Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
01/01/2016 | 13/06/2015 | 2 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Duração do filme | |||
128 minuto(s) |
Dirigido e roteirizado por Hirokazu Koreeda. Com: Haruka Ayase, Masami Nagasawa, Kaho, Suzu Hirose, Ryô Kase.
Pais e Filhos, que o cineasta japonês Hirokazu Koreeda lançou em 2013, era um filme belíssimo que trafegava confortavelmente entre as histórias de duas famílias para construir um drama eficaz e humano que jamais soava artificial. Infelizmente, em seu novo trabalho, Nossa Irmã Mais Nova, ele não consegue alcançar resultado similar: embora centrado apenas na relação entre quatro irmãs que moram juntas, a narrativa agora surge difusa, frouxa e sem vida, empregando longos 128 minutos para aparentemente não chegar a lugar algum.
Escrito pelo próprio Koreeda a partir de um mangá de Akimi Yoshida (e nem consigo imaginar o quão aborrecido deve ser este mangá), o roteiro inicialmente nos apresenta às irmãs Sachi (Ayase), Yoshino (Nagasawa) e Chika (Kaho), que dividem um velho casarão que pertenceu aos pais desde que foram abandonadas por ambos – o pai foi morar com a amante e a mãe partiu para outro estado. Confortáveis em sua rotina, elas acabam recebendo a notícia da morte do pai (com um estranho desinteresse, diga-se de passagem) e, no enterro, conhecem a meia-irmã de 14 anos, Suzu (Hirose), que passa a morar com as demais. A partir daí, acompanhamos o ano seguinte enquanto as quatro...
... moram juntas.
E basicamente é isso. Sim, elas lidam com interesses românticos, com a doença de uma velha conhecida, com um reencontro com a mãe, mas basicamente tudo é encenado por Koreeda de maneira desinteressada e desinteressante. Resumindo-se a uma série de cenas mal conectadas que conferem um tom episódico à narrativa, Nossa Irmã Mais Nova não consegue sequer justificar dramaticamente a entrada de Suzu na vida das irmãs – primeiro, porque o convite é feito de maneira abrupta e artificial (culminando num plano terrivelmente clichê que traz a garota correndo atrás do vagão no qual as irmãs se encontram); segundo, porque essencialmente nada muda com a chegada da menina, que imediatamente se adapta à dinâmica das demais.
Dependendo de forma incômoda de diálogos expositivos para explicar ao espectador as circunstâncias que levaram as irmãs a uma existência isolada dos pais, o roteiro ainda carece de um arco dramático identificável, limitando-se a utilizar as estações do ano - e as consequentes alterações nas belas locações – para indicar a passagem do tempo, como se apenas o transcorrer do ano pudesse conferir alguma sensação de desenvolvimento à história.
Evitando se tornar um desastre completo graças ao carisma do elenco principal, o longa ao menos consegue estabelecer algum interesse graças à dinâmica entre as garotas, mesmo que suas personalidades acabem parecendo esquemáticas: Sachi é retraída e responsável; Yoshino é impulsiva e imatura; Chika é ingênua e alegre; e Suzu é uma mistura das três. Aliás, a decisão de ancorar o filme na irmã mais velha é um raro acerto do projeto, já que Haruka Ayase oferece uma performance suficientemente melancólica e relativamente multifacetada – e é uma pena, por exemplo, que Koreeda não dedique mais atenção à dinâmica entre ela e a caçula, já que, de certa forma, as duas são as que viveram experiências mais similares com o pai, perdendo boa parte da infância graças a este.
Em vez disso, o diretor opta por usar a trilha de Kanno Yoko para tentar criar atmosferas pontuais que a história sozinha não consegue: em certo momento, a música soa engraçadinha para trazer leveza; em outro, aposta em acordes tristes para ressaltar um instante doloroso – e, com isso, acaba forçando o tom em vez de simplesmente comentá-lo ou mesmo ressaltá-lo.
Concluindo a projeção com uma fala patética que ainda tenta mastigar a moral do filme para o espectador – como se houvesse alguma relevante -, Nossa Irmã Mais Nova pode até oferecer a Koreeda a oportunidade de continuar investindo em histórias que lidam com dores e dilemas familiares, mas é o próprio projeto que acaba soando excessivamente familiar no processo. E da pior maneira possível.
Texto originalmente publicado como parte da cobertura do Festival de Cannes 2015.
13 de Maio de 2015