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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
08/04/2010 01/01/1970 4 / 5 / 5
Distribuidora
Carabina Filmes

Direção

Carlos Canela , Duke

O Homem Roxo
O Homem Roxo

Dirigido por Carlos Canela e Duke.

A primeira coisa que notamos no protagonista (e personagem-título) de O Homem Roxo, documentário dirigido por Carlos Canela e pelo chargista Duke, é sua fragilidade física. Magro, pálido e com dedos ossudos que terminam nas típicas pontas inchadas e roxas de um paciente vítima de cardiopatia crônica, Fernando Fiúza surge deitado em seu quarto de hospital como se à beira da morte.


E é então que ele abre seu largo sorriso e se põe a contar sobre sua estratégia para conseguir burlar a natureza insossa da comida do hospital.

Esta abertura, aliás, parece surgir, à primeira vista, como o primeiro grande problema em potencial do filme: por que, afinal, os diretores devotam tanto tempo a um monólogo irrelevante sobre a idéia de Fiúza de guardar a carne do almoço para colocá-la no pão do lanche, fazendo um sanduíche que traz algum sabor ao seu dia? Será que os realizadores, cegos pela admiração provocada pela personalidade do retratado, se deixarão levar por qualquer besteira que este diga, considerando até mesmo os relatos mais tolos como pérolas de sabedoria?

Felizmente, logo a abordagem de Canela e Duke é justificada quando compreendemos que, afinal, é justamente o talento de Fernando Fiúza para achar graça no prosaico que o torna tão especial. Como um homem que "nasceu para morrer" (como é descrito por uma de suas amigas), passando toda a existência sabotado pelo próprio coração defeituoso, pode encontrar tanta alegria em tudo que o cerca? Seria esta sua insistência em rir do absurdo da própria situação um sinal de negação da própria condição?

A resposta a esta última pergunta eventualmente se torna clara (e voltarei a ela), mas o fato é que, justamente por se manter tão vivo (literal e figurativamente), Fernando Fiúza construiu uma trajetória admirável: apaixonado pelo desenho desde criança, transformou a brincadeira infantil em profissão, tornando-se um artista plástico expressivo; levado pelo impulso de fotografar uma amiga que dormia ao sol, descobriu-se um fotógrafo capaz de brincar com a luz de maneira mágica; dominado pelo próprio amor à Arte e aos amigos, fracassou em converter todo seu sucesso profissional em riqueza material.

Mas a fortuna que não se encontrava no banco surgia de forma abundante em sua felicidade inabalável, em sua insistência em experimentar a vida enquanto contrariava as recomendações de cautela de seus médicos. Amparado pela mãe que acertou ao jamais tratá-lo de forma diferente em relação aos irmãos e por um pai que, sofrendo pelo filho, transformou sua dedicação a este em missão de vida, Fiúza deixou um legado artístico repleto de fôlego e beleza – mas, mais do que isso, deixou também uma galeria de amigos apaixonados por sua energia e alegria.

E é justamente ao levar o espectador a compreender esta essência especial de Fernando Fiúza que O Homem Roxo se torna tão bem-sucedido na tarefa de desvendar o segredo que levou o garoto doente a desafiar todos os prognósticos pessimistas dos médicos e a viver quase seis décadas repletas de aventuras, experiências e Arte: longe de ser um esforço de negação, foi sua capacidade de ser feliz apesar de sua precoce sentença de morte que manteve este personagem admirável vivo por tanto tempo.

8 de Abril de 2010

Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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