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Críticas por Pablo Villaça

Datas de Estreia: Nota:
Brasil Exterior Crítico Usuários
24/08/2017 06/04/2017 2 / 5 / 5
Distribuidora
Mares Filmes
Duração do filme
102 minuto(s)

Bye-bye, Germany
Es war einmal in Deutschland...

Dirigido por Sam Garbarski. Roteiro de Michel Bergmann e Sam Garbarski. Com: Moritz Bleibtreu, Antje Traue, Tim Seyfi, Mark Ivanir, Anatole Taubman, Jeanne Werner, Hans Löw, Pál Mácsai, Václav Jakoubek.

Um dos fatores que tornam eventos como os festivais de Berlim, Cannes e Sundance tão interessantes é o fato de seus filmes serem inéditos, de estarem sendo expostos mundialmente ao público pela primeira vez. Aliás, justamente por isso, é relativamente comum que muitos destes títulos cheguem às suas premières sem distribuidores associados, já que estes usam a reação do público como termômetro para o interesse que a obra poderá gerar e, consequentemente, seu potencial comercial.


Não foi isto que ocorreu com Bye-Bye, Germany, que já surgiu na tela em sua primeira sessão em Berlim com a vinheta da Warner como distribuidora nos Estados Unidos. Aliás, depois de assistir ao filme, tornou-se fácil entender o motivo, já que se trata de uma daquelas produções que, trazendo a história (supostamente) real de um sobrevivente do Holocausto, é contada de maneira leve o bastante para não deprimir o público, aumentando seu apelo – e o fato de isto prejudicá-la parece ser irrelevante.

Dirigido por Sam Garbarski a partir de um roteiro que co-escreveu com Michel Bergmann, o longa gira em torno de David Berman (Bleibtreu), que solicita uma licença para abrir uma loja na Alemanha pós-Guerra, como era direito de todo judeu, mas se surpreende ao receber uma recusa. Para contornar o problema, ele reúne um grupo de conhecidos e passa a vender lençóis, toalhas e itens similares para famílias alemãs. E por que alemãs? Porque as táticas de venda adotadas frequentemente cruzam a fronteira do golpe, o que eles justificam moralmente como sendo uma espécie de “vingança judia”. Ao mesmo tempo, o protagonista passa a ser interrogado por uma oficial do exército norte-americano, Sara (Traue), e descobre estar sendo investigado sob a suspeita de ter colaborado com os nazistas.

A partir disso, o filme passa a ser estruturado em torno da série de depoimentos durante os quais David revela como seu talento para contar piadas não apenas salvou sua vida como o colocou suficientemente próximo a Hitler para imaginar a possibilidade de matá-lo (e por isso ressalto o “supostamente”). Aliás, um dos problemas de Bye-Bye, Germany diz respeito justamente à falha lógica da qual o roteiro depende para desenvolver sua narrativa, já que as conversas entre David e Sara são interrompidas com tanta frequência, para que possam durar toda a projeção, que o depoimento se arrasta implausivelmente pelo que parecem ser semanas.

Mas o maior problema da obra é o conflito entre seu desejo de ser leve o bastante para divertir o público e seus esforços constantes para exibir gravitas – uma contradição que o condena a falhar em ambos os propósitos. Mas se as tentativas de humor são infantis (como a “piada” recorrente que traz o protagonista arrumando com cuspe os cabelos de um colega, mas sempre fracassando em domar uma mecha), acabam se revelando suficientes para eliminar completamente o peso dramático em potencial de incidentes que deveriam emocionar, como o suicídio de um conhecido de David ou seu reencontro com um oficial que comandava o campo no qual foi mantido.

E por mais que o filme tente manter o espectador incerto acerca da verdade por trás das histórias do sujeito, estas tentativas jamais convencem, eliminando, com isso, a última chance de complexidade do projeto.

Texto originalmente publicado como parte da cobertura do Festival de Berlim 2017.

09 de Fevereiro de 2017

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Pablo Villaça, 18 de setembro de 1974, é um crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

 

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