forma óbvia a paleta cinza, dessaturada e sombria de Londres com as cores fortes e a luminosidade da Terra do Nunca, Peter Pan deixa claro desde seu primeiro frame estar narrando uma fábula – e, assim, a madre é retratada quase como um ogro, já rosnando (literalmente) assim que surge em cena. De todo modo, mesmo que a fotografia e o design de produção jamais saiam do básico, concebendo um universo que apenas remete àqueles já vistos em outras versões (ok, com exceção dos globos de água flutuantes), o filme é suficientemente competente do ponto de vista técnico para conseguir transportar o espectador para aquele mundo, surpreendendo pontualmente com ideias como as aves cujos esqueletos são cobertos só por penas e, principalmente, pelo conceito de retratar as mortes eventuais dos nativos como explosões de fumaça colorida, o que não só evita chocar o público mais jovem como ainda se encaixa na lógica geral da obra.
Dirigido com leveza por Wright, que aprendi a admirar em filmes como Orgulho & Preconceito, Desejo & Reparação e Hanna (vou ignorar O Solista), Peter Pan traz momentos eficientes de humor (como a galinha em gravidade zero) e surpresas curiosas como uma versão a capella inesperada de “Smells Like Teen Spirit”, além de uma imaginativa briga encenada sobre camas elásticas. Por outro lado, o cineasta é mais um a não compreender a linguagem 3D, já que move sua câmera com rapidez excessiva, emprega o rack focus (mudança do ponto de foco) e usa uma profundidade de campo reduzida em boa parte do tempo.
Já o elenco se mostra mais homogêneo: Garrett Hedlund, que já havia se destacado em Na Estrada, cria um personagem bem humorado, mas suficientemente ambíguo para manter o espectador incerto acerca de suas ações (mas não me perguntem por que seu figurino remete a Indiana Jones); o jovem Levi Miller se mostra seguro nas cenas que exigem maior carga dramática e Rooney Mara continua a exibir carisma e talento, mesmo sendo completamente inadequada para viver uma índia (e só percebi sua etnia quando alguém disse o nome de sua personagem). Ainda assim, quem se destaca é mesmo Hugh Jackman, que, com bigode, barba e uma palidez que o transformam num Marcos Mion doente, aparece coberto de preto e vermelho (indicando a ameaça que representa) e se diverte imensamente ao criar um vilão pitoresco em seu exagero.
Mesmo prejudicado aqui e ali pelo ritmo irregular da narrativa e por decisões grotescas do roteiro (como o encontro com as sereias e o conceito da água repleta de lembranças), Peter Pan desperta o interesse acerca das circunstâncias que levarão seu herói e o Capitão Gancho à inimizade que já conhecemos.
E taí uma curiosidade que eu nem sabia sentir até assistir a esta produção.
07 de Outubro de 2015