Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
17/03/2016 | 01/01/1970 | 2 / 5 | 3 / 5 |
Distribuidora | |||
Downtown/Paris | |||
Duração do filme | |||
100 minuto(s) |
Dirigido por Marcos Jorge. Roteiro de Marcos Jorge e Lusa Silvestre. Com: Babu Santana, Lázaro Ramos, Adriana Esteves, Milhem Cortaz, Thainá Duarte, Vini Carvalho.
Neste novo filme de Marcos Jorge (Estômago), Babu Santana interpreta um funcionário do departamento de controle de zoonoses da prefeitura de São Paulo que, certo dia, captura um rottweiler que havia escapado do dono. Depois que o animal é sacrificado seguindo o protocolo da cidade, o sujeito é confrontado pelo perigoso Nenê (Ramos), que só havia descoberto o paradeiro de seu cão quando já era tarde demais. Para se vingar daquele que acredita ter sido o responsável por sua perda, o bandido toma uma atitude que dá início a uma sequência de eventos devastadores.
Mas previsíveis. Este, aliás, é um dos grandes problemas do longa: apresentando suas “reviravoltas” como se estas realmente fossem surpreendentes, o filme aposta muito em sua capacidade de chocar o espectador, o que acaba apenas por evidenciar sua fragilidade quando nos antecipamos ao que está prestes a ocorrer – e sem oferecer spoilers, aponto apenas que o incidente que Mundo Cão claramente considera como seu maior trunfo narrativo é telegrafado ao público ao ser construído pelo diretor seguindo uma cartilha que se tornou clichê há pelo menos uns dez anos, sendo empregada em dúzias e dúzias de produções (a ponto de me levar a comentar, em algumas ocasiões, como já fico esperando que certo evento ocorra sempre que vejo um personagem executando determinada ação – e estou sendo o mais vago possível para respeitar a ilusão do longa acerca de sua “surpresa”).
Para piorar, o roteiro é construído segundo uma estrutura que quebra a linearidade cronológica sem motivo aparente, mergulhando num flashback de nove meses após a introdução sem jamais justificar a necessidade de fazê-lo. Como se não fosse o bastante, o filme apresenta suas pistas de forma tão ostensiva que até mesmo o mais desatento dos espectadores irá capturar a maior parte delas (cof-“vou consertar a tampa”-cof).
Claramente interessado em fazer um exercício de gênero, o diretor Marcos Jorge ao menos não busca esconder suas influências estéticas, inspirando-se nos “filmes de vingança” da década de 70 (pensem em Carter – O Vingador e Desejo de Matar) e empregando cortinas como forma de transição, telas congeladas, créditos com tipografia da época e uma trilha sonora que remete diretamente ao período. Além disso, Jorge escancara a inspiração de elementos da trama (como o terceiro ato) em O Segredo dos Seus Olhos ao incluir não só uma sequência em um estádio de futebol, mas um movimento de câmera ambicioso que se afasta da arquibancada e sai da arena (na direção oposta daquele feito por Juan José Campanella na obra de 2009, portanto).
Ancorado por um elenco afiado, Mundo Cão deve boa parte do envolvimento do espectador com sua história boba à eficiência das performances: Santana evoca com intensidade o sofrimento e a angústia crescentes de seu personagem, Ramos exala ameaça, Adriana Esteves cria uma mulher comovente e dedicada à família e, claro, a jovem Thainá Duarte quase rouba o filme de seus experientes companheiros ao se mostrar não apenas incrivelmente expressiva, mas ao demonstrar possuir um carisma invejável.
No final das contas, porém, a obra não consegue disfarçar sua falta de ambição ou mesmo sua covardia ao trocar, por exemplo, a motivação de Santana para suas ações - substituindo um personagem por outro em um incidente-chave apenas para não chocar excessivamente o espectador.
Estes atores definitivamente mereciam um roteiro melhor.
Texto originalmente publicado como parte da cobertura do Festival do Rio 2015.
05 de Outubro de 2015