Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
26/11/2015 | 11/09/2015 | 2 / 5 | 3 / 5 |
Distribuidora | |||
Universal | |||
Duração do filme | |||
94 minuto(s) |
Dirigido e roteirizado por M. Night Shyamalan. Com: Olivia DeJonge, Ed Oxenbould, Deanna Dunagan, Peter McRobbie, Kathryn Hahn, Celia Keenan-Bolger, Samuel Stricklen.
Quem já fez algum de meus cursos sabe que abomino as tais “estrelinhas”, que mantenho no alto de minhas análises apenas por uma convenção arcaica da profissão (e também porque muitos leitores protestaram nas duas ocasiões em que tentamos removê-las). No entanto, apenas como curiosidade, é revelador perceber como as cotações em meus textos sobre a obra de M. Night Shyamalan parecem contar uma história de glória-decadência-e-quem-sabe-algum-dia-alguma-redenção: 5 para O Sexto Sentido, 4 para Corpo Fechado, 3 para Sinais, 2 para A Vila, 1 para A Dama na Água e Fim dos Tempos e 2 para Depois da Terra (não escrevi sobre O Último Mestre do Ar, mas, consultando minha lista de 2010, vi que o classifiquei como “2 estrelas”). Ainda assim, a cada novo trabalho do cineasta, busco me prender à esperança de que testemunharei um retorno glorioso à promessa representada pelo longa de 1999 – embora, apenas ao perceber que ainda se tratava de um ano iniciado com o número “1”, seja difícil conter um certo desânimo.
Dito isso, A Visita representa uma indicação de que, no mínimo, Shyamalan finalmente percebeu não ser o gênio que obviamente passou a se considerar após Corpo Fechado e que o levou a incluir o próprio nome no título de seu trabalho seguinte (M. Night Shyamalan’s Signs) e a conceder entrevistas nas quais se comparava a Hitchcock. Contando uma história bem mais simples e praticamente limitada a um único cenário, A Visita acompanha um casal de irmãos, Becca e Tyler (DeJonge e Oxenbould), que viaja para passar alguns dias com os avós que nunca conheceram, já que sua mãe (Hahn) fugiu de casa com o namorado aos 19 anos. Inicialmente felizes ao perceberem que os velhinhos (Dunagan e McRobbie) parecem adoráveis e carinhosos, os jovens gradualmente notam certos comportamentos atípicos que geram uma insegurança crescente. Ah, sim: toda a narrativa é construída a partir das filmagens feitas pelos irmãos, já que Becca, que tem 15 anos de idade (sim), pretende transformar a visita em um documentário.
Com um roteiro que praticamente emprega todos os clichês do subgênero found-footage (ainda que aqui o “found” não seja o termo mais apropriado), Shyamalan inicialmente demonstra que suas habilidades como roteirista se mantêm a séculos de distância daquelas exibidas em O Sexto Sentido: seus personagens são pouco mais do que recortes unidimensionais, os incidentes retratados pouco têm de originais (a inspiração da fábula “João e Maria” é patente, sendo particularmente clara nas duas cenas envolvendo um forno) e a estrutura é – para ser caridoso – frouxa. Para piorar, ao investir na abordagem found-footage, Shyamalan se limita como diretor, abrindo mão justamente daquilo que ainda tinha como certo diferencial (mesmo que também tenha decaído nesta área) ao ser obrigado a manter a lógica da câmera que é sempre operada pelos próprios personagens.
Aliás, o curioso é que o cineasta parece perceber o problema que criou para si mesmo e, assim, logo traz Becca explicando conceitos como “mise-en-scène” para o irmão a fim de justificar o fato de que, na maior parte do tempo, Shyamalan e a diretora de fotografia Maryse Alberti adotam uma estética bem mais rigorosa do que aquela vista em filmes como A Bruxa de Blair e Cloverfield. Por outro lado, isto cria outra complicação ao fazer com que as imagens captadas pelas crianças sejam estáveis demais para o contexto no qual foram feitas (notem como, ao chegar na estação, Becca gira para a frente a câmera que apontava para si mesma e percebam como a panorâmica é feita num eixo horizontal praticamente – e inacreditavelmente – perfeito). Da mesma forma, o número de vezes em que a câmera é derrubada, caindo numa posição ideal para continuar a filmar o que está se passando, acaba se tornando ridículo em função da repetição.
E por que Becca e Tyler deixam a câmera ligada no canto do quarto enquanto dormem, já que não estamos vendo uma versão de Atividade Paranormal e, portanto, não há a necessidade de tentar registrar algum fenômeno misterioso? Ainda assim, mesmo que todos estes problemas pudessem ser ignorados, seria impossível perdoar o plano no qual a protagonista tenta abrir uma porta com a mão direita enquanto carrega a câmera com a esquerda e, subitamente, esta também surge em quadro para girar a maçaneta, levando à inevitável pergunta: ela está segurando o equipamento com a boca? Como se não bastasse, há um outro momento no qual Tyler coloca a câmera sobre uma prateleira e passa a conversar com a irmã enquanto o foco se altera precisamente entre os dois à medida em que cada um diz suas falas, indicando a presença de um operador invisível que realiza o rack focus com extremo cuidado.
Recheado de diálogos dolorosamente expositivos ou apenas óbvios em suas intenções (“Esta vai ser uma ótima semana. Ah, há mofo no porão; não queremos que fiquem doentes.”), A Visita traz também alguns momentos de humor surpreendentemente eficientes, como os estranhos que insistem em declamar para a câmera ao perceberem que estão sendo filmados e as expressões que Tyler usa para evitar dizer palavrões. Além disso, Shyamalan aqui e ali subverte nossas expectativas (como ao revelar o que há na cabana), conduzindo também seus atores com inteligência e quase evitando, assim, que a unidimensionalidade dos personagens se torne muito evidente – e o pequeno Ed Oxenbould, que já havia se revelado divertido em Alexandre e o Dia Terrível, Horrível, Espantoso e Horroroso, volta a se destacar aqui, praticamente roubando o filme.
Trazendo algumas cenas que fazem nos lembrar do velho Shyamalan (aquela que se passa sob a casa é um ótimo exemplo), A Visita, como não poderia deixar de ser, conta com a habitual reviravolta que se tornou marca registrada do diretor – mas, em vez de soar ridícula como aquelas nos longas pós-Sinais, desta vez a revelação realmente surpreende sem parecer estúpida ou uma mera obrigação autoral. Em contrapartida, é frustrante que o filme tenha que recorrer aos habituais ruídos altos e súbitos para gerar sustos e que jamais convença o espectador acerca do perigo que ameaça seus jovens heróis.
De todo modo, A Visita representa um leve avanço para Shyamalan, que ao menos não parece estar se levando tão a sério e nem obriga seus atores a recitarem os diálogos que escreveu como se estivessem lidando com algo sagrado.
E isso me traz esperanças de que as malditas estrelinhas agora passem a fazer uma contagem progressiva de seus novos esforços.
26 de Novembro de 2015