Seja bem-vindx!
Acessar - Registrar

Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
03/10/2013 29/07/2013 3 / 5 / 5
Distribuidora
Duração do filme
99 minuto(s)

Vale do Pecado
The Canyons

Dirigido por Paul Schrader. Com: Lindsay Lohan, James Deen, Nolan Gerard Funk, Amanda Brooks, Tenille Houston, Gus Van Sant.

A primeira imagem que vemos em Vale do Pecado é a fachada semidestruída de um cinema abandonado – algo que se tornará uma rima visual ao longo da projeção, funcionando como marcações de viradas no tom da narrativa e se transformando eventualmente em um símbolo da decadência crescente de seus personagens. Porém, se este parece ser o significado óbvio desta rima no contexto da história, é também perfeitamente possível interpretá-lo como um comentário quase metalinguístico feito pelo experiente diretor Paul Schrader, que financiou o projeto através de crowdfunding: o Cinema clássico hollywoodiano – seja em seu modelo de produção ou em suas ambições artísticas – está morto ou quase; é hora de reinventá-lo ou de perecer com ele. E é isto que Schrader parece estar tentando fazer aqui com seu modelo de produção super-ultra-hiper-independente, mesmo falhando relativamente nos aspectos artísticos de sua obra.


Escrito por Bret Easton Ellis (responsável pelos livros que originaram Psicopata Americano e Regras da Atração), Vale do Pecado acompanha um triângulo amoroso composto pela bela e problemática Tara (Lohan), pelo milionário Christian (Deen) e pelo aspirante a ator Ryan (Funk). Morando com Christian há cerca de um ano, a garota insiste para que este escale Ryan no filme de terror B que o namorado está financiando apenas para provar ao pai que está fazendo algo de produtivo na vida e sem revelar que tem um interesse oculto nisso, já que, há três anos, ela e o ator mantiveram um relacionamento. Não demora muito, porém, para que Christian descubra o envolvimento entre Tara e Ryan, o que desperta impulsos perigosos no já naturalmente agressivo rapaz.

Personagem típico de Elis em sua natureza niilista, Christian (o nome é de um simbolismo tolo) é encarnado como um tipo antipático e unidimensional pelo péssimo James Deen, astro pornô que Schrader escalou sabe-se lá por quê. Ao contrário do que ocorreu com Sasha Grey em Confissões de uma Garota de Programa, que oferecia uma performance convincente e reveladora, Deen jamais parece se descolar dos trejeitos de garanhão profissional, ignorando que seu personagem não é apenas obcecado por experiências sexuais, trazendo também traços de sociopatia que deveriam ser explorados com mais eficiência. E se Nolan Gerard Funk, como Ryan, consegue rivalizar com Deen em inexpressividade, Lindsay Lohan finalmente parece preocupada em demonstrar os talentos que a transformaram em uma estrela há tantos anos, já que confere ansiedade e angústia a Tara, retratando bem a divisão da garota entre o que sente pelo ex-namorado e o conforto material que finalmente conseguiu alcançar com o atual – e a cena na qual ela explica isto para Ryan, em um shopping, é provavelmente um dos melhores momentos da carreira da atriz.

É uma pena, portanto, que o roteiro de Ellis se mostre tão frágil, limitando-se a enfocar as obsessões de Christian (eventualmente transformando-o em um monstro completo) e Ryan, que se mostra incapaz de respeitar os desejos de Tara ao forçar sua presença na vida da moça. Sim, há uma dinâmica interessante entre os personagens de Deen e Lohan no que diz respeito às mentiras constantes que contam um para o outro, sempre tentando forçar-se mutuamente a uma postura defensiva, mas este é um elemento menor dentro da narrativa e, consequentemente, longe de ser suficiente para torná-la envolvente.

Prejudicado também pela fotografia digital absolutamente medíocre de John DeFazio, Vale do Pecado não faz jus nem à carreira de Paul Schrader nem ao talento aqui demonstrado por Lindsay Lohan (embora sim à sua carreira problemática), mas é suficientemente eficaz para provar que ambos ainda têm potencial para trabalhos muito melhores do que este.

Texto originalmente publicado como parte da cobertura do Festival do Rio 2013.

3 de Outubro de 2013

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

Para dar uma nota para este filme, você precisa estar logado!