Datas de Estreia: | Nota: | ||
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Brasil | Exterior | Crítico | Usuários |
03/08/2017 | 01/01/1970 | 2 / 5 | / 5 |
Distribuidora | |||
Vitrine Filmes | |||
Duração do filme | |||
88 minuto(s) |
Dirigido por Davi Pretto. Roteiro de Davi Pretto e Richard Tavares. Com: Dione Ávila de Oliveira, Sofia Ferreira, Evaristo Pimentel Goularte, Francisco Fabrício Dutra dos Santos e Andressa Nogueira Goularte.
Há um filme melhor escondido em algum lugar de Rifle, coprodução entre Brasil e Alemanha dirigida pelo brasileiro Davi Pretto e ambientada nos pampas gaúchos. É ali que mora o jovem Dione (Oliveira), que quase não diz nada e, quando diz, é com uma voz mansa mais apropriada a um adolescente do que a um adulto. Morando nas terras de uma família que possui uma pequena propriedade, ele ajuda o dono a cuidar do local enquanto mantém um namorico com a filha deste. Porém, quando grandes plantadores de soja começam a comprar todas as fazendas por ali, Dione vê seu cotidiano ameaçado e, armado com um velho rifle, passa a caminhar pela região atirando em carros que cruzam a estrada.
A linguagem pausada, meditativa, lenta, empregada pelo cineasta é, em sua essência, a correta: é importante que sintamos a cadência da vida do protagonista e dos demais habitantes locais. No entanto, Pretto vai (muito) além e, no processo, confunde o contemplativo com a mais pura autoindulgência. Aliás, é curioso que, ao falar sobre Pendular (outro longa brasileiro exibido na mesma edição do Festival de Berlim na qual vi Rifle), eu tenha abordado o impulso artístico de se expressar mesmo quando não se tem nada a dizer – e em vários pontos deste filme, a sensação é exatamente esta: a de que o diretor está tateando no escuro em busca de um significado.
O frustrante é que o longa tem sua parcela de bons momentos: já o plano inicial, que traz Dione apagando uma mensagem riscada no tronco de uma árvore, é sugestiva e promissora. Infelizmente, por mais que o roteiro sugira algo no passado do rapaz (mesmo não se interessando muito em explorar este algo), Dione é simplesmente desinteressante – e o pouco que descobrimos a seu respeito é apenas tolo. Por outro lado, ele é cercado por figuras bem mais intrigantes, do seu patrão ao lendário Mariano, que possui um modo curioso de se expressar (“Eu não sou de raça morredeira”, ele diz, em sua curta aparição).
Além disso, há aspectos narrativos de Rifle que merecem créditos, desde a bela fotografia de Glauco Firpo, que explora bem as locações, ao design de som de Marcos Lopes e Tiago Bello, que sugerem a atmosfera pacífica, quase idílica, da qual Dione não quer abrir mão (além disso, há instantes particularmente inspirados, como aquele em que o som do arame de uma cerca é absorvido pela trilha sonora e transformado em um pequeno tema).
Mas Dione não apenas é um protagonista desinteressante como também antipático – e seu hábito de atirar em inocentes não o torna mais atraente, por maior que seja o simbolismo que o filme tente atribuir a isso. Para completar, os extensos planos que o trazem caminhando lentamente são, como já dito, irritantemente autoindulgentes.
Não costumo ser o mais impaciente dos espectadores, mas há um limite para a quantidade de tempo que estou disposto a passar acompanhando um jovem psicopata (alegórico ou não) andando calado de um lado para outro.
Texto originalmente publicado durante a cobertura do Festival de Berlim 2017.
14 de Fevereiro de 2017
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