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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
26/09/2014 19/06/2015 3 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
89 minuto(s)

Enterrando a Ex
Burying the Ex

Dirigido por Joe Dante. Roteiro de Alan Trezza. Com: Anton Yelchin, Ashley Greene, Alexandra Daddario, Oliver Cooper, Dick Miller.

Joe Dante é um cineasta que, ao longo da carreira, se mostrou um mestre em combinar humor e comédia de forma irreverente e eficaz. De Gremlins a O Buraco, passando por Meus Vizinhos São um Terror e episódios de Além da Imaginação e mesmo The Naked Gun (que daria origem a Corra que a Polícia Vem Aí), Dante criou uma filmografia que, mesmo claramente voltada a um público infanto-juvenil, jamais excluía os espectadores adultos, que sempre encontravam graça em suas brincadeiras de linguagem e mesmo na ingenuidade de boa parte de seu humor. Infelizmente, esta ingenuidade, que funcionou tão bem na década de 80, começou a mostrar certo desgaste nas obras que o diretor concebeu nos anos seguintes – e é justamente este o problema que impede que Enterrando a Ex, seu novo trabalho, se torne tão eficaz quanto boa parte de seus longas anteriores.


Inspirado em um curta escrito e dirigido pelo roteirista Alan Trezza, o filme conta a história de Max (Yelchin), um jovem que, trabalhando em uma loja de artigos de terror, namora a lindíssima, mas insuportável Evelyn (Greene), cuja obsessão pelo “ecologicamente correto”, somada à sua possessividade emocional, tornam a vida do rapaz infernal. É então que a moça morre em um acidente de trânsito, mas, ressuscitada por uma promessa de que passaria toda a eternidade ao lado do namorado, retorna como um zumbi, impedindo que Max possa se envolver com Olivia (Daddario) e irritando o meio-irmão do protagonista, Travis (Cooper).

Assumidamente tolo até mesmo ao trazer o artefato que ressuscita Evelyn como um diabinho de porcelana que solta fumaça e cujos olhos se acendem em um vermelho intenso, Enterrando a Ex é um daqueles filmes que enfocam o herói consultando um manual de magia para descobrir como se livrar de um vilão e que não se furta de fazer piadas com fluidos nojentos que parecem sempre mirar a boca do protagonista – e isto não é necessariamente ruim, já que, aqui e ali, o longa realmente consegue arrancar boas risadas com seu humor despretensioso e óbvio.

Infelizmente, é esta obviedade que gradualmente torna a experiência menos memorável, a começar pela trilha sonora que faz questão de ressaltar cada piadinha (incluindo gongos quando um personagem segura uma espada) e pelos efeitos sonoros que transformam as lambidas sensuais de Evelyn em um espetáculo grotesco. Da mesma maneira, o design de produção jamais investe em qualquer tipo de sutileza: do escritório de Evelyn, que traz telefones, abajures e diversos elementos num verde chapado (que mais tarde cobrirá seu apartamento) até a decoração inicial da casa de Max, repleta de cartazes de terror, Enterrando a Ex é um filme que parece acreditar ser necessário atirar suas piadas na cara do público, o que acaba por prejudicá-lo (é difícil rir de uma gag quando seu autor faz questão de ressaltar como esta é engraçada).

Já o elenco, curiosamente, acerta ao investir em abordagens diametralmente opostas: enquanto Anton Yelchin se recusa (acertadamente) a assumir estar em uma comédia, vivendo Max com uma seriedade que torna, por contraste, sua situação mais divertida, Ashley Greene investe na caricatura absoluta, transformando Evelyn em uma namorada que se mostra monstruosa mesmo antes de retornar como zumbi. E se Alexandra Daddario fica presa ao ingrato papel de promessa amorosa, Oliver Coooper, que parece o resultado de uma transa de Seth Rogen e Jonah Hill, protagoniza seus bons momentos ao encarnar Travis como uma figura divertidamente grotesca.

Assim, é uma pena que falte, ao filme, aquela atmosfera irreverente que caracteriza os melhores trabalhos de Joe Dante – e é triste constatar que, mesmo trazendo a infalível ponta de Dick Miller, Enterrando a Ex é uma produção que poderia ter sido comandada por qualquer outro diretor.

Texto originalmente publicado como parte da cobertura do Festival do Rio 2014.

27 de Setembro de 2014

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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